(Richard Drury/Getty Images)
EXAME Saint Paul
Publicado em 10 de novembro de 2025 às 19h18.
Por Claudia Abdul Ahad Securato*
A crescente automação, digitalização e complexidade das normas jurídicas estão a moldar de forma decisiva o futuro do trabalho. As empresas enfrentam não apenas exigências legais cada vez mais rigorosas, mas também um aumento nas expectativas dos colaboradores — especialmente no que diz respeito ao bem-estar, à equidade salarial e à transparência.
Regulamentação e ESG: Um Novo Paradigma Corporativo
O ambiente regulatório está em constante expansão, impulsionado pela necessidade global de proteger direitos fundamentais, incorporar valores éticos nas práticas empresariais e cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Entre estes, destaca-se o ODS 8, que promove o trabalho digno, a igualdade de remuneração, a segurança no local de trabalho e a erradicação do assédio.
O crescimento das normas regulatórias — tanto nacionais como internacionais — representa não apenas um desafio jurídico, mas também um fator crítico para a reputação e sobrevivência das organizações.
Saúde Mental como Pilar Estratégico
O bem-estar dos colaboradores tornou-se um elemento central nas estratégias corporativas. Já não se trata apenas de evitar penalizações legais, mas de reconhecer que ambientes de trabalho hostis podem gerar doenças psíquicas com graves impactos jurídicos, financeiros e reputacionais.
Desde a pandemia de covid-19, registou-se um aumento expressivo de transtornos como ansiedade, depressão e burnout — este último já reconhecido pela OMS como uma doença ocupacional. Práticas laborais abusivas, como jornadas excessivas, ambientes tóxicos e falta de reconhecimento, passaram a ser enquadradas como assédio moral, refletindo-se num aumento substancial de processos judiciais.
Segundo dados da Justiça do Trabalho no Brasil, os processos relacionados a burnout passaram de 6.639 em 2022 para 10.571 em 2023, alcançando 12.388 casos em 2024.
Integração entre Compliance, ESG e Saúde Mental
As políticas de compliance, os compromissos ESG e o cuidado com a saúde mental formam um ecossistema interdependente. Ambientes que negligenciam o bem-estar psicológico resultam em perda de produtividade, fuga de talentos e danos à reputação. Por outro lado, investir em apoio psicológico, metas realistas e práticas saudáveis fortalece a governança e fomenta um ambiente organizacional resiliente.
Prevenir o assédio, combater desigualdades salariais e garantir condições de trabalho saudáveis não são apenas exigências legais — são pilares estratégicos para a sustentabilidade.
A gestão da saúde mental é, portanto, um imperativo ético e empresarial. Assim como a adaptação à complexidade regulatória visa mitigar riscos, o cuidado com o bem-estar psicológico requer uma abordagem integrada e proativa. A promoção de ambientes psicologicamente seguros reforça o alinhamento com os princípios ESG, reduzindo casos de burnout e elevando a confiança dos colaboradores.
Empresas que colocam a saúde mental como prioridade não apenas evitam sanções, mas destacam-se como líderes em responsabilidade social, assegurando vantagem competitiva e sustentabilidade a longo prazo.
Ignorar a saúde mental, por outro lado, representa um risco tão grave quanto a fraude ou corrupção. O futuro do trabalho exige ambientes emocionalmente seguros. Investir no bem-estar não é um custo, mas um ativo estratégico que reforça a produtividade, a governança e a longevidade empresarial.
* Claudia Abdul Ahad Securato é advogada, professora e defensora das mulheres no mercado de trabalho. É mestre em Direito dos Negócios pela Fundação Getúlio Vargas. Tem pós-MBA em Advanced Boardroom Program for Women pela Saint Paul Escola de Negócios; pós-graduação em Direito do Trabalho e em Jornalismo Institucional pela PUC-SP e pós-graduação em Direito Previdenciário pela Escola Paulista de Direito. É graduada em Direito pela Universidade Católica Dom Bosco no Mato Grosso do Sul e graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Além disso, é sócia fundadora do escritório Securato e Abdul Ahad Advogados. O escritório é premiado como um dos mais relevantes na área trabalhista desde 2008, e Claudia é premiada como uma das melhores advogadas trabalhistas do Brasil pelo Ranking Análise Advocacia Mulher desde a 1.ª edição do anuário. Organizadora e coautora do livro O futuro do trabalho - Agendas e interseccionalidades, publicado pela Saint Paul Editora.