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“Tá bom, tá fechado, eu quero!” - da série Entrevistas Pé na Areia

Luah Galvão entrevista Pâmea Fagundes em sua jornada de transição e empreendedorismo na Bahia. Ficam aqui dicas de quem teve sucesso em múltiplos negócios.

 (Pâmea Fagundes | Foto: Dan España/Site Exame)
(Pâmea Fagundes | Foto: Dan España/Site Exame)
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Publicado em 14 de fevereiro de 2022 às, 22h34.

“No Flow e de Leve Alma”- essa é uma frase que não só junta os nomes de 2 das marcas da minha entrevistada Pâmea Fagundes França, como, sem querer; ou não, a descrevem super bem.

Nascida no ABC Paulista, Pâmea tinha uma vida certinha e bem regrada. Formada em pedagogia, trabalhava como professora em dois empregos, incluindo uma escola da Prefeitura de São Caetano, a noite fazia pós-graduação. Em 2015 estava prestes a casar com Rodrigo A. Costa - que na época empreendia junto com a irmã uma empresa de ar-condicionado em São Paulo. O casal estava financiando seu primeiro apartamento e já tinham todos os planos feitos para um lindo casamento pé na areia no final do ano. Apesar da correria da vida metropolitana, tudo estava correndo bem...

Até que um casal de amigos que não conseguiria participar presencialmente do casório, resolveu presentear os pombinhos com uma viagem para Itacaré; vilarejo “verdejante” na costa baiana. Os noivos aceitaram. Foram 6 dias de sol e praia a convite de Pedro; amigo de infância da Pâmea, que havia largado a cidade grande para montar com a companheira Laíssa uma pousada. Eles curtiram, descansaram, conversaram, trocaram informações... E foi aí que toda a história de uma vida rotineira começou a mudar.

Ao se deparar com o estilo de vida dos amigos - bermuda, canga, chinelo, ar puro, esporte e muita natureza, entraram em choque com a vida que estavam construindo em São Paulo. Na Bahia a vida era outra, regida por um outro tempo... 

“Se ele pode eu também posso”, pensou ela em relação ao amigo Pedro. Eles haviam crescido no mesmo bairro, feito a mesma escola, tinham uma idade próxima - o espelhamento foi imediato. 

O período em Itacaré plantou várias perguntas na cabeça dos noivos. Os questionamentos foram tantos que antes de embarcar de volta pra casa, Pâmea já imaginava qual seriam seus próximos passos. Chegou, e em um movimento obstinado e certeiro, começou a pesquisar valores de arrendamento de pousadas em Itacaré. “Foi a atitude mais rápida que tive na minha vida” - disse. Sem olhar para trás, foi arquitetando os passos de uma possível transição.

(Leve Alma Itacaré | Pâmea Fagundes/Site Exame)

Os meses seguintes foram de uma correria imensa que começou pelo cancelamento do casório. Ela e o Rodrigo decidiram usar o dinheiro da festa para pensar em um novo negócio no litoral. O amigo Pedro ofereceu ajuda caso quisessem seguir no ramo de hotelaria. Eles aceitaram. 

Rodrigo, como era empreendedor, deixou a empresa aos cuidados da irmã e voltou para Itacaré para conferir alguns lugares que selecionaram online. O casal tinha visto uma pousada com um valor muito bom e apesar de “alguns problemas”, ele fechou negócio. Tempos depois, Pâmea conseguiu uma dispensa programada no trabalho e foi para Bahia conferir as novidades. “Quando cheguei quase tive um treco. O lugar parecia um castelo dos horrores. Terrível. Eu queria desistir, mas já não dava mais. Então se é o que temos, tenho que me conformar.” – contou ela. Rodrigo, mais visionário, conseguia ver potencial no lugar e acalmou a companheira. Seguiram adiante. As características complementares dos dois ajudaram no negócio. Ela, uma virginiana ativa, criativa e com muito espírito de liderança. Ele, um capricorniano resiliente, paciente e inteligente (como ela os definiu). Mas ambos com um excelente ponto conector: a ausência de MEDO. Arregaçaram as mangas e começaram a levantar o lugar! Batizaram de Pousada Tikuna.

