Com quarentena, smartphones deixam de ser vilões e se tornam heróis da vez
Os objetos, a tecnologia, são neutros: o seu uso é que indicará se estamos construindo muros ou pontes
Publicado em 11 de maio de 2020 às, 14h38.
Assim como a TV foi tema de grandes controvérsias o smartphone é a bola da vez.
No passado, não faltaram reportagens e temas de redação do vestibular que apontavam a decadência da televisão: da grande invenção do século 20 à vilã que impedia sociabilidade das famílias, promovia alienação e, por tabela, ainda causava obesidade.
Com os celulares, é a mesma coisa. Pense que, até dois ou três meses atrás, falávamos sobre o tempo que as pessoas passavam usando o aparelho. Era uma grande preocupação. Agora, estamos em um momento especial em termos de aprendizado e precisamos entender que tudo é uma questão de contexto e perspectiva.
Se há bem pouco tempo o aparelho era completamente demonizado, pois, segundo especialistas, ele pode causar um transtorno psicológico denominado nomofobia, do Inglês “no mobile phobia” (medo de ficar sem o celular) e suas consequências são ansiedade extrema, depressão, prostração e até síndrome do pânico, hoje ele se tornou um grande aliado e parece ter conquistado certa redenção.
Depois do Covid-19, parece que o malefício do celular saiu completamente da agenda e estamos todos nós dependendo das telas para trabalhar e viver.
Precisamos do smartphone, do computador e da boa e “velha” programação da televisão para continuarmos informados, produtivos e nos entretermos.
Segundo pesquisa da GSMA neste ano, o Brasil deve totalizar 204 milhões de smartphones em funcionamento, quase a totalidade dos 210 milhões de brasileiros. O estudo mostrou que, mesmo em casa, 60% das pessoas continuam acessando a internet pelo celular.
Se não fossem as telas, como nos comunicaríamos nessa pandemia? O celular é muito mais do que extensão de nós mesmos nas redes sociais ou símbolo de status: é um instrumento “faciltador dos rituais da saudade”, como disse Padre Fabio de Melo.
Muros ou pontes?
Como bem explicou a antropóloga Mary Douglas, os objetos são neutros: o seu uso é que indicará se estamos construindo muros ou pontes. Produtos e serviços de qualquer natureza estão aptos para nos confortar, nos beneficiar e ganhar espaço em nossas vidas.
Somos nós que precisamos exercer domínio e autocontrole, sempre. O uso do cartão de crédito, da moda, da comida, da absorção de informação através da TV, do celular precisa encontrar o seu lugar de forma harmônica e equilibrada. E cada um terá um limite e necessidade diferente do outro, por isso é preciso = autoconhecimento.
Precisamos cada vez mais buscar meios e ferramentas que nos façam viver o caminho de dentro. Para sobrevivência e sanidade, precisaremos cada vez mais nos conhecer, nos adaptar e encontrar equilíbrio com o que temos em mãos.
Celular: um instrumento de conexão
Hoje, o seu celular pode te fazer um carinho enorme. Ligue para a sua mãe, faça uma videoconferência com um familiar que você não vê faz tempo, jante virtualmente com os seus amigos mais divertidos, bebam vinho e falem bobagem. O celular também serve pra isso: experimente e construa pontes.
Hilaine Yaccoub é doutora em Antropologia do Consumo. Atua como palestrante, e consultora, realizando estudos que promovem ligação entre o mercado consumidor, o conhecimento acadêmico e as empresas. Para seguir nas redes sociais: @hilaine