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Herança esportiva: Continuando o legado iniciado pela rainha do basquete

Nos últimos dias acompanhei meu irmão, João Victor Marcari, que compete nas Olimpíadas de Paris, sendo o único brasileiro no adestramento

João Victor Marcari Oliva está competindo nas Olimpíadas de Paris (Redes Sociais/Reprodução)
João Victor Marcari Oliva está competindo nas Olimpíadas de Paris (Redes Sociais/Reprodução)

Cada Olimpíada carrega uma história e um sentimento especial. E na minha família isso é mais que um fato, já que a minha mãe, Hortência Marcari, foi uma das grandes estrelas do basquete nacional; meu irmão, João Victor Marcari, segue representando o Brasil no adestramento; e eu, Antônio Oliva, estive, ainda que por pouco tempo, no mesmo caminho com o Hipismo.

Nascer da esportista que foi considerada a Rainha do Basquete é uma responsabilidade e tanto, pois toda a trajetória e legado que minha mãe construiu ao longo dos seus 21 anos competindo, são depositados principalmente no João, já que eu segui caminhos diferentes. É uma cobrança muito maior por carregarmos o esporte no nosso DNA.

Eu e meu irmão começamos a montar respectivamente aos três e quatro anos de idade, influenciados pela paixão de nosso pai (José Victor Oliva) por cavalos lusitanos, que inclusive mantém até hoje uma criação da raça em um haras no interior de São Paulo. E ele, que é um empresário reconhecido no entretenimento nacional, foi o grande incentivador para que transformassemos o que até então era um hobbie, em uma paixão.

Na adolescência ganhamos nossa primeira competição, e desde então seguimos esse caminho com uma dedicação e foco sempre fora do comum, que resultou no meu irmão sendo campeão brasileiro por cinco vezes, e eu quatro. Mas o hipismo, com foco em adestramento, nunca foi um esporte visado no Brasil, e chegou um momento em que, se quiséssemos seguir como cavaleiros, precisávamos abdicar de muitas coisas para nos dedicarmos somente a isso.

E foi diante dessa decisão que mudaria para sempre a minha vida, que eu entendi que mesmo amando o montar, eu queria o hipismo como um estilo de vida. Voltei para a faculdade e comecei a me inserir no mercado do entretenimento, e meu irmão seguiu no esporte e mudou para a Europa, onde vive até hoje, se preparando e treinando diariamente para participar de grandes competições, sendo Paris 2024 a sua terceira Olimpíada (João competiu na Rio 2016 e em Tóquio 2020), que também seria a minha se eu tivesse continuado no mesmo caminho.

Hoje, vê-lo em um dos eventos mais importantes do esporte mundialmente, onde nossa mãe participou em 1992 (Barcelona) e 1996 (Atlanta), é um orgulho totalmente diferente. Não é apenas uma idolatria sobre alguém que está representando, lembrando que sozinho, um país. É a realização de um sonho dos meus pais, meu e das minhas irmãs e, principalmente, do próprio João, que inclusive já foi, por oito vezes consecutivas, o melhor atleta do Brasil dentro da modalidade que compete.

Os sentimentos de acompanhá-lo competir ficam ainda mais aflorados por saber tudo que ele precisou abandonar para estar ali. E isso vai desde a distância da família, a nascer em um país tropical e mudar para um que faz frio metade do ano, pois os treinos acontecem muito cedo, onde as temperaturas estão ainda mais baixas. Além disso, todo cavaleiro precisa criar uma conexão muito forte com o seu cavalo, para que os movimentos sejam precisos e bem executados, até por que o hipismo, sendo em Olimpíadas ou não, é uma modalidade muito rápida, então você treina quatro anos, e cerca de sete minutos podem definir, positivo ou não, toda essa dedicação.

Crescer em meio ao esporte nos trouxe uma visão de mundo, de vida e de conquistas totalmente diferentes. Fomos ensinados a comemorar as vitórias, e compreender as perdas sem duvidar do nosso esforço ou capacidade. Hoje eu tenho o hipismo como parte do meu estilo de vida, mas um herói no esporte que é o meu irmão, que mesmo não tendo sido ouro em Paris, mantém viva a herança esportiva que foi iniciada com a minha mãe.