A importância do diálogo para transformação dos parques no Brasil
Criar um relacionamento transparente e duradouro entre a sociedade, o poder público e o setor privado é fundamental para projetos de parcerias em parques
Redação Exame
Publicado em 24 de outubro de 2023 às 10h57.
Última atualização em 24 de outubro de 2023 às 11h13.
Por Bárbara Matos e Rodrigo Góes
Em uma sociedade plural, existe uma única verdade: somos diversos. Pensar diferente faz parte do jogo. E dialogar é uma premissa essencial para transformar ideias em realidade e tirar projetos do papel. Quando falamos de parcerias em parques, a lógica é a mesma. Se desenhadas desta maneira, não há dúvida de que podem fortalecer ainda mais seu potencial para o desenvolvimento socioeconômico aliado à conservação da biodiversidade.
Um dos objetivos das parcerias, como as concessões dos serviços turísticos, é ampliar a visitação respeitando os limites do ecossistema local. Com isso, geram-se oportunidades de desenvolver a região com sustentabilidade sem perder de vista a conscientização ambiental, seja de quem mora do entorno do parque, seja de quem vem de outros locais para visitação. Mas, para que isso aconteça, é preciso compreender as singularidades de cada lado e desenvolver amplo diálogo com todas as partes que serão afetadas.
Nesse processo, é essencial a construção de um relacionamento confiável e duradouro entre as equipes de governo e os diversos atores envolvidos com o parque, considerando todo o ciclo de vida do projeto, desde seu planejamento até a gestão contratual, passando também pela estruturação e a licitação.
Cada parque possui um contexto muito específico ligado, principalmente, ao território em que está inserido. O diálogo com as comunidades locais deve ir além das obrigações jurídicas, como consultas e audiências públicas. Transparência, escuta ativa e momentos de devolutiva contribuirão para que todos saibam e entendam o que está sendo proposto, como isso os afeta e, talvez o mais importante, que tenham espaço para trazer suas ideias, propor melhorias, tirar dúvidas e fazer críticas construtivas.
Interesses político-partidários não podem prevalecer ou se tornar fatores impeditivos do processo de um diálogo claro, que precisa levar em conta o parque propriamente dito e seus benefícios para o meio ambiente. Um exemplo disto pôde ser observado na estruturação do projeto do Parque Estadual de Ibitipoca (MG), que enfrentou uma série de divergências, todas solucionadas a partir de escuta local e ativa.
Na ocasião, cerca de 400 pessoas participaram de reuniões, entre representantes comunitários e do poder público municipal, moradores, membros do conselho consultivo do parque, empresários e comerciantes locais para debater os prós e os contras. A região não é o único exemplo de como o diálogo pode ser construtivo. No icônico Parque Nacional de Jericoacoara (CE), algo parecido tem acontecido.
Replicar casos como o de Jericoacoara e de Ibitipoca não é um desafio simples. Essa construção geralmente parte de um ambiente muitas vezes já tensionado, e remodelar um projeto demanda tempo e recurso. Por isso, respeitar as fases do processo é fundamental porque, ao tentar acelerá-lo, suprimindo os diálogos, os atrasos, as tensões e os custos tendem a ser muito maiores.
Além disso, a difusão de informação, a escuta e compreensão da perspectiva de cada interlocutor, cada qual com suas dores e necessidades, representa a criação de um relacionamento mais estreito, que poderá ser mantido com o início da parceria, e será decisivo para auxiliar na fiscalização dos acontecimentos na área do parque.
Quando essa confiança se estabelece, a construção e implementação do projeto tendem a ser mais tranquilas e benéficas para todos. Depende muito dessa relação que os parques possam funcionar como vetores para o desenvolvimento sustentável e, mais do que isso, como geradores de consciência ambiental em sua plenitude. Uma comunidade engajada pode contribuir ainda para criar e reforçar um senso de pertencimento e de proteção de um patrimônio que é de toda a população.
Bárbara Matos e Rodrigo Góes são gerentes de projetos do Instituto Semeia
Por Bárbara Matos e Rodrigo Góes
Em uma sociedade plural, existe uma única verdade: somos diversos. Pensar diferente faz parte do jogo. E dialogar é uma premissa essencial para transformar ideias em realidade e tirar projetos do papel. Quando falamos de parcerias em parques, a lógica é a mesma. Se desenhadas desta maneira, não há dúvida de que podem fortalecer ainda mais seu potencial para o desenvolvimento socioeconômico aliado à conservação da biodiversidade.
Um dos objetivos das parcerias, como as concessões dos serviços turísticos, é ampliar a visitação respeitando os limites do ecossistema local. Com isso, geram-se oportunidades de desenvolver a região com sustentabilidade sem perder de vista a conscientização ambiental, seja de quem mora do entorno do parque, seja de quem vem de outros locais para visitação. Mas, para que isso aconteça, é preciso compreender as singularidades de cada lado e desenvolver amplo diálogo com todas as partes que serão afetadas.
Nesse processo, é essencial a construção de um relacionamento confiável e duradouro entre as equipes de governo e os diversos atores envolvidos com o parque, considerando todo o ciclo de vida do projeto, desde seu planejamento até a gestão contratual, passando também pela estruturação e a licitação.
Cada parque possui um contexto muito específico ligado, principalmente, ao território em que está inserido. O diálogo com as comunidades locais deve ir além das obrigações jurídicas, como consultas e audiências públicas. Transparência, escuta ativa e momentos de devolutiva contribuirão para que todos saibam e entendam o que está sendo proposto, como isso os afeta e, talvez o mais importante, que tenham espaço para trazer suas ideias, propor melhorias, tirar dúvidas e fazer críticas construtivas.
Interesses político-partidários não podem prevalecer ou se tornar fatores impeditivos do processo de um diálogo claro, que precisa levar em conta o parque propriamente dito e seus benefícios para o meio ambiente. Um exemplo disto pôde ser observado na estruturação do projeto do Parque Estadual de Ibitipoca (MG), que enfrentou uma série de divergências, todas solucionadas a partir de escuta local e ativa.
Na ocasião, cerca de 400 pessoas participaram de reuniões, entre representantes comunitários e do poder público municipal, moradores, membros do conselho consultivo do parque, empresários e comerciantes locais para debater os prós e os contras. A região não é o único exemplo de como o diálogo pode ser construtivo. No icônico Parque Nacional de Jericoacoara (CE), algo parecido tem acontecido.
Replicar casos como o de Jericoacoara e de Ibitipoca não é um desafio simples. Essa construção geralmente parte de um ambiente muitas vezes já tensionado, e remodelar um projeto demanda tempo e recurso. Por isso, respeitar as fases do processo é fundamental porque, ao tentar acelerá-lo, suprimindo os diálogos, os atrasos, as tensões e os custos tendem a ser muito maiores.
Além disso, a difusão de informação, a escuta e compreensão da perspectiva de cada interlocutor, cada qual com suas dores e necessidades, representa a criação de um relacionamento mais estreito, que poderá ser mantido com o início da parceria, e será decisivo para auxiliar na fiscalização dos acontecimentos na área do parque.
Quando essa confiança se estabelece, a construção e implementação do projeto tendem a ser mais tranquilas e benéficas para todos. Depende muito dessa relação que os parques possam funcionar como vetores para o desenvolvimento sustentável e, mais do que isso, como geradores de consciência ambiental em sua plenitude. Uma comunidade engajada pode contribuir ainda para criar e reforçar um senso de pertencimento e de proteção de um patrimônio que é de toda a população.
Bárbara Matos e Rodrigo Góes são gerentes de projetos do Instituto Semeia