Integridade: o que te faz um líder
Aprendi que liderar pouco tem a ver com dons naturais, e muito tem a ver com os valores que adquirimos e pelos quais nos norteamos ao longo da vida
CEO da Zamp
Publicado em 21 de junho de 2024 às 15h42.
Quando pensamos em um líder, muitas vezes pensamos em uma pessoa agraciada com o dom da palavra, da persuasão, da imponência, bem como com o poder de comandar os outros. Não que essas sejam ideias equivocadas: muitos dos grandes líderes que conheço de fato são excelentes oradores e comandantes. Ainda assim, não podemos dizer que a liderança se exaure nessas qualidades. Na minha experiência, aprendi que liderar pouco tem a ver com dons naturais, e muito tem a ver com os valores que adquirimos e pelos quais nos norteamos ao longo da vida. Um deles, e certamente um dos mais importantes, é a integridade.
Decisões são exigidas de nós cotidianamente no mercado de trabalho, seja qual for o nosso posto. Por vezes, as decisões que são colocadas à nossa disposição podem conflitar com nossos valores, e é nestes momentos que nossa integridade é posta à prova. Integridade não é apenas ser honesto e ter retidão, nem é agir conforme a sua verdade. Integridade é a coragem de dizer a verdade, e de fazer a coisa certa. A coragem de dizer a verdade era conhecida pelos antigos gregos como parresia, que pode ser entendida como franqueza, confiança ou, ainda mais importante, como a ousadia para falar em público. É fácil entender por que esse conceito era importante nas pólis gregas: filósofos eram figuras de grande sabedoria, os “influenciadores” originais, e tudo o que eles diziam recebia grande peso. Era essencial que eles, ao se dirigirem ao público em geral, tivessem compromisso com o que é verdadeiro. Agir com verdade é sempre um ato de ousadia.
Para um verdadeiro líder, a integridade é inescapável. É a diferença entre ser alguém com quem a sua equipe e empresa podem contar, ou ser apenas mais um gestor disposto a sacrificar os próprios valores por gratificações ou vantagens momentâneas.
Me lembro de um dia em que minha integridade foi posta à prova. Quando ainda era o CEO da Iron Mountain, na Espanha, conduzi o processo seletivo para uma vaga importante junto de um Diretor e a Diretora de RH. Depois de diversas fases e uma entrevista comigo, todos nós chegamos à conclusão de que a candidata Maria Calvo seria a melhor opção para o cargo. Maria recebeu as boas novas com alegria, e nós estávamos ansiosos para tê-la conosco na operação.
Poucos dias depois, Maria liga para a Diretora de RH e dá a ela uma grande notícia: ela estava grávida. Maria disse à Diretora que agradecia muito por ter sido escolhida para a vaga, mas que só poderia começar conosco uma relação profissional baseada em honestidade, e que mesmo arriscando a vaga, precisava nos contar sobre sua gravidez. À época, muitos anos atrás, ela sabia que isso poderia comprometer sua empregabilidade frente a muitas empresas, mas aceitou o risco para preservar sua integridade.
Logo depois da ligação, Diretora de RH e Diretor, ambos parte do processo seletivo, entram na minha sala enquanto discutem acaloradamente sobre a contratação. Pedi para que me contassem o que estava acontecendo para que eu pudesse opinar. “Maria Calvo está grávida”, disseram.
De um lado, eu tinha o Diretor que me dizia “Paulo, não podemos contratar a Maria – não agora. Temos grandes operações nos próximos meses, e não posso ficar sem ela. Preciso de alguém que não vai se afastar”. De outro, eu tinha a Diretora de RH dizendo “Paulo, Maria não precisava ter nos contado, mas contou assim mesmo. A honestidade dela tem que valer de alguma coisa! Esse é o tipo de colaborador que vale a pena termos!”
Sei que essa parece uma discussão irracional nos dias de hoje, mas era – infelizmente – um tipo de discussão comum há anos atrás. Tomei alguns momentos para absorver o que os meus diretores haviam me dito, e de pronto respondi. “Nós vamos contratar Maria Calvo”.
Não fiz isso porque eu era uma pessoa iluminada, com valores muito acima de outras pessoas. Nem mesmo fiz isso pensando no caso concreto de Maria Calvo, que era, com certeza, a pessoa mais apropriada para a vaga. Tomei essa decisão de coração tranquilo porque integridade foi um dos legados que meu pai, Seu Pedro, e minha mãe, Dona Delfina, deixaram para mim.
