O dilema Shein: produção questionável vs. inclusão dos corpos
A gigante do fast fashion segue em ascensão e mostra-se inclusiva, em meio à falta de transparência sobre processos de fabricação e casos de plágio
André Lopes
Publicado em 2 de janeiro de 2023 às 16h42.
Última atualização em 2 de janeiro de 2023 às 16h43.
*Por Nicoly França
É inegável o sucesso que a Shein alcança no Brasil. A gigante chinesa fatura R$ 2 bilhões aqui no país e lidera uma onda de consumo por importação que se vale, principalmente, da rapidez com que as compras internacionais chegam no país. Porém, há várias questões contraditórias em torno desse sucesso. O primeiro, e mais notável, é que a empresa segue o conceito de fast fashion ao extremo, com peças a preços baixos e novas coleções a todo momento, o que incentiva o consumismo. E a falta de transparência sobre a produção traz dúvidas ao consumidor sobre seus compromissos com os trabalhadores e com o meio ambiente.
Por outro lado, ela também se mostra como uma das únicas marcas de fato inclusivas, com opções para todos os tipos de corpos, com números maiores, característica que a coloca à frente de outras grifes. A grade de tamanhos da Shein vai até o 5XG, equivalente a um 58, enquanto de outras marcas brasileiras que se posicionam como plus size vão até o número 54. A característica gera apelo com o público e assim, não por acaso, influenciadoras digitais e consumidoras usam a hashtag #sheinplussize, onde divulgam conteúdos com as peças de tamanhos maiores e promovem a marca chinesa.
Mas, de volta ao lado negativo da fabricante, há ainda um estigma sobre o design das peças. A marca já recebeu diversas acusações de plágio de concorrentes, alguns conhecidos pela originalidade de seus desenhos e outros nem tão isentos como a Zara. No caso mais recente, vindo de uma marca independente brasileira, a Jouer Culture, a gigante chinesa copiou estampas de forma idêntica e recebeu o escrutínio da internet, principalmente por tratar-se de uma marca pequena.
Ao lado da má fama, corre uma hashtag chamada “ #SheinStoleMyDesign ” que já soma mais de 9 milhões de visualizações no TikTok, que aglomera acusações de plágio da marca. Junto disso, entra no pacote de críticas a qualidade das peças que, ao depender da linha, apresentam acabamento de baixíssima qualidade.
Na contramão do modelo Shein, convido o leitor a conhecer o Desavesso, canal de conteúdo idealizado pela autora deste texto, junto da jornalista Mafer Teixeira. Temos uma série de vídeos chamada “ Parece Shein, mas é de brechó ”, onde o espectador aprende que é possível garimpar peças parecidas, mas de qualidade muito maior, com o preço de brechó.
Com relação à sustentabilidade, ainda há pouca transparência da marca sobre seus processos de produção, matérias-primas, descartes e condições de trabalho. Além de outras problemáticas, como cada peça vir com uma embalagem plástica.
Justamente por receber tantos questionamentos e os consumidores se mostrarem preocupados com essas questões, a Shein lançou um relatório de sustentabilidade neste ano, onde se comprometeu a reduzir em 25% as emissões em sua cadeia de suprimentos até 2030, entre outras metas relacionadas ao meio ambiente.
LEIA TAMBÉM: A Shein consegue ser gigante, barata e sustentável ao mesmo tempo?
O que pesa mais? Suas práticas contraditórias ou o importante papel de inclusão que ela desempenha? Fica difícil responder a essa questão e, por enquanto, a decisão recai sobre a escolha do consumidor, que decide ou não investir o seu dinheiro em uma marca que produz uma moda praticamente descartável.
Um sinal sobre para onde vai essa decisão já se apresenta no tamanho da Shein. A empresa já é avaliada em mais de US$ 100 bilhões, segundo o provedor de dados CB Insights. Além disso, em 2022, a varejista foi considerada a marca de moda mais popular do mundo, segundo as buscas no Google em 113 países, superando a Nike e a Zara.
