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ETFs e a diversificação internacional

ETFs são fundos de índice que buscam replicar a performance de indicadores de mercado e são negociados na B3 como se fossem ações

ETFs globais: diversificação e acesso a mercados internacionais. (Alistair Berg/Getty Images)

ETFs globais: diversificação e acesso a mercados internacionais. (Alistair Berg/Getty Images)

EXAME Saint Paul
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EXAME Saint Paul

Publicado em 24 de setembro de 2025 às 21h27.

Por Bolivar Godinho de Oliveira Filho*

 

É possível ao pequeno investidor realizar a diversificação internacional dos seus investimentos? Para responder a esta pergunta vamos abordar alguns conceitos: o perfil do investidor brasileiro, as vantagens da diversificação e o que são Exchange Traded Funds (ETF) e suas características. 

Com relação ao perfil do investidor a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA, 2025), realiza anualmente uma pesquisa em parceria com o Data Folha, denominada Raio X do investidor brasileiro, que está em sua 8ª edição. Para o relatório de 2025 foram entrevistadas 5.846 pessoas com 16 anos ou mais, das classes A/B, C e D/E, nas cinco regiões do país. A pesquisa ANBIMA segmentou a população em 4 perfis: sem reservas – 52% da população; economiza e não investe – 12%; caderneta de poupança – 20% e diversifica – 17%. O perfil diversifica utiliza mais de um produto para aplicar os seus recursos. Os principais tipos de investimento utilizados são: caderneta de poupança 24%, títulos privados como por exemplo, Certificado de Depósito Bancário (CDB) 6%, fundos de investimento 5% e moedas digitais 4%. Por este perfil percebe-se que a caderneta de poupança é o principal investimento, o investimento em ações não é citado entre as principais modalidades. 

A diversificação reduz os riscos porque os ativos têm correlações diferentes, o ditado popular de não colocar os ovos na mesma cesta tem uma explicação matemática, que foi desenvolvida por Harry Markowitz (1952), prêmio Nobel de economia de 1990, que formulou a base matemática da ideia de diversificação para a formação de carteiras de investimentos de forma que houvesse equilíbrio entre risco e retorno.  Inovou ao demonstrar que os ativos, que antes eram avaliados de forma individual, passassem a ser avaliados de forma conjunta, mostrando que é possível montar um portfólio de investimentos que maximizassem os retornos a um determinado risco. Assim, foi introduzido o conceito de diversificação, mostrando que é possível reduzir os riscos de uma carteira ao se combinar diferentes ativos, e o conceito de Fronteira Eficiente, que é a busca do máximo retorno para um determinado risco ou o mínimo risco para um determinado retorno, criando um limite ótimo onde qualquer investimento fora desse limite poderia não estar otimizado em termos ou de retorno ou de risco, sendo possível investimentos melhores para o mesmo nível de retorno ou de risco que o escolhido. Um fator chave nessa ideia é o coeficiente de correlação, que é uma medida estatística que nos indica as quão próximas duas variáveis se movem juntas e em que sentido. Ele assume o intervalo de -1 a +1, ativos com correlação zero se movem de forma independente, isto é não tem correlação. Ativos com correlação positiva se movem no mesmo sentido quando um sobe o outro sobe e quando tem correlação negativa um sobe o valor e o outro cai. 

Um exemplo prático ajuda a entender o conceito da diversificação. O investidor está analisando dois ativos: o ativo A tem retorno de 15% e risco de 20%, enquanto o ativo B tem retorno de 20% e risco de 30%. O coeficiente de correlação entre eles é de 0,40 e a proporção de cada ativo na carteira é de 50%. A rentabilidade média da carteira considerando a mesma proporção entre os ativos é 17,5%, e o risco sem considerar a correlação entre os ativos 25%. Entretanto, a maneira correta de calcular o risco é pela fórmula a seguir, que considera a correlação entre dois ativos.  

 

𝜎p2=w12𝜎12+ w22𝜎22+2w1w2𝜎1𝜎2𝜌12">σ2p=w21σ21+ w22σ22+2w1w2σ1σ2ρ12𝜎p2=w12𝜎12+ w22𝜎22+2w1w2𝜎1𝜎2𝜌12  (1) 

Em que:

w1 ">w1 é a proporção do ativo 1, w2">w2 é a proporção do ativo 2,𝜎1">σ1 é o desvio padrão (risco) do ativo 1, 𝜎2">σ2 é o desvio padrão (risco) do ativo 2 e 𝜌12">ρ12 é o coeficiente de correlação entre o ativo 1 e o ativo 2. 

O risco da carteira calculado por esta fórmula é 21,1% e não 25%. A correção de 0,4 contribuiu para reduzir o risco em 3,9%. 

