Acidentes relacionados ao sono em motoristas estão com os dias contados
Nas estradas, a tecnologia deve se tornar uma aliada contra o cansaço que causa tragédias
André Lopes
Publicado em 14 de março de 2022 às 12h33.
*Por Sidnei Canhedo
Antes de comentar sobre esse cenário otimista é preciso entender o tamanho do drama que ainda vivemos em nossas pistas. Na maioria dos casos o sono chega sorrateiro, tímido e disfarçado de sutileza. Rapidamente, começa a tomar conta da atenção de quem está ao volante. Movido pela pressa ou teimosia, o condutor tenta vencê-lo, minimizá-lo ou enganá-lo. Abre a janela, toma um gole d’água e aumenta o volume da música na tentativa de ignorá-lo. Tenta falar mais alto o espírito de invencível ou daquele que faz o leviano cálculo do ‘dá para aguentar até chegar’ ou ‘só falta mais um pouco’. O final de muitas dessas cotidianas e impiedosas batalhas é trágico. O irresponsável sempre é vencido.
Cenas como essa não encontram fronteiras, são globais. Mas o Brasil figura em um triste destaque no ranking mundial. As mortes causadas por cansaço por aqui contribuem para nos posicionar como o 5o país onde as pessoas mais morrem por acidentes no trânsito, atrás de Índia, China, EUA e Rússia, de acordo com levantamento da ONU, realizado no final de 2019, antes da pandemia. Segundo o Ministério da Saúde, no mesmo ano, o Brasil teve quase 32 mil vítimas fatais.
Nesse contexto, o cansaço representa o grande vilão das estradas nacionais. De acordo com estudo realizado pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET) em parceria com a Academia Brasileira de Neurologia e com o Conselho Regional de Medicina, 42% dos acidentes estão relacionados ao sono e 18% por fadiga. Somados, os 62% pintam um retrato complexo do tamanho do problema e do quanto pode ser fatal conduzir com sono ou fadiga.
Mas esse quadro desafiador tem tudo para fazer parte de um terrível passado se a tendência de reguladores, em abraçar a tecnologia como arma preventiva, for adotada por todos os governos do mundo.
A corrida por desenvolver carros elétricos cada vez mais eficientes e baratos também acontece em paralelo no quesito segurança de veículos. No caso do combate ao cansaço é a tecnologia de detecção de fadigas que tende a se tornar global, obrigatória, implantando sistemas inteligentes em todos os autos que saírem das fábricas.
No passado, ter uma câmera que contasse com um sensor capaz de sinalizar ao motorista que ele está com sono ou com fadiga e que corria o risco de acidentes, era algo apenas para carros mega tecnológicos, uma seleta gama dos top de linhas de cada montadora.
Hoje, a realidade é completamente distinta: os devices são acessíveis, a tecnologia de precisão evoluiu muito e a pressão da sociedade começa a surtir efeito para que a prevenção de fadiga seja democratizada e disponível em todos os veículos.
Sabemos que investir em educação de motoristas é fundamental, mas ela encontra barreiras estruturais, além de ter sempre efeitos no longo prazo. Exigir que um equipamento seja padrão de fábrica obrigatório é reforçar e acelerar as mudanças que salvarão vidas.
É o que fez a União Européia que a partir deste ano passa a obrigar todas as montadoras a entregarem vans, carros, ônibus e caminhões com um sensor que detecta fadiga ou distrações nos motoristas. O equipamento faz parte de um pacote chamado de New Safety Features in your Car (Novas Configurações de Seguranças no seu Carro). De acordo com o Bloco Europeu, 90% dos acidentes são causados por erros humanos e as novas tecnologias são essenciais para mitigar esse desafio.
A Europa dá um forte exemplo e fomenta o debate em um contexto mundial. Por outro lado, as próprias montadoras correm atrás de escolherem as tecnologias mais eficientes e seguras em uma competição saudável em que os motoristas serão os maiores beneficiados. Afinal, oferecer um sistema com sensores avançados, que contemple inteligência artificial e até seja capaz, por exemplo, de gerar relatórios transmitidos para um aplicativo de celular, é algo que agrega à marca.
Ter o equipamento padrão em novos carros é um avanço, mas há discussões, ainda tímidas, de obrigar a instalação em veículos seminovos, a fim de acelerar a redução de acidentes, nos mesmos moldes de atuação da indústria de mineração, onde mesmo frotas com veículos mais antigos contam com sistemas embarcados de detecção de sonolência.
Sabemos que por si só, ter a tecnologia não é garantia de que o motorista não se arriscará em dirigir cansado ou com sono. Também se discute se deveria obrigar que esses sensores mantenham registros de desobediência do aviso. A inteligência artificial já é capaz de conectar esse alerta a um comando que, por exemplo, reduza automaticamente a velocidade do veículo em um caso de o motorista ignorar o aviso.
A tendência é que cada vez mais a tecnologia seja capaz de reduzir o fator irresponsabilidade de quem coloca as mãos ao volante. O sono é inerente a qualquer ser humano, mas hoje já temos a solução para que ele não seja uma ameaça a quem dirige e a quem caminha de forma inocente em uma calçada ou próximo a acostamentos. Ao mirar para os nossos olhos, uma lente inteligente não só ascenderá um alerta, como impedirá um possível acidente, agindo como um ‘anjo da guarda padrão’ dentro de todos os veículos do planeta.