*Nicoly França é produtora de conteúdo digital sobre moda consciente e sustentável e cocriadora do Desavesso.
*Por Nicoly França
É inegável o sucesso que a Shein alcança no Brasil. A gigante chinesa fatura R$ 2 bilhões aqui no país e lidera uma onda de consumo por importação que se vale, principalmente, da rapidez com que as compras internacionais chegam no país. Porém, há várias questões contraditórias em torno desse sucesso. O primeiro, e mais notável, é que a empresa segue o conceito de fast fashion ao extremo, com peças a preços baixos e novas coleções a todo momento, o que incentiva o consumismo. E a falta de transparência sobre a produção traz dúvidas ao consumidor sobre seus compromissos com os trabalhadores e com o meio ambiente.
Por outro lado, ela também se mostra como uma das únicas marcas de fato inclusivas, com opções para todos os tipos de corpos, com números maiores, característica que a coloca à frente de outras grifes. A grade de tamanhos da Shein vai até o 5XG, equivalente a um 58, enquanto de outras marcas brasileiras que se posicionam como plus size vão até o número 54. A característica gera apelo com o público e assim, não por acaso, influenciadoras digitais e consumidoras usam a hashtag #sheinplussize, onde divulgam conteúdos com as peças de tamanhos maiores e promovem a marca chinesa.
Mas, de volta ao lado negativo da fabricante, há ainda um estigma sobre o design das peças. A marca já recebeu diversas acusações de plágio de concorrentes, alguns conhecidos pela originalidade de seus desenhos e outros nem tão isentos como a Zara. No caso mais recente, vindo de uma marca independente brasileira, a Jouer Culture, a gigante chinesa copiou estampas de forma idêntica e recebeu o escrutínio da internet, principalmente por tratar-se de uma marca pequena.
Ao lado da má fama, corre uma hashtag chamada “ #SheinStoleMyDesign ” que já soma mais de 9 milhões de visualizações no TikTok, que aglomera acusações de plágio da marca. Junto disso, entra no pacote de críticas a qualidade das peças que, ao depender da linha, apresentam acabamento de baixíssima qualidade.
Na contramão do modelo Shein, convido o leitor a conhecer o Desavesso, canal de conteúdo idealizado pela autora deste texto, junto da jornalista Mafer Teixeira. Temos uma série de vídeos chamada “ Parece Shein, mas é de brechó ”, onde o espectador aprende que é possível garimpar peças parecidas, mas de qualidade muito maior, com o preço de brechó.
Com relação à sustentabilidade, ainda há pouca transparência da marca sobre seus processos de produção, matérias-primas, descartes e condições de trabalho. Além de outras problemáticas, como cada peça vir com uma embalagem plástica.
Justamente por receber tantos questionamentos e os consumidores se mostrarem preocupados com essas questões, a Shein lançou um relatório de sustentabilidade neste ano, onde se comprometeu a reduzir em 25% as emissões em sua cadeia de suprimentos até 2030, entre outras metas relacionadas ao meio ambiente.
LEIA TAMBÉM: A Shein consegue ser gigante, barata e sustentável ao mesmo tempo?
O que pesa mais? Suas práticas contraditórias ou o importante papel de inclusão que ela desempenha? Fica difícil responder a essa questão e, por enquanto, a decisão recai sobre a escolha do consumidor, que decide ou não investir o seu dinheiro em uma marca que produz uma moda praticamente descartável.
Um sinal sobre para onde vai essa decisão já se apresenta no tamanho da Shein. A empresa já é avaliada em mais de US$ 100 bilhões, segundo o provedor de dados CB Insights. Além disso, em 2022, a varejista foi considerada a marca de moda mais popular do mundo, segundo as buscas no Google em 113 países, superando a Nike e a Zara.
*Nicoly França é produtora de conteúdo digital sobre moda consciente e sustentável e cocriadora do Desavesso.