Jojo Todynho: deu um tiro no preconceito e se tornou a nova milionária brasileira
Ela costuma dizer o que pensa, tem um senso crítico afiado fruto da vida que sempre levou repleta de preconceito, racismo, sexismo e violência
Daniel Salles
Publicado em 30 de dezembro de 2020 às 10h13.
Última atualização em 30 de dezembro de 2020 às 10h14.
Gorda, preta, funkeira, língua presa, periférica, favelada, evangélica, “sem cultura”, quando fala mata as regras da língua portuguesa: erra concordâncias verbais e nominais. Grotesco não? Mas ela é ela: a nova versão antropofágica nacional.
Jojo causa repulsa por ser exatamente tudo aquilo que a sociedade quer esconder e hostilizar.
Mas diferente do que normalmente acontece, transformou o estigma em força para sobreviver, e ao invés de se esconder ela mostrou tudo. Tudo mesmo.
Costuma dizer o que pensa, fala a real, direta e reta, tem um senso crítico afiado fruto da vida que sempre levou e assistiu de camarote repleta de preconceito, racismo, sexismo, violência.
Aprendeu pela experiência que precisava tomar uma atitude para não ser dragada por uma sociedade que trata as maiorias como minorias, que ainda leva pro tronco e bate.
Por isso, usou as redes sociais para falar, expor as contradições do país, tudo isso com uma grande dose de razão e emoção, conectadas.
Se você não a conhece, deveria. Sempre acompanhei em real time sua reação aos capítulos das novelas, vibrei quando apareceu glamourosa na revista Vogue e na campanha do Ifood fazendo uma paródia com seu sucesso “Que tiro foi esse”. E a cada conquista ela vibrava, chorava e dividia suas pequenas-grandes vitórias com os seguidores. Jojo riu e chorou junto o Brasil de verdade todo tipo de alergia e represália e não se calou.
Jojo tem 20 e poucos anos mas possui uma sabedoria de uma sexagenária experimentada e castigada pela dura vida.
No entanto, antes de enxergar apenas o lado vazio do copo, ela viu o lado cheio e bebeu em uma golada só, depois sorriu para a câmera e disse como era gostoso ENGOLIR TODO PRECONCEITO que encontrava e buscou inspirar seus iguais, grande parte da população brasileira.
Ao participar do reality A Fazenda da TV Record, conseguiu mostrar que seus vídeos do Instagram não eram fake e sim pequenas amostras da vida como ela é.
Uma mulher que é fruto do lugar que veio, Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro, e que demonstrou uma sensatez inigualável, por vezes mediadora de conflitos e em outras o motivo deles. Corpulenta, roupa miúda, exagerada na exuberância do corpo, das palavras, na maquiagem.
Jojo é o que o Brasil não quer ser, mas é. Cafona, exagerado, extravagante controverso e singular. Tudo isso misturado a uma história que mistura fatos e eventos, representações de uma nação que não gostaríamos de ser, mas somos.
No entanto, o que Jojo tem a nos ensinar?
Ela possui um orgulho próprio que nosso país, inclusive as camadas médias tradicionais e elites intelectuais precisam aprender a ter, e com urgência. Ser quem somos em uma relação antropofágica.
Quem venceu o reality show foi uma brasileira, pertencente às maiorias invisibilizadas, o “grotesco” que encontramos em todas as esquinas Brasil afora.
Diante de todo esse tsunami chamado Jojo Todynho, no final das contas quem levou o prêmio foi a AUTENTICIDADE RESILIENTE chamada Jordana Gleice, que não desistiu de ser quem é.
Exemplo disto está em suas primeiras palavras ao vivo quando ainda emocionada recebeu o prêmio do apresentador: pediu licença a audiência do programa e fez uma oração seguido por um louvor cantado à capela.
Parabéns Jojo. Merecido.
