Conseguir crédito na praça depende da sua reputação como bom pagador (Yagi Studio/Getty Images)
Publicado em 1 de março de 2025 às 06h00.
Por Leonardo Grapeia*
O crédito consignado é uma inovação tipicamente brasileira, introduzida com a publicação da Lei 10.820/2004. Antes disso, grande parte da população recorria a alternativas de crédito de alto custo, como cheque especial e agiotas, que comprometiam severamente a renda das famílias. A criação dessa modalidade revolucionou o mercado de crédito pessoal ao oferecer taxas de juros mais baixas e prazos estendidos, tornando os empréstimos mais acessíveis.
Desde sua implementação, o consignado alterou significativamente o perfil do crédito no Brasil. A taxa média de juros anual para crédito pessoal, que girava em torno de 80% ao ano, caiu para aproximadamente 40%. A possibilidade de desconto direto em folha de pagamento trouxe maior segurança para as instituições financeiras, permitindo condições mais vantajosas para os consumidores.
No entanto, devido a limitações operacionais da época, o produto se popularizou principalmente entre servidores públicos, aposentados e pensionistas do INSS. No setor privado, sua adoção foi limitada pela necessidade de convênios entre bancos e empresas, dificultando a escalabilidade do modelo.
O gráfico demonstra a robustez da modalidade, mas pouco escalável no setor privado.
Por muitos anos, o mercado tratou o consignado apenas como um produto de substituição para linhas de crédito mais caras, como cheque especial e cartão de crédito. No entanto, com o avanço da tecnologia e a agenda de modernização do Banco Central – conhecida como Agenda BC# – essa modalidade pode se transformar em algo muito maior: um verdadeiro meio de pagamento.
O governo sinalizou mudanças estruturais importantes no consignado privado. As principais inovações incluem:
Essa modernização permitirá que o consignado vá além do empréstimo tradicional, possibilitando sua utilização como um meio de pagamento. Imagine um consumidor que deseja comprar uma televisão e, ao invés de parcelar em um cartão de crédito com taxas elevadas, opta por financiar diretamente via consignado privado. O valor pode ser dividido em até 48 vezes, com juros menores e impacto reduzido no orçamento familiar.
Essa mesma lógica pode ser aplicada a compras de veículos, imóveis e outros bens de maior valor, ampliando o poder de compra do trabalhador e tornando o crédito mais acessível.
O que estamos prestes a vivenciar com o novo modelo do consignado privado pode ser comparado a inovações recentes como o Pix e o Open Finance. Assim como essas tecnologias transformaram a forma como realizamos transações financeiras, o consignado reformulado tem potencial para mudar o consumo e a oferta de crédito no Brasil.
Muito mais que uma nova modalidade de empréstimo, o consignado privado pode se tornar um novo pilar do sistema de pagamentos brasileiro – acessível, digital e vantajoso para milhões de trabalhadores.
* Leonardo Grapeia é CEO e fundador do Grupo Qista e membro do Conselho Consultivo do Bom Pra Crédito.