Integridade é fazer a coisa certa independente das consequências, e ter a coragem de assumir os conflitos que isso pode gerar. Seus valores são como uma bússola: eles só têm valia se sempre apontarem para o mesmo norte.
No caso que eu narrei, ainda tive a sorte de ganhar de brinde um forte relacionamento de confiança, e um excelente colaboradora. Maria era uma pessoa com quem eu sabia que podia contar em função da sua integridade, e eu sabia que essa confiança era recíproca. Fazer a coisa certa em si já é uma recompensa, mas felizmente, sempre há bônus.
Você consegue imaginar o que teria acontecido se eu tivesse ido pelo caminho contrário e recusado a contratação da Maria por um motivo tão pífio quanto uma gravidez? Eu teria perdido a oportunidade de contratar uma excelente colaboradora, a confiança de pessoas do meu time, e meu autorrespeito, ao violar os valores que recebi dos meus pais.
Se você quer ser um líder de verdade, seja ousado o suficiente para fazer a coisa certa, e tenha a coragem de defender os seus valores em público. É impossível esperar que o seu time aja com retidão se você, na primeira oportunidade, abandona o que diz defender. Ser uma pessoa íntegra dentro e fora dos espaços corporativos é o primeiro passo para que você desenvolva autoliderança, uma das qualidades imprescindíveis para todo o líder de sucesso.
Autoliderança é sobre conhecer seus limites, suas capacidades, e seus valores, e agir com os seus liderados de forma autêntica, genuína, verdadeira. Ninguém espera que você seja um super-herói infalível, incapaz de errar. As pessoas esperam que você seja um líder valoroso, que assume os próprios erros e, mesmo frente a consequências, segue na direção que acredita.
Tudo isso começa com a integridade. Há excelentes líderes com o dom da palavra, da persuasão e do comando. Há também excelentes líderes que, mesmo não sendo excelentes comunicadores, criam ótimos laços com os seus times, e entregam resultados. O que não há – ou, pelo menos, que eu nunca vi – são líderes sem integridade, sem valores, sem fibra moral. Qualquer pessoa que se encaixe nessa caixinha não passa de um gestor – e um que viverá sempre na corda bamba de suas escolhas questionáveis, sempre em risco de ser alcançado por seu próprio passado.
Quando pensamos em um líder, muitas vezes pensamos em uma pessoa agraciada com o dom da palavra, da persuasão, da imponência, bem como com o poder de comandar os outros. Não que essas sejam ideias equivocadas: muitos dos grandes líderes que conheço de fato são excelentes oradores e comandantes. Ainda assim, não podemos dizer que a liderança se exaure nessas qualidades. Na minha experiência, aprendi que liderar pouco tem a ver com dons naturais, e muito tem a ver com os valores que adquirimos e pelos quais nos norteamos ao longo da vida. Um deles, e certamente um dos mais importantes, é a integridade.
Decisões são exigidas de nós cotidianamente no mercado de trabalho, seja qual for o nosso posto. Por vezes, as decisões que são colocadas à nossa disposição podem conflitar com nossos valores, e é nestes momentos que nossa integridade é posta à prova. Integridade não é apenas ser honesto e ter retidão, nem é agir conforme a sua verdade. Integridade é a coragem de dizer a verdade, e de fazer a coisa certa. A coragem de dizer a verdade era conhecida pelos antigos gregos como parresia, que pode ser entendida como franqueza, confiança ou, ainda mais importante, como a ousadia para falar em público. É fácil entender por que esse conceito era importante nas pólis gregas: filósofos eram figuras de grande sabedoria, os “influenciadores” originais, e tudo o que eles diziam recebia grande peso. Era essencial que eles, ao se dirigirem ao público em geral, tivessem compromisso com o que é verdadeiro. Agir com verdade é sempre um ato de ousadia.
Para um verdadeiro líder, a integridade é inescapável. É a diferença entre ser alguém com quem a sua equipe e empresa podem contar, ou ser apenas mais um gestor disposto a sacrificar os próprios valores por gratificações ou vantagens momentâneas.
Me lembro de um dia em que minha integridade foi posta à prova. Quando ainda era o CEO da Iron Mountain, na Espanha, conduzi o processo seletivo para uma vaga importante junto de um Diretor e a Diretora de RH. Depois de diversas fases e uma entrevista comigo, todos nós chegamos à conclusão de que a candidata Maria Calvo seria a melhor opção para o cargo. Maria recebeu as boas novas com alegria, e nós estávamos ansiosos para tê-la conosco na operação.