Hilaine Yaccoub é doutora e mestre em Antropologia do Consumo. Atua como palestrante e consultora, realizando estudos que promovem ligação entre o mercado consumidor, o conhecimento acadêmico e as empresas. Para seguir nas redes sociais: @hilaine
Gorda, preta, funkeira, língua presa, periférica, favelada, evangélica, “sem cultura”, quando fala mata as regras da língua portuguesa: erra concordâncias verbais e nominais. Grotesco não? Mas ela é ela: a nova versão antropofágica nacional.
Jojo causa repulsa por ser exatamente tudo aquilo que a sociedade quer esconder e hostilizar.
Mas diferente do que normalmente acontece, transformou o estigma em força para sobreviver, e ao invés de se esconder ela mostrou tudo. Tudo mesmo.
Costuma dizer o que pensa, fala a real, direta e reta, tem um senso crítico afiado fruto da vida que sempre levou e assistiu de camarote repleta de preconceito, racismo, sexismo, violência.
Aprendeu pela experiência que precisava tomar uma atitude para não ser dragada por uma sociedade que trata as maiorias como minorias, que ainda leva pro tronco e bate.
Por isso, usou as redes sociais para falar, expor as contradições do país, tudo isso com uma grande dose de razão e emoção, conectadas.
Se você não a conhece, deveria. Sempre acompanhei em real time sua reação aos capítulos das novelas, vibrei quando apareceu glamourosa na revista Vogue e na campanha do Ifood fazendo uma paródia com seu sucesso “Que tiro foi esse”. E a cada conquista ela vibrava, chorava e dividia suas pequenas-grandes vitórias com os seguidores. Jojo riu e chorou junto o Brasil de verdade todo tipo de alergia e represália e não se calou.
Jojo tem 20 e poucos anos mas possui uma sabedoria de uma sexagenária experimentada e castigada pela dura vida.
No entanto, antes de enxergar apenas o lado vazio do copo, ela viu o lado cheio e bebeu em uma golada só, depois sorriu para a câmera e disse como era gostoso ENGOLIR TODO PRECONCEITO que encontrava e buscou inspirar seus iguais, grande parte da população brasileira.
Ao participar do reality A Fazenda da TV Record, conseguiu mostrar que seus vídeos do Instagram não eram fake e sim pequenas amostras da vida como ela é.
Uma mulher que é fruto do lugar que veio, Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro, e que demonstrou uma sensatez inigualável, por vezes mediadora de conflitos e em outras o motivo deles. Corpulenta, roupa miúda, exagerada na exuberância do corpo, das palavras, na maquiagem.
Jojo é o que o Brasil não quer ser, mas é. Cafona, exagerado, extravagante controverso e singular. Tudo isso misturado a uma história que mistura fatos e eventos, representações de uma nação que não gostaríamos de ser, mas somos.
No entanto, o que Jojo tem a nos ensinar?
Ela possui um orgulho próprio que nosso país, inclusive as camadas médias tradicionais e elites intelectuais precisam aprender a ter, e com urgência. Ser quem somos em uma relação antropofágica.
Quem venceu o reality show foi uma brasileira, pertencente às maiorias invisibilizadas, o “grotesco” que encontramos em todas as esquinas Brasil afora.
Diante de todo esse tsunami chamado Jojo Todynho, no final das contas quem levou o prêmio foi a AUTENTICIDADE RESILIENTE chamada Jordana Gleice, que não desistiu de ser quem é.
Exemplo disto está em suas primeiras palavras ao vivo quando ainda emocionada recebeu o prêmio do apresentador: pediu licença a audiência do programa e fez uma oração seguido por um louvor cantado à capela.
Parabéns Jojo. Merecido.
Hilaine Yaccoub é doutora e mestre em Antropologia do Consumo. Atua como palestrante e consultora, realizando estudos que promovem ligação entre o mercado consumidor, o conhecimento acadêmico e as empresas. Para seguir nas redes sociais: @hilaine