“Eu fui para Itacaré sem a menor expectativa. Itacaré não era conhecida como é hoje, e eu não pesquisei nada. Eu tinha uma ideia completamente diferente da cidade.” 

E tudo foi mesmo muito diferente do que haviam imaginado. Ela nunca teve um emprego sem carteira assinada, não sabia como seria. Trabalharam demais fazendo de tudo um pouco: café da manhã, recepção, faxina, contas, compras, tudo! Tiveram também que aprender a viver juntos e morar no lugar onde trabalhavam. Foram muitas adaptações e aprendizados, mas sem arrependimentos. A vida na praia tinha uma nova cor e um novo sabor.

Quando chegou ao final do primeiro ano na Bahia, resolveram vender o apartamento. Ela pediu exoneração do cargo, e ele passou a bola da empresa para irmã. Soltaram as seguranças que ainda os conectavam à cidade grande e resolveram se entregar de corpo e alma pra vida nova. 

Com o tempo, o casal percebeu que muitos dos empreendedores de Itacaré tinham múltiplos negócios, distribuindo seus ovos em várias cestas. Foi aí que surgiu a ideia de avançarem abrindo mais dois pontos comerciais. Pâmea compartilhou suas ideias com o pai Celso C. França, que mudou de São Paulo para Itacaré para ajudar na empreitada. Celso se associou ao casal, e ela saiu na frente abrindo portas. Primeiro nasceu a “Leve Alma” – revenda de uma marca de roupas de Salvador. Na época os sócios não tinham nenhuma expertise na área, mas ela tinha amado o estilo das roupas, e sentiu que devia seguir adiante. A Leve Alma foi mais uma das conquistas da Pâmea que com muito jeito, visão e parceria, conseguiu levar a marca para Itacaré.

“Na primeira compra no showroom não sabia nada. Coitada da pessoa!!” – disse brincando com a sua falta de conhecimento na época, e emendou “Mas sempre que sigo meu instinto, dá certo. Escolhi produtos que compraria pra mim e pro meu marido. Como a marca não conhecia Itacaré, não sabiam o quanto eu deveria comprar.” Sete dias depois da inauguração, ela já sentiu o tamanho do sucesso, ao mesmo tempo em que percebeu que os produtos escolhidos não iriam durar nem os 2 primeiros meses do verão. O desespero bateu. Foi aí que começou uma saga de muitas idas e vindas para Salvador hackeando peças extras para abastecer a loja recém-inaugurada. 

(Leve Alma Itacaré/Site Exame)

Hoje ela conta com orgulho: “Foi um encontro de almas. Eles sempre foram como pais pra mim. A parceria foi boa pra todo mundo. A gente tem uma relação de contribuição muito bacana. Eles me dão muita escuta, temos um feedback aberto e estamos o tempo todo trocando informações.”

E em 2019 o trio montou a “Flow” – uma loja de roupas e objetos interessantes produzidos por estilistas e artistas da Bahia. Colheu por um tempo os frutos do novo negócio e depois... acho que já dá pra imaginar, veio a Pandemia. A Bahia ficou fechada por vários meses. A incerteza em relação ao futuro bateu, assim como para todos os empreendedores que dependem de suas portas abertas. O contexto foi complexo, mas a Pâmea; dona de uma alma guerreira, redirecionou o barco, cortou custos, mudou a localização da loja. Se reinventou. E quando a cidade voltou a abrir, a Flow estava em um novo canto, de braços abertos para clientes locais e turistas. 

(Flow Itacaré | Foto: Dan España/Site Exame)

Hoje, segue feliz da vida com suas duas lojas fortalecidas. Com o tempo criou um cronograma de vendas e um padrão de atendimento customizado para as lojas que a equipe segue. Ela e o pai Celso focaram nas duas lojas e a Pousada, vai muito bem obrigada, com a gerência do seu companheiro.

Próximos planos? Construir a casa dos sonhos, mantendo a Pousada apenas como negócio e não mais como moradia. O terreno já foi escolhido e os contornos da casa já estão delineados no mundo das ideias. 