Poucos dias depois, Maria liga para a Diretora de RH e dá a ela uma grande notícia: ela estava grávida. Maria disse à Diretora que agradecia muito por ter sido escolhida para a vaga, mas que só poderia começar conosco uma relação profissional baseada em honestidade, e que mesmo arriscando a vaga, precisava nos contar sobre sua gravidez. À época, muitos anos atrás, ela sabia que isso poderia comprometer sua empregabilidade frente a muitas empresas, mas aceitou o risco para preservar sua integridade.
Logo depois da ligação, Diretora de RH e Diretor, ambos parte do processo seletivo, entram na minha sala enquanto discutem acaloradamente sobre a contratação. Pedi para que me contassem o que estava acontecendo para que eu pudesse opinar. “Maria Calvo está grávida”, disseram.
De um lado, eu tinha o Diretor que me dizia “Paulo, não podemos contratar a Maria – não agora. Temos grandes operações nos próximos meses, e não posso ficar sem ela. Preciso de alguém que não vai se afastar”. De outro, eu tinha a Diretora de RH dizendo “Paulo, Maria não precisava ter nos contado, mas contou assim mesmo. A honestidade dela tem que valer de alguma coisa! Esse é o tipo de colaborador que vale a pena termos!”
Sei que essa parece uma discussão irracional nos dias de hoje, mas era – infelizmente – um tipo de discussão comum há anos atrás. Tomei alguns momentos para absorver o que os meus diretores haviam me dito, e de pronto respondi. “Nós vamos contratar Maria Calvo”.
Não fiz isso porque eu era uma pessoa iluminada, com valores muito acima de outras pessoas. Nem mesmo fiz isso pensando no caso concreto de Maria Calvo, que era, com certeza, a pessoa mais apropriada para a vaga. Tomei essa decisão de coração tranquilo porque integridade foi um dos legados que meu pai, Seu Pedro, e minha mãe, Dona Delfina, deixaram para mim.
Integridade é fazer a coisa certa independente das consequências, e ter a coragem de assumir os conflitos que isso pode gerar. Seus valores são como uma bússola: eles só têm valia se sempre apontarem para o mesmo norte.
No caso que eu narrei, ainda tive a sorte de ganhar de brinde um forte relacionamento de confiança, e um excelente colaboradora. Maria era uma pessoa com quem eu sabia que podia contar em função da sua integridade, e eu sabia que essa confiança era recíproca. Fazer a coisa certa em si já é uma recompensa, mas felizmente, sempre há bônus.
Você consegue imaginar o que teria acontecido se eu tivesse ido pelo caminho contrário e recusado a contratação da Maria por um motivo tão pífio quanto uma gravidez? Eu teria perdido a oportunidade de contratar uma excelente colaboradora, a confiança de pessoas do meu time, e meu autorrespeito, ao violar os valores que recebi dos meus pais.
Se você quer ser um líder de verdade, seja ousado o suficiente para fazer a coisa certa, e tenha a coragem de defender os seus valores em público. É impossível esperar que o seu time aja com retidão se você, na primeira oportunidade, abandona o que diz defender. Ser uma pessoa íntegra dentro e fora dos espaços corporativos é o primeiro passo para que você desenvolva autoliderança, uma das qualidades imprescindíveis para todo o líder de sucesso.
Autoliderança é sobre conhecer seus limites, suas capacidades, e seus valores, e agir com os seus liderados de forma autêntica, genuína, verdadeira. Ninguém espera que você seja um super-herói infalível, incapaz de errar. As pessoas esperam que você seja um líder valoroso, que assume os próprios erros e, mesmo frente a consequências, segue na direção que acredita.
Tudo isso começa com a integridade. Há excelentes líderes com o dom da palavra, da persuasão e do comando. Há também excelentes líderes que, mesmo não sendo excelentes comunicadores, criam ótimos laços com os seus times, e entregam resultados. O que não há – ou, pelo menos, que eu nunca vi – são líderes sem integridade, sem valores, sem fibra moral. Qualquer pessoa que se encaixe nessa caixinha não passa de um gestor – e um que viverá sempre na corda bamba de suas escolhas questionáveis, sempre em risco de ser alcançado por seu próprio passado.