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A nova economia da longevidade

Saúde, lazer, cultura, turismo, educação e tecnologia estão sendo remodelados por um público maduro

Envelhecer agora é sinônimo de viver intensamente (Halfpoint images/Getty Images)

Envelhecer agora é sinônimo de viver intensamente (Halfpoint images/Getty Images)

Publicado em 7 de outubro de 2025 às 14h43.

Por Fatima Torri, criadora da plataforma digital Fala Feminina

 

“Envelhecer não é sinônimo de perda, mas de ganho de valor — para pessoas e empresas.”

 

O envelhecimento deixou de ser um tema periférico para se tornar central na vida em sociedade. A cada ano, a expectativa de vida aumenta e o Brasil caminha para ter, em poucas décadas, mais idosos do que jovens. Essa transformação demográfica, longe de ser apenas estatística, redefine o modo como trabalhamos, nos relacionamos e projetamos o futuro. Se antes envelhecer era associado ao declínio, hoje surge como possibilidade de protagonismo — tanto individual quanto coletivo.

A ciência já mostrou que o cérebro permanece plástico, capaz de aprender e criar até os últimos anos de vida. A experiência acumulada ao longo de décadas é um ativo intangível que não pode ser replicado por algoritmos. No entanto, o imaginário social ainda associa maturidade à perda, ao peso e à obsolescência. Esse estigma, mais do que a idade em si, é o verdadeiro obstáculo para que a longevidade seja vivida em potência.

As empresas, por sua vez, estão diante de um desafio estratégico: enxergar os profissionais 60+ como ativos e não como custo. Em um mercado obcecado pela juventude, abrir espaço para a maturidade é não apenas uma questão ética, mas de sobrevivência. Em setores que demandam visão sistêmica, tomada de decisão em cenários complexos e capacidade de formar equipes, a bagagem acumulada é diferencial competitivo. Líderes mais velhos podem oferecer mentoria, estabilidade e perspectivas de longo prazo — justamente o que falta em tempos de volatilidade.

Ao mesmo tempo, a economia da longevidade já movimenta trilhões de dólares no mundo. Saúde, lazer, cultura, turismo, educação e tecnologia estão sendo remodelados por um público maduro, exigente e conectado, que não aceita ser reduzido ao estereótipo do “velhinho dependente”. Trata-se de uma geração que consome, viaja, estuda, empreende e busca significado. Ignorar essa força é desperdiçar oportunidades de inovação e de mercado.

No plano individual, envelhecer também se torna um exercício de escolha. É a chance de reorganizar prioridades, investir em vínculos e cultivar projetos com propósito. Se a juventude está marcada pela urgência de provar, a maturidade pode ser o tempo da liberdade de ser. É quando se pode decidir com mais clareza o que vale a pena — e o que já não precisa ser carregado. Nesse sentido, a velhice não é uma prisão, mas um território de reinvenção.

A questão central não é apenas “como vamos envelhecer”, mas “quem queremos ser quando envelhecermos”. O futuro está aberto e será moldado pelas nossas atitudes no presente. Para que a longevidade seja potência, será preciso coragem para abandonar estigmas, flexibilidade para aprender continuamente e abertura para cultivar novas formas de viver.

Envelhecer é, no fundo, um verbo ativo. É atravessar o tempo e, ao mesmo tempo, deixar-se transformar por ele. É crescer, e não encolher. É ocupar o espaço com novas perguntas, com mais afeto, com maior clareza sobre o que importa. O que parecia destino agora pode ser escolha. E talvez o maior ato de liberdade do nosso tempo seja assumir o envelhecimento como uma arte.