E sobre seus aprendizados com a transição de vida ela compartilha: “Mudei muito vindo pra cá. Aprendi a viver mais no flow, antes tudo tinha que ser extremamente controlado. Eu não sou mais aquela pessoa. Agora eu crio primeiro, pois sei que a coisa vai fluir. Amo viver aqui. Não tenho a menor dúvida da mudança que fiz.”

(Flow Itacaré | Foto: Dan España/Site Exame)

A Pâmea é uma sonhadora-realizadora que inspira pela certeza que expressa no olhar. Quando perguntei sobre seu propósito de vida, ela deu uma resposta muito interessante que talvez sirva de norte para a realização dos futuros sonhadores:

“Não consigo definir meu propósito de vida em uma frase. O que sei é que gosto de viver tudo intensamente e não gosto de ter dúvidas. Não existem escolhas certas ou erradas, existem escolhas! A dúvida não é um lugar confortável pra mim.”

Pois é, falou e disse. Sinto que realmente o lugar de dúvida é o que mais paralisa a semeadura. Muitos projetos e negócios nem chegam a nascer pois se perdem em um mar de pontos de interrogação. E se teve algo que aprendi com o meu delicioso contato com a Pâmea foi: uma vez tomada uma decisão com o coração, não olhe pra trás, e vivencie, de alma leve, o flow dos acontecimentos e aprendizados do porvir. 

E pra encerrar, quando perguntei: A vida é mágica pra você? Ela assim me responde: 

“Nossa, totalmente! Tudo é possível, tudo é possível. Todos os dias eu vejo milagres acontecerem. Mágicas e milagres. Acredito muito nisso!”

(Pâmea Fagundes | | Foto: Dan España/Site Exame)

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E pra você que quer empreender, confira com a gente alguns insights do nosso bate-papo que podem te inspirar no seu negócio:

Você acha que seus negócios tem um propósito? “Isso com certeza. Minha Pousada tem como propósito o acolhimento. Já nas lojas, o propósito é ‘Leve a Bahia com você’. Quero proporcionar uma experiência real com as coisas daqui, e não que elas levem pra casa como lembrança algo feito na China.”

Como você escolhe os seus colaboradores? “Também ouço meu sexto sentido nas entrevistas que faço. Nem sempre a pessoa mais óbvia é aquela que acaba se saindo melhor. Aprendi que não existe um padrão.”

Pâmea, quais as três dicas importantes pra quem quer empreender?

1)“Confiar no seu sexto sentido” - quando eu vejo um catálogo por exemplo, se algo me bate estranho eu não compro, independente se quem está me vendendo diz que vai sair muito, etc. No fundo a gente sabe das coisas sobre nosso negócio. É que a gente não se ouve. 

2)“Tratar colaboradores, clientes e donos do local sem hierarquia” - a igualdade aproxima pessoas. Minha equipe não chama cliente de senhor e senhora e não coloca a mão para trás por exemplo. Acabamos ganhando muitos amigos que eram clientes tanto nas lojas quanto na Pousada.

3)“Acreditar no seu negócio” – até mesmo quando existe um concorrente que imita exatamente o que você faz. Eu confio no meu negócio, eu confio no meu produto e na proposta do meu atendimento. Se estão copiando é porque o que estamos fazendo está dando certo!

Frase da entrevista que define a personalidade da Pâmea:

“Tá bom, tá fechado, eu quero!”

Ela é assim, vibrante, forte, decidida. Um exemplo muito legal para quem quer sonhar e realizar. 

>>> Essa é a primeira entrevista de alguns papos interessantes que tive no litoral da Bahia ano passado. Conheci pessoas que me inspiraram muito por suas trajetórias, seu jeito de empreendedor e seu brilho no olhar. Fiquei com vontade de compartilhar essas "Conversas Pé na Areia”. De uma forma descompromissada e gostosa, muitas ideias e insights bacanas emergiram, transbordando aqui para o Blog. 

Pra aqueles que curtem esse canal, sigam nos acompanhando que novas entrevistas vão pintar no front.<<<

Por Luah Galvão