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Mas afinal, o que realmente muda com a chegada do PIX?

No sistema mais aberto, interligado e instantâneo, a segurança será fundamental para as instituições financeiras

PIX: plataforma de pagamentos instantâneos do Banco Central permite transações 24 horas por dia (Victor Prilepa/Exame/Getty Images)
PIX: plataforma de pagamentos instantâneos do Banco Central permite transações 24 horas por dia (Victor Prilepa/Exame/Getty Images)
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Opinião

Publicado em 28 de agosto de 2020 às, 16h06.

O sistema de pagamentos instantâneos (SPI) brasileiro entrará em funcionamento em novembro, e com ele teremos um novo meio de pagamentos e transferências, o PIX, que tem o potencial de mudar profundamente o panorama da indústria de pagamentos no Brasil. Mas por que ele é tão diferente dos outros meios de pagamento existentes?

Em primeiro lugar, o PIX é instantâneo e a transação estará disponível 24 horas por dia e 365 dias por ano. Em segundo lugar, o PIX terá um custo de transação muito inferior ao dos nossos conhecidos DOCs, TEDs, e das transações com cartão. Para as pessoas que efetuam compras em lojas on-line, isto permitirá obter descontos que hoje só são dados aos pagamentos via boleto bancário, sem a inconveniência de ter que se esperar um ou dois dias até que o pagamento seja compensado e conciliado. Para o lojista, esse movimento implicará em mais vendas, uma vez que a opção de pagamentos via boleto provoca um alto percentual de desistência das compras e, nestes casos, o estoque do produto em questão fica reservado durante dias, sem que outra pessoa possa comprá-lo.

Mas o PIX vai além. Nas transferências entre pessoas ou empresas, é necessário hoje informar o número do banco, da conta corrente, e do CPF ou CNPJ. Isto torna a transação complexa para muitas pessoas, que acabam preferindo fazer as transações em dinheiro. O PIX permitirá que as transferências ocorram com apenas uma  informação: o número do celular, o endereço de e-mail, ou o CPF ou CNPJ do recebedor. Com isso, bancos e instituições de pagamentos poderão criar experiências extremamente simples para os seus clientes, permitindo a inclusão de usuários com pouca familiaridade no uso de tecnologia. Associado ao baixo custo das transações, esta característica do PIX, tem o potencial de incluir dezenas de milhões de brasileiros no mercado financeiro, sendo um substituto natural ao uso do dinheiro. E os pagamentos serão apenas a porta de entrada deste público, que passará a ter acesso a produtos financeiros como crédito, financiamentos, seguros, entre tantos outros.

O PIX também unificará os diversos QR codes de pagamentos e com isto permitirá que os usuários de aplicativos de pagamentos consigam transacionar com todos os milhões de varejistas do Brasil, desde vendedores ambulantes, até grandes redes de supermercados, pagando suas compras com QR code gerado ou capturado no seu aplicativo.

Vale destacar que o sistema de pagamentos instantâneos também é inclusivo no que tange às instituições que poderão participar. Já temos atualmente mais de 800 instituições inscritas junto ao Banco Central entre as diretas (aquelas que estarão diretamente conectadas ao SPI) e indiretas (aquelas que estarão conectadas a uma instituição direta). Com isto, o ecossistema de pagamentos se tornará extremamente dinâmico unindo bancos, instituições de pagamentos, fintechs, big techs, varejistas e grandes indústrias, entre outras modalidades de participantes. Uma pessoa ou empresa poderá escolher concentrar seu relacionamento financeiro em qualquer um destes participantes, transacionando livremente com todos ou outros participantes do mercado, uma vez que o sistema será totalmente interligado.

Esta característica, entretanto, trará um desafio importante ao sistema: a sua segurança. As grandes instituições financeiras investem anualmente bilhões de reais para proteger seus sistemas de ataques cibernéticos e para proteger seus clientes contra fraudes, além de dispender uma enorme energia para comunicar e educar os clientes para que se protejam contra os ataques conhecidos como engenharia social, nos quais o próprio cliente dá acesso a seus dados aos criminosos.

Em um sistema mais aberto, interligado e instantâneo, a segurança será fundamental, não só no nível do sistema central de pagamentos, gerido pelo Banco Central, mas também no nível de cada participante. Uma falha de segurança em um participante, poderá comprometer os recursos dos seus clientes e a confiança do público no sistema como um todo.

Unindo as características de agilidade e conveniência, inerentes ao PIX, com experiências simples e seguras que poderão ser providas por cada participante do sistema, o PIX tem o potencial de transformar profundamente o panorama do mercado financeiro brasileiro nos próximos anos.

*Carlos Eduardo Peyser é diretor de estratégia de PMEs e open banking do Itaú Unibanco