(Nuthawut Somsuk/Getty Images)
EXAME Saint Paul
Publicado em 9 de setembro de 2025 às 17h23.
Por Patrícia Marinho de Andrade*
Você confiaria o futuro da sua empresa apenas à tecnologia ou à formação técnica das pessoas? Em tempos de transformação acelerada, o maior ativo das organizações continua sendo o humano. E, nesse cenário, as Forças de Caráter despontam como um caminho eficaz para cultivar propósito, engajamento, saúde mental e inovação.
As Forças de Caráter são qualidades humanas positivas, identificadas como universais por Martin Seligman e Christopher Peterson (2004). São 24 forças agrupadas em seis virtudes fundamentais. Quando utilizadas de forma consciente, essas forças não apenas elevam a experiência individual no trabalho, mas também fortalecem a cultura organizacional.
Em uma pesquisa empírica realizada em 2022, que conduzi com profissionais da segurança pública no Nordeste, aplicamos o questionário VIA com 76 respondentes. Os resultados evidenciaram predominância das virtudes transcendência e sabedoria, ou seja, há uma disposição natural para a reflexão, o propósito e a tomada de decisão com base em conhecimento. Por outro lado, forças como coragem e justiça aparecem com menor expressão, o que acende um alerta sobre a capacidade de ação transformadora e senso coletivo. Essa percepção nos motivou a propor a criação de um Observatório de Forças de Caráter, voltado para o mapeamento, análise e desenvolvimento dessas competências no ambiente de trabalho, promovendo a saúde mental organizacional, um grande desafio em tempos atuais.
Esse observatório se propõe a ser mais do que uma ferramenta diagnóstica: trata-se de uma plataforma estratégica para integrar dados humanos à tomada de decisão, à gestão de desempenho e às práticas de desenvolvimento ao adotar uma abordagem baseada em ciência e dados, podemos desenhar ambientes de trabalho mais saudáveis, equitativos e produtivos.
Ao contrário do que algumas críticas apontam à Psicologia Positiva, como o risco de uma visão individualista e descontextualizada do bem-estar, nossa proposta é ampliar o foco para o coletivo, respeitando as complexidades dos contextos organizacionais e culturais. É possível, e necessário, integrar saúde mental e inovação em uma abordagem centrada no ser humano.
Além disso, o modelo do Observatório baseia-se em um processo de três etapas: conscientizar, explorar e aplicar. Conscientizar é reconhecer nossas forças e padrões comportamentais; explorar é entender como essas forças se manifestam em diferentes contextos; aplicar é usá-las de forma estratégica para alcançar objetivos individuais e coletivos.
Em um mundo em que a pressão por resultados muitas vezes invisibiliza a dimensão humana, promover as Forças de Caráter é um gesto de resistência e inovação. Não estamos falando apenas de soft skills, mas de atributos internos que moldam nossa forma de decidir, colaborar e liderar.
Adotar uma lente de forças é abrir espaço para a autenticidade, a ética e o protagonismo. É valorizar não apenas o que se entrega, mas como se entrega. É compreender que o trabalho pode, e deve ser um espaço de florescimento.
Por isso, a pauta das Forças de Caráter não é periférica: é central para quem quer construir um futuro mais resiliente, inclusivo e sustentável. E o futuro do trabalho, mais do que nunca, exige esse novo olhar, não mais para o que falta, mas sim pelo que temos, transformando em performance, em sustentabilidade humana.
*Patrícia Marinho de Andrade é idealizadora e fundadora da InovaSer Hub, uma health tech com foco na Saúde Organizacional do Futuro, é mestra pela FGV-EAESP, Especialista em Gestão Pública pelo INSPER, Especialista em Psicologia Positiva pela PUC-RS. Atua com desenvolvimento humano, impacto social e inovação há mais de 27 anos e foi premiada pelo Programa Cidades Sustentáveis por sua atuação em políticas de bem-estar e sustentabilidade. O trabalho Observatório de Forças de Caráter foi aprovado em 03 Congressos Brasileiros: V Congresso Brasileiro de Psicologia Positiva, III EBRAPRESM e o CONNAC & SIMTEC. Docente e coautora do livro O futuro do trabalho - Agendas e interseccionalidades, publicado pela Saint Paul Editora.