(Divulgação)
Publicado em 24 de maio de 2025 às 06h14.
Na virada para 2025, o Brasil viu mais uma prova de que empreender não é mais opção reservada a quem “nasceu comerciante”. Os dados da Pesquisa Nacional sobre Desigualdades 2024, do Instituto Cidades Sustentáveis, mostraram que 50 milhões de brasileiros com 16 anos ou mais — 31 % da população adulta — realizam uma segunda atividade para complementar a renda no último ano. Essa multidão que faz “bico”, como diz e aponta a pesquisa, é quem vende no Instagram durante a noite, entrega doces sob encomenda ou toca um e-commerce de fim de semana tornou-se, de repente, o maior contingente de tomadores de crédito potencial do país.
Durante décadas, a porta de entrada para um empréstimo exigia balanços impecáveis ou até imóveis em garantia. Hoje, a janela se deslocou do patrimônio físico para o digital. A pergunta mudou: não é mais “qual bem você dá em garantia?”, mas sim “o que seus dados dizem sobre sua atividade?”
Com o Open Finance, o empreendedor autoriza o banco ou a fintech a enxergar seu fluxo de caixa real — não apenas o que aparece na conta principal, mas também as vendas no marketplace, o repasse do aplicativo de entrega, o QR Code, no bazar de sábado.
O resultado já aparece nas estatísticas: mesmo em ambiente de juros elevados, o saldo total de crédito do Sistema Financeiro Nacional avançou perto de 11 % em 2024, o maior salto desde que o Banco Central compila a série. Nesse contexto, as empresas emprestaram um trilhão e seis bilhões de reais em 2024, aumento de quase 8,5%. Segundo dados do Banco Central, as concessões de crédito para empresas somaram R$ 1,01 trilhão em 2024 — alta de 8,5% — e o saldo total atingiu R$ 6,4 trilhões.
A inadimplência geral caiu, ainda que em segmentos como o microcrédito permaneça próxima de 3,3%. Boa parte desse fôlego veio justamente das carteiras voltadas a empresas de menor porte, cuja saúde financeira agora pode ser lida quase em tempo real por motores de inteligência artificial — que contam com modelos capazes de analisar milhares de fatores antes de tomar uma decisão.
O novo rosto do crédito produtivo: quem é, afinal, esse novo tomador?
Esse empreendedor acumula fontes de renda — loja física de dia, freela on-line à noite; recebe em múltiplos canais — cartão, Pix, link de pagamento — e, sem perceber, gera um rastro de dados que conta melhor a história do negócio do que qualquer planilha retroativa. Na prática, mais relevante do que exibir um pico pontual de faturamento é manter consistência no fluxo de caixa diário. Somada a isso, a recorrência de clientes demonstra fidelidade e diminui o risco de inadimplência. A reputação digital — alimentada por avaliações e menções nas redes — também entra no radar dos algoritmos de crédito, enquanto a diversidade de fontes de receita atua como amortecedor natural contra oscilações de demanda.
Se a função social do crédito é irrigar atividade produtiva, a pulverização da renda — captada pelo dado dos 50 milhões de brasileiros com segundo ofício — obriga o sistema a olhar para além dos grandes balanços. Ao reconhecer microfluxos de caixa como sinal de vitalidade, instituições financeiras passam a precificar risco com mais justiça — e, por tabela, a reduzir a dependência de empréstimos informais, quase sempre mais caros.
O próximo passo do sistema
Cada transação é, hoje, um voto de confiança no seu negócio. Organize, consolide e use esses dados como ativo. Em 2026, com a queda da Selic no horizonte, o avanço do sandbox regulatório e a chegada da IA generativa ao scoring, o microempreendedor conectado não será exceção: será protagonista.
*Fabrício Costa é Diretor de Serviços Financeiros da CloudWalk