Coronavírus mostra países empobrecidos – mas unidos
Longas cadeias de fornecimento construídas durante décadas estão agora interrompidas
Da Redação
Publicado em 12 de março de 2020 às 16h22.
Com o coronavírus espalhado pelo planeta, temos hoje no meio da incerteza vários fatos. Em primeiro lugar, o imenso custo da reversão da globalização. A economia do vírus é uma economia empobrecida. Longas cadeias de fornecimento construídas durante décadas estão agora interrompidas. Um carro, um computador são constituídos por centenas ou milhares de componentes. Basta a falta de um para interromper toda a produção. E em muitos casos são os componentes considerados mais irrelevantes que são dominados por um ou poucos produtores de uma região específica, em muitos casos na China. Anos de paradigmas de gestão como minimização de estoques e produção just in time sofrem agora com a falta de redundância. Mas se a fragilidade do setor industrial está hoje exposta, o setor de serviços que constitui hoje mais de 70 ou 80 por cento da maioria das economias vive da interação humana. Restaurantes, hotéis, varejo e turismo em geral são particularmente vulneráveis às medidas de quarentena impostas por diferentes governos. No meio de todos os efeitos negativos do coronavírus, apenas o clima e o setor de aplicativos on-line parecem se beneficiar com a atual situação.
Se quisermos olhar para lá do coronavírus, temos que nos virar de novo para a China e para o seu caminho de recuperação. A retoma no gigante asiático parece ser lenta agravada pela falta da demanda global por muitos dos seus produtos e portanto no resto do globo a prudência nos diz que a recuperação irá também ser gradual. Ao contrário de outras crises onde medidas de estímulo à demanda seriam a receita mais adequada, nesta crise é muito importante assegurar meios financeiros a empresas industriais e de serviços para que a interrupção temporária da sua atividade não se transforme em encerramento. Este é um domínio onde a política monetária por si só tem muita dificuldade em produzir efeitos mas onde políticas bem concebidas ao nível orçamental podem em muito mitigar os efeitos da crise. A boa notícia aqui é que o custo para os Governos é relativamente baixo dado o nível das taxas de juro na maior parte das economias. No Brasil, o BNDES pode ter um papel muito importante em conjunto com o Governo em estruturar estes instrumentos de apoio às empresas afetadas pela pandemia do coronavírus.
Esta crise expõe também as dificuldades de governança a nível global que se agravaram nos últimos anos. Esta seria uma altura para instituições e fóruns como o G7, G20, ONU e BRICS desempenharem um papel importante na coordenação de medidas e políticas a nível global. No entanto, estão totalmente ausentes de qualquer discussão sobre o assunto. As respostas são exclusivamente nacionais num problema que claramente carece de um quadro global de solução. A OMS desempenha uma função crítica no controlo da pandemia mas é pouco como resposta global. Numa entrevista publicada em 2015, Bill Gates afirmava com presciência que dos riscos globais que o mundo enfrentava, o único que verdadeiramente temia era uma pandemia à escala global. Felizmente ao contrário da gripe espanhola de 1918, o coronavírus não apresenta os mesmos riscos de mortalidade mas expõe de forma aguda a nossa interdependência e mostra a ausência de planos de contingência a nível global para mitigar os seus efeitos.
Esta crise tem tudo para ser aguda mas relativamente limitada no tempo nas suas consequências. Da mesma forma que a nível global no pós 2008 se desenharam políticas de reforço do sistema financeiro, é necessário pensar como planejar a resposta a crises futuras nomeadamente a nível dos sistemas de saúde. Fica claro que nesse jogo pendular que decorre ao longo do tempo entre Governos e mercados, a população vai demandar mais governo a vários níveis a começar pelo investimento no sistema de saúde. Por último, a distância que parecia ser grande entre as democracias ocidentais e a China na abordagem ao coronavírus se reduziu consideravelmente. Em tempos de crise descobrimos que o que nos une é muito mais que o que nos separa.
Com o coronavírus espalhado pelo planeta, temos hoje no meio da incerteza vários fatos. Em primeiro lugar, o imenso custo da reversão da globalização. A economia do vírus é uma economia empobrecida. Longas cadeias de fornecimento construídas durante décadas estão agora interrompidas. Um carro, um computador são constituídos por centenas ou milhares de componentes. Basta a falta de um para interromper toda a produção. E em muitos casos são os componentes considerados mais irrelevantes que são dominados por um ou poucos produtores de uma região específica, em muitos casos na China. Anos de paradigmas de gestão como minimização de estoques e produção just in time sofrem agora com a falta de redundância. Mas se a fragilidade do setor industrial está hoje exposta, o setor de serviços que constitui hoje mais de 70 ou 80 por cento da maioria das economias vive da interação humana. Restaurantes, hotéis, varejo e turismo em geral são particularmente vulneráveis às medidas de quarentena impostas por diferentes governos. No meio de todos os efeitos negativos do coronavírus, apenas o clima e o setor de aplicativos on-line parecem se beneficiar com a atual situação.
Se quisermos olhar para lá do coronavírus, temos que nos virar de novo para a China e para o seu caminho de recuperação. A retoma no gigante asiático parece ser lenta agravada pela falta da demanda global por muitos dos seus produtos e portanto no resto do globo a prudência nos diz que a recuperação irá também ser gradual. Ao contrário de outras crises onde medidas de estímulo à demanda seriam a receita mais adequada, nesta crise é muito importante assegurar meios financeiros a empresas industriais e de serviços para que a interrupção temporária da sua atividade não se transforme em encerramento. Este é um domínio onde a política monetária por si só tem muita dificuldade em produzir efeitos mas onde políticas bem concebidas ao nível orçamental podem em muito mitigar os efeitos da crise. A boa notícia aqui é que o custo para os Governos é relativamente baixo dado o nível das taxas de juro na maior parte das economias. No Brasil, o BNDES pode ter um papel muito importante em conjunto com o Governo em estruturar estes instrumentos de apoio às empresas afetadas pela pandemia do coronavírus.
Esta crise expõe também as dificuldades de governança a nível global que se agravaram nos últimos anos. Esta seria uma altura para instituições e fóruns como o G7, G20, ONU e BRICS desempenharem um papel importante na coordenação de medidas e políticas a nível global. No entanto, estão totalmente ausentes de qualquer discussão sobre o assunto. As respostas são exclusivamente nacionais num problema que claramente carece de um quadro global de solução. A OMS desempenha uma função crítica no controlo da pandemia mas é pouco como resposta global. Numa entrevista publicada em 2015, Bill Gates afirmava com presciência que dos riscos globais que o mundo enfrentava, o único que verdadeiramente temia era uma pandemia à escala global. Felizmente ao contrário da gripe espanhola de 1918, o coronavírus não apresenta os mesmos riscos de mortalidade mas expõe de forma aguda a nossa interdependência e mostra a ausência de planos de contingência a nível global para mitigar os seus efeitos.
Esta crise tem tudo para ser aguda mas relativamente limitada no tempo nas suas consequências. Da mesma forma que a nível global no pós 2008 se desenharam políticas de reforço do sistema financeiro, é necessário pensar como planejar a resposta a crises futuras nomeadamente a nível dos sistemas de saúde. Fica claro que nesse jogo pendular que decorre ao longo do tempo entre Governos e mercados, a população vai demandar mais governo a vários níveis a começar pelo investimento no sistema de saúde. Por último, a distância que parecia ser grande entre as democracias ocidentais e a China na abordagem ao coronavírus se reduziu consideravelmente. Em tempos de crise descobrimos que o que nos une é muito mais que o que nos separa.