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Lideranças negras: inclusão que gera valor e transforma empresas

Fato é que a promoção da equidade racial exige mudanças profundas na cultura organizacional

Publicado em 20 de novembro de 2025 às 13h00.

Por Mario Jorge*

O Brasil carrega um grande desafio: a baixa representatividade de pessoas negras nos espaços de poder. Apesar de formarem a maioria da população, ter pessoas pretas e pardas na liderança das empresas permanece exceção, revelando que as desigualdades históricas ainda se refletem no mundo corporativo, ocultando estruturas que perpetuam a exclusão.

Embora as pessoas negras representem cerca de 56% da população brasileira (IBGE), pesquisas evidenciam a distância do que se considera razoável na perspectiva da equidade e da inclusão. O Instituto Ethos, em estudo feito com 1.100 empresas brasileiras no ano passado, identificou apenas 6% de pessoas negras nos conselhos de administração e 14% na diretoria das corporações, enquanto a proporção de negros ultrapassa 60% em cargos de entrada, como estagiários e trainees.

Os dados demonstram que a desigualdade não é acidental, mas resultado de um contexto histórico que exige ações concretas que reconheçam a diversidade como valor estratégico para transformar e modernizar as estruturas corporativas.

Um ambiente de liderança diverso, que inclua pessoas negras, mulheres, LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência, neurodivergentes e outros marcadores sociais hoje minorizados, se beneficia de um espectro mais amplo de capacidade crítica e criativa. Isso amplia as perspectivas para a tomada de decisões que favorecem os negócios.

Fato é que a promoção da equidade racial exige mudanças profundas na cultura organizacional, reconhecendo que o combate ao racismo estrutural é uma responsabilidade coletiva. Há, portanto, a necessidade de ações intencionais de desenvolvimento profissional e oportunidades reais de ascensão na carreira. Também é essencial dar visibilidade a exemplos inspiradores de profissionais negros bem-sucedidos, histórias que sirvam de referência para outras pessoas e mostrem aos jovens que, apesar dos desafios, há caminhos possíveis.

Para reduzir as desigualdades em seu corpo gerencial, a Petrobras estabeleceu, como meta, que 25% dos cargos de liderança sejam ocupados por pessoas negras até 2030. Para alcançar esse objetivo, a companhia vem implementando ações afirmativas, programas de mentoria, grupos de afinidade e iniciativas de sensibilização. Os avanços são visíveis: hoje, 24% das posições de chefia da Petrobras já estão ocupadas por homens e mulheres negras, o que sinaliza, inclusive, a oportunidade de antecipar o alcance da meta.

Por meio de seu Programa de Equidade Racial, a Petrobras integra metas de representatividade ao seu planejamento estratégico e desenvolve iniciativas para promover uma cultura organizacional mais inclusiva. Além de prevenir riscos associados à discriminação racial em suas operações, a empresa atua também na cadeia de fornecedores, estimulando boas práticas de equidade racial. Desde 2023, os concursos públicos da Petrobras reservam 20% das vagas para pessoas negras e 20% para pessoas com deficiência. Em 2024, a empresa encerrou o ano com 32% de empregados autodeclarados negros.

Para incentivar a progressão de carreira desses profissionais, a empresa criou o Programa Mentoria Negritudes Petrobras, voltado ao desenvolvimento de atuais e futuros líderes. A primeira edição, realizada entre 2024 e 2025, reuniu 40 duplas de mentores e mentorados em workshops, treinamentos, palestras e encontros com especialistas, fortalecendo competências de liderança e gestão. Iniciativas como essas mostram que é possível reduzir desigualdades raciais dentro das grandes corporações, assumindo o protagonismo na promoção da diversidade e inspirando outras organizações a seguirem o mesmo caminho.

Romper com a lógica da exclusão é condição para uma democracia real. Se pessoas negras continuam enfrentando barreiras à inserção e à ascensão profissional, cabe hoje às organizações agir de forma proativa.

Os compromissos da Petrobras com a equidade racial são motivados pela convicção de que promover a diversidade não é apenas uma meta corporativa, mas a firme intenção de derrubar estruturas históricas que limitam oportunidades. Ao investir em ações afirmativas, a companhia reafirma seu protagonismo na construção de um Brasil cada vez mais próspero. Esse é o jeito de ser da Petrobras, refletido em seus valores como a inovação, o cuidado com as pessoas e o comprometimento de seus empregados com o País.

 

*Mario Jorge é gerente executivo de Estratégia e Planejamento da Petrobras desde 2024. Na companhia, já foi gerente executivo de Desempenho Empresarial e gerente executivo de Controladoria. É engenheiro e mestre em administração.