Tomar decisões (Foto/Thinkstock)
EXAME Saint Paul
Publicado em 3 de julho de 2025 às 16h15.
*Alexandra Olivares
Como estrangeira percebo com otimismo as vantagens e possibilidades de estudar, trabalhar e lecionar no Brasil, uma nação gigante, diversa e relacional. Os afetos ou as relações interpessoais vão tecendo um pano de fundo que sustenta e influencia o dia-a-dia dos brasileiros, possibilitando um maior jogo de cintura, seja no time de futebol ou no mundo corporativo. A forma de se relacionar no Brasil é no meu olhar um dos traços mais interessantes da cultura local, da "nossa Brasilidade".
Na era atual dos negócios, no coração da pós-modernidade, entender o mundo complexo onde estamos inseridos e tomar decisões tem se tornado cada vez mais desafiador, pelo infinito número de variáveis técnicas e humanas, como as necessidades e sentimentos conflitantes entre os diversos públicos.
Neste cenário, o traço relacional da "nossa brasilidade" pode se tornar um diferencial, para isso vou recorrer de forma sucinta ao campo da filosofia, da neurociência e da economia comportamental.
No final do século XIX surgiu o perspectivismo, uma corrente da filosofia com o Nietzsche como principal referência. Nietzsche argumentava que perante a inexistência de verdades absolutas podemos buscar a construção coletiva de conhecimento, integrando as diversas interpretações ou perspectivas alheias.
O perspectivismo convida ao questionamento de nossa própria perspectiva possibilitando ampliar o repertório com a escuta ativa das perspectivas dos outros.
Já no século XX diversos Neurocientistas como o António Damásio e Richard Boyatzis, dentre outros autores, descobriram que seres humanos possuímos uma capacidade inata de reconhecer emoções e sentimentos humanos em si mesmo ou nos outros, capacidade relacionada com a ativação de circuitos neurais específicos como a rede padrão (Default Mode Network).
Ao longo de diversas experiências de vida, especialmente no exercício cotidiano do relacionamento interpessoal, os seres humanos ficam cada vez mais aptos a perceber a própria subjetividade e, ao mesmo tempo imaginar as perspectivas subjetivas de outros indivíduos.
Neste século de novas descobertas na economia comportamental, nem sempre conhecidas pelos tomadores de decisão, graças às contribuições do Daniel Kahneman, em colaboração com Olivier Sibony e Cass R. Sunstein, adotamos o perspectivismo da filosofia e ativamos as redes neurais da autoconsciência emocional e empatia das neurociências, para administrar vieses e ruídos, reduzindo potenciais efeitos negativos na tomada de decisões.
Kahneman sugere que diante de um julgamento complexo é essencial decompor o assunto da decisão em seus múltiplos elementos, avaliando cada um de maneira independente, identificando as perspectivas de cada parte envolvida na decisão.
Você, tomador de decisão C-Level, conselheiro ou acionista, saiba que chegou a hora de descobrir onde as perspectivas dos outros diferem das suas e com a visão externa, disponível na diversidade de pessoas e relações traz um valor único. O que você faz para ampliar relacionamentos? Como você cuida dos seus relacionamentos? Quais são as pessoas que você questiona nas decisões difíceis? Você solicita feedback? Você oferece feedback? Talvez a precisão exista no exercício do perspectivismo, uma interseção entre a presença, humildade, escuta genuína e generosidade de quem decide e valoriza o poder ético das relações, se permitindo olhar para o mundo nos olhos dos outros.
*Alexandra Olivares, Conselheira de Administração, Diretora do Programa Avançado para CEOs, Conselheiros e Acionistas SEER, da Exame | Saint Paul e Docente de Neurociência Aplicada a Tomada de Decisões. Formada em Ciências Contábeis e Finanças na UCAB (Venezuela), Mestre em Administração de Empresas na ESADE (Espanha), Especialista em Neurociência Aplicada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa (Brasil), Pós MBA em Desenvolvimento Avançado para Conselheiras de Administração da Saint Paul e certificada pela Columbia Business School em Ciências Comportamentais Aplicadas.