*Sidnei Canhedo é biólogo e gestor da Optalert, empresa australiana, líder mundial na tecnologia de controle de fadigas.
*Por Sidnei Canhedo
Antes de comentar sobre esse cenário otimista é preciso entender o tamanho do drama que ainda vivemos em nossas pistas. Na maioria dos casos o sono chega sorrateiro, tímido e disfarçado de sutileza. Rapidamente, começa a tomar conta da atenção de quem está ao volante. Movido pela pressa ou teimosia, o condutor tenta vencê-lo, minimizá-lo ou enganá-lo. Abre a janela, toma um gole d’água e aumenta o volume da música na tentativa de ignorá-lo. Tenta falar mais alto o espírito de invencível ou daquele que faz o leviano cálculo do ‘dá para aguentar até chegar’ ou ‘só falta mais um pouco’. O final de muitas dessas cotidianas e impiedosas batalhas é trágico. O irresponsável sempre é vencido.
Cenas como essa não encontram fronteiras, são globais. Mas o Brasil figura em um triste destaque no ranking mundial. As mortes causadas por cansaço por aqui contribuem para nos posicionar como o 5o país onde as pessoas mais morrem por acidentes no trânsito, atrás de Índia, China, EUA e Rússia, de acordo com levantamento da ONU, realizado no final de 2019, antes da pandemia. Segundo o Ministério da Saúde, no mesmo ano, o Brasil teve quase 32 mil vítimas fatais.
Nesse contexto, o cansaço representa o grande vilão das estradas nacionais. De acordo com estudo realizado pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET) em parceria com a Academia Brasileira de Neurologia e com o Conselho Regional de Medicina, 42% dos acidentes estão relacionados ao sono e 18% por fadiga. Somados, os 62% pintam um retrato complexo do tamanho do problema e do quanto pode ser fatal conduzir com sono ou fadiga.
Mas esse quadro desafiador tem tudo para fazer parte de um terrível passado se a tendência de reguladores, em abraçar a tecnologia como arma preventiva, for adotada por todos os governos do mundo.
A corrida por desenvolver carros elétricos cada vez mais eficientes e baratos também acontece em paralelo no quesito segurança de veículos. No caso do combate ao cansaço é a tecnologia de detecção de fadigas que tende a se tornar global, obrigatória, implantando sistemas inteligentes em todos os autos que saírem das fábricas.
No passado, ter uma câmera que contasse com um sensor capaz de sinalizar ao motorista que ele está com sono ou com fadiga e que corria o risco de acidentes, era algo apenas para carros mega tecnológicos, uma seleta gama dos top de linhas de cada montadora.
Hoje, a realidade é completamente distinta: os devices são acessíveis, a tecnologia de precisão evoluiu muito e a pressão da sociedade começa a surtir efeito para que a prevenção de fadiga seja democratizada e disponível em todos os veículos.
Sabemos que investir em educação de motoristas é fundamental, mas ela encontra barreiras estruturais, além de ter sempre efeitos no longo prazo. Exigir que um equipamento seja padrão de fábrica obrigatório é reforçar e acelerar as mudanças que salvarão vidas.
É o que fez a União Européia que a partir deste ano passa a obrigar todas as montadoras a entregarem vans, carros, ônibus e caminhões com um sensor que detecta fadiga ou distrações nos motoristas. O equipamento faz parte de um pacote chamado de New Safety Features in your Car (Novas Configurações de Seguranças no seu Carro). De acordo com o Bloco Europeu, 90% dos acidentes são causados por erros humanos e as novas tecnologias são essenciais para mitigar esse desafio.
A Europa dá um forte exemplo e fomenta o debate em um contexto mundial. Por outro lado, as próprias montadoras correm atrás de escolherem as tecnologias mais eficientes e seguras em uma competição saudável em que os motoristas serão os maiores beneficiados. Afinal, oferecer um sistema com sensores avançados, que contemple inteligência artificial e até seja capaz, por exemplo, de gerar relatórios transmitidos para um aplicativo de celular, é algo que agrega à marca.
Ter o equipamento padrão em novos carros é um avanço, mas há discussões, ainda tímidas, de obrigar a instalação em veículos seminovos, a fim de acelerar a redução de acidentes, nos mesmos moldes de atuação da indústria de mineração, onde mesmo frotas com veículos mais antigos contam com sistemas embarcados de detecção de sonolência.
Sabemos que por si só, ter a tecnologia não é garantia de que o motorista não se arriscará em dirigir cansado ou com sono. Também se discute se deveria obrigar que esses sensores mantenham registros de desobediência do aviso. A inteligência artificial já é capaz de conectar esse alerta a um comando que, por exemplo, reduza automaticamente a velocidade do veículo em um caso de o motorista ignorar o aviso.
A tendência é que cada vez mais a tecnologia seja capaz de reduzir o fator irresponsabilidade de quem coloca as mãos ao volante. O sono é inerente a qualquer ser humano, mas hoje já temos a solução para que ele não seja uma ameaça a quem dirige e a quem caminha de forma inocente em uma calçada ou próximo a acostamentos. Ao mirar para os nossos olhos, uma lente inteligente não só ascenderá um alerta, como impedirá um possível acidente, agindo como um ‘anjo da guarda padrão’ dentro de todos os veículos do planeta.
*Sidnei Canhedo é biólogo e gestor da Optalert, empresa australiana, líder mundial na tecnologia de controle de fadigas.