A diversificação internacional faz sentido se os coeficientes de correlação entre os vários mercados forem diferentes. O coeficiente de correlação entre o índice Bovespa e o índice S&P 500 dos Estados Unidos nos últimos 3 anos foi negativo em 0,13, que é ótimo para a diversificação. O coeficiente negativo indica que em média quando o índice Bovespa cai o índice S&P 500 sobe. O investidor brasileiro pode diversificar comprando na B3, através de uma corretora, Brazilian Depositary Receipts (BDRs) de grandes empresas tais como: Apple, Alphabet, Berkshire, Nvidia e Microsoft. Outra forma de diversificação internacional é através dos Exchange Traded Funds (ETFs). 

ETFs são fundos de índice que buscam replicar a performance de indicadores de mercado e são negociados na B3 como se fossem ações. Estes fundos são acessíveis ao pequeno investidor e oferecem uma série de vantagens, tais como: carteiras diversificadas, várias estratégias disponíveis no Brasil, custo de administração baixo e acessibilidade.  

São várias as estratégias que podem ser implementadas através de ETFs de forma simples, como por exemplo, investir em carteira de ações que acompanham o índice S&P 500 (código IVVB11), aplicar em ouro (GOLD11), Bitcoin (BITI11) e índice Bovespa (BOVA11). 

Segundo o Investment Company Institute (2024), nos Estados Unidos os investidores passaram a partir de 2014 a aplicarem mais recursos em ETFs do que em fundos de investimento com gestão ativa. No período de 2014 a 2023 o volume de recursos que migraram de fundos ativos para ETFs atingiu o montante de US$ 2,5 trilhões. Uma das razões é o baixo custo para o investidor com a taxa de administração, que se situa em 0,15% ao ano.  

A gestão ativa envolve a alocação de ativos com base nas análises do gestor enquanto na gestão passiva ou fundos indexados a alocação é efetuada com base na composição de índices de mercado. A gestão passiva é fundamentada na hipótese do mercado eficiente (HME), que foi desenvolvida por Eugene Fama (1970). Esta teoria sustenta que as ações sempre são negociadas pelo seu justo valor de mercado e que a geração persistente de retorno adicional, chamado de alfa é impossível, rejeitando desta forma a eficácia da seleção de ações.  

Johnson (2012) afirma que os ETFs europeus ganharam tremenda popularidade entre investidores individuais e gestores de recursos, devido à sua capacidade de fornecer aos investidores diversificação a um custo de propriedade muito baixo. A questão a ser respondida no estudo é se os ETFs europeus com maiores benefícios de diversificação exigem um prêmio de custo de propriedade em relação a outros ETFs. Usando uma amostra de ETFs europeus específicos de países e ETFs da Europa continental, o autor descobre que ETFs proporcionaram um benefício de diversificação positivo e significativo para os investidores. 

Os investidores brasileiros estão começando a praticar a diversificação internacional e os ETFs podem desempenhar um papel importante neste processo, pelas vantagens de simplicidade, acessibilidade e baixo custo.  

Referências 

Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA). Raio X do Investidor Brasileiro - 8ª edição. Disponível em: https://www.anbima.com.br/pt_br/especial/raio-x-do-investidor-brasileiro.htm. Acesso em 02.06.2025. 

 Fama, E. F.  Efficient Capital Markets: A Review of Theory and Empirical Work. The Journal of Finance, 1970, 25(2), 383-417. 

 INVESTMENT COMPANY INSTITUTE – ICI. Investment Company Fact Book 2024. Disponível em: < https://www.ici.org/research >. Acesso em: 03.06.2025. 

Johnson, W. F.  Quest for Diversification: Should U.S. Investors Venture into European ETFs? The Journal of Index Investing, 2012, 3(2), 49–55. Crossref. 

Markowitz, H. (1952). Portfolio selection. The Journal of Finance, 1952, 7(1), 77–91.  

Minibiografia: 

Prof. Dr. Bolivar Godinho de Oliveira Filho 

Economista com pós-graduação em Finanças pela FGV-SP, mestrado em Administração pela PUC-SP e doutorado em Finanças pela FEA-USP. Atualmente é professor de Finanças na Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - Campus Osasco. Ministrou aulas em cursos de pós-graduação na Universidade Mackenzie, Fundação Instituto de Administração- FIA, Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras - FIPECAFI e Saint Paul Escola de Negócios. Experiência de 33 anos no mercado financeiro nas áreas de Tesouraria, Corretora de Valores e Gestão de Fundos de Investimento. Ex-Diretor de Asset Management nos Bancos Noroeste, Fibra e BMC. Atuação por quatro anos como especialista em investimentos no Banco Itaú. Foi presidente do Comitê de Assessoramento Técnico da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo- FUNPRESP - EXE, onde atuou por quatro anos. Autor do livro “Gestão de Fundos de Investimento” publicado pela Saint Paul Editora.