A oportunidade verde que aguarda por Lula em Paris
O principal ativo que o presidente brasileiro leva na bagagem são até US$ 200 bilhões de carbono absorvidos pela Amazônia todo ano
Colunista
Publicado em 14 de junho de 2023 às 10h36.
Depois de receber a Presidente da União Europeia tendo o meio-ambiente no centro da agenda, o presidente brasileiro vai a Paris na próxima semana para a "Cúpula por um novo pacto financeiro mundial". Trata-se de um encontro promovido pelo presidente francês, com a ambição de reformar a arquitetura das finanças mundiais para melhor responder aos desafios do aquecimento global.
O desafio é imenso: o Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas aponta que seria necessário investir entre US$ 2,4 trilhões a US$ 2,9 trilhões por ano até 2035 em energia limpa e sistemas de energia de baixo carbono para limitar o aquecimento global a 1,5°. Apenas no Brasil, para viabilizar o hidrogênio verde, o investimento necessário seria de aproximadamente US$ 200 bilhões, segundo estimativas do BNDES.
Do ponto de vista político, a União Europeia tem desenhado políticas públicas para atacar essa questão: estabeleceu metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 40% até 2030, em comparação com os níveis de 1990, e está empenhada em se tornar neutra em carbono até 2050. Esse nível de compromisso político é uma prova que existe boa convergência entre os Estados-membros sobre a importância do tema.
Do lado do Brasil, a viagem se dá em um momento em que o arcabouço da política do meio-ambiente no Brasil está sob ataque pela Câmara, situação que é tristemente assistida em silêncio por uma parte significativa da elite econômica: um enorme erro que vai cobrar um preço em nosso futuro. O outro arcabouço, o fiscal, tem excesso de alistados em sua defesa. É uma lamentável constatação que no Brasil a agenda ambiental não tenha a convergência necessária para ações de políticas públicas, como as da União Europeia.
Estamos em outra década nesse debate, e quem parece estar dando as cartas é a parte mais atrasada dos atores: o centrão reacionário da Câmara, com os interesses alinhados aos setores extrativistas. Definitivamente não será daí que sairá uma política ambiental alinhada com o Século XXI, e ficar em silêncio diante desse fato – porque se julga que a configuração de poder na Câmara é uma garantia de uma agenda econômica "liberal" – é de uma insensatez estratégica inominável. Para dizer o mínimo.
Principal ativo
Equilibrando-se nessa situação política desfavorável, o principal ativo que Lula leva na bagagem são os 1,5 a 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) que a Amazônia brasileira absorve por ano. A um preço médio de US$ 100 por tonelada de carbono na Comunidade Europeia, isso significa entre US$ 150 a 200 bilhões anualmente.
Ou, ainda, em termos econômicos: o valor financeiro do dióxido de carbono (CO2) que a Amazônia brasileira absorve por ano daria para financiar quase 10% de toda a necessidade de investimento global em energia limpa. É o maior ativo verde do mundo e um dos maiores fluxos de caixa livre em volume que se tem notícia em qualquer projeto de qualquer setor no mundo.
A bancada reacionária da Câmara não pensa assim. Vamos deixar eles nos guiar nesse tema? Um pouco de pragmatismo, econômico inclusive, nos obrigaria a ficar do lado do modelo para o meio-ambiente desenhado pelo Executivo: de preferência com palavras e ações públicas. Democracia representativa funciona melhor com os representados ativos.
Depois de receber a Presidente da União Europeia tendo o meio-ambiente no centro da agenda, o presidente brasileiro vai a Paris na próxima semana para a "Cúpula por um novo pacto financeiro mundial". Trata-se de um encontro promovido pelo presidente francês, com a ambição de reformar a arquitetura das finanças mundiais para melhor responder aos desafios do aquecimento global.
O desafio é imenso: o Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas aponta que seria necessário investir entre US$ 2,4 trilhões a US$ 2,9 trilhões por ano até 2035 em energia limpa e sistemas de energia de baixo carbono para limitar o aquecimento global a 1,5°. Apenas no Brasil, para viabilizar o hidrogênio verde, o investimento necessário seria de aproximadamente US$ 200 bilhões, segundo estimativas do BNDES.
Do ponto de vista político, a União Europeia tem desenhado políticas públicas para atacar essa questão: estabeleceu metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 40% até 2030, em comparação com os níveis de 1990, e está empenhada em se tornar neutra em carbono até 2050. Esse nível de compromisso político é uma prova que existe boa convergência entre os Estados-membros sobre a importância do tema.
Do lado do Brasil, a viagem se dá em um momento em que o arcabouço da política do meio-ambiente no Brasil está sob ataque pela Câmara, situação que é tristemente assistida em silêncio por uma parte significativa da elite econômica: um enorme erro que vai cobrar um preço em nosso futuro. O outro arcabouço, o fiscal, tem excesso de alistados em sua defesa. É uma lamentável constatação que no Brasil a agenda ambiental não tenha a convergência necessária para ações de políticas públicas, como as da União Europeia.
Estamos em outra década nesse debate, e quem parece estar dando as cartas é a parte mais atrasada dos atores: o centrão reacionário da Câmara, com os interesses alinhados aos setores extrativistas. Definitivamente não será daí que sairá uma política ambiental alinhada com o Século XXI, e ficar em silêncio diante desse fato – porque se julga que a configuração de poder na Câmara é uma garantia de uma agenda econômica "liberal" – é de uma insensatez estratégica inominável. Para dizer o mínimo.
Principal ativo
Equilibrando-se nessa situação política desfavorável, o principal ativo que Lula leva na bagagem são os 1,5 a 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) que a Amazônia brasileira absorve por ano. A um preço médio de US$ 100 por tonelada de carbono na Comunidade Europeia, isso significa entre US$ 150 a 200 bilhões anualmente.
Ou, ainda, em termos econômicos: o valor financeiro do dióxido de carbono (CO2) que a Amazônia brasileira absorve por ano daria para financiar quase 10% de toda a necessidade de investimento global em energia limpa. É o maior ativo verde do mundo e um dos maiores fluxos de caixa livre em volume que se tem notícia em qualquer projeto de qualquer setor no mundo.
A bancada reacionária da Câmara não pensa assim. Vamos deixar eles nos guiar nesse tema? Um pouco de pragmatismo, econômico inclusive, nos obrigaria a ficar do lado do modelo para o meio-ambiente desenhado pelo Executivo: de preferência com palavras e ações públicas. Democracia representativa funciona melhor com os representados ativos.