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O lúdico como ferramenta de engajamento, motivação e conexão – série Daniel Pink

Em seu livro Daniel Pink traz um capítulo inteiro destinado a esse assunto, apontando as benesses de incorporarmos o lúdico em nosso dia a dia

 (Owen Gildersleeve/Divulgação)
(Owen Gildersleeve/Divulgação)
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O que te motiva

Publicado em 6 de março de 2023 às, 15h08.

Última atualização em 9 de março de 2023 às, 15h05.

Essa é mais uma matéria que uso como base o livro “O Cérebro do Futuro” de Daniel Pink. Com ela fecho essa série de 3 pautas com temas desse livro que achei bem interessantes de compartilhar. A primeira trouxe como core a empatia, a segunda fala sobre a necessidade cada vez maior de profissionais com as habilidades do lado direito do cérebro desenvolvidas, e essa última vai tratar sobre o lúdico como ferramenta de motivação.

Em seu livro Daniel Pink traz um capítulo inteiro destinado a esse assunto, apontando as benesses de incorporarmos o lúdico em nosso dia a dia e em nossas relações, principalmente sob a ótica do ambiente profissional.

E para abrir a matéria, escolhi uma citação do professor Brian Sutton-Smith da Universidade da Pennsylvania:

"O contrário do lúdico não é trabalho, é depressão. O lúdico é ação e desejo, alegria e compromisso, é como estar seguro das próprias possibilidades."

Trabalho e diversão já foram uma duplinha extremamente temida, uma combinação que já arrepiou muitos gestores ao redor do mundo. Henry Ford – empreendedor, engenheiro e fundador da Ford Motor Company, por exemplo, era um representante desse time.

Daniel Pink conta em seu livro que por volta dos anos 30 e 40, na fábrica da Ford de River Rouge, o riso era uma falta disciplinar - e murmurar, sussurrar ou sorrir eram sinais de insubordinação. Para se ter uma ideia, em 1940 “o colaborador John Gallo foi demitido por ser flagrado em ‘atitude sorridente’ depois de ter cometido uma violação anterior rindo com seus companheiros e atrasando a linha de produção em talvez meio minuto”.

“Trabalho e diversão são uma combinação nociva. Se não permanecerem afastados, um irá envenenar o outro. Quando estamos trabalhando, temos de trabalhar. Quando estamos nos divertindo, temos de nos divertir. Não faz sentido tentar misturar as duas coisas.” – criticava Henry Ford.

E essa diretriz de forma alguma estava restrita ao fundador da Ford, era absolutamente comum ao pensamento da época. Mas para sorte divina, com a passagem do tempo, “Misturar trabalho e diversão tornou-se não só mais comum, mas também mais necessário. O Homo ludens (homem lúdico) está mostrando que é tão eficiente quanto o Homo sapiens (homem intelectual) na hora de dar conta do recado. O lúdico está se tornando parte importante do mercado de trabalho, dos negócios e do bem-estar pessoal, e essa importância assume três formas: jogos, humor e alegria. Os jogos, seja de computador ou videogames, se transformaram num setor gigantesco capaz de ensinar lições sistêmicas a quem os utiliza. O humor está se mostrando um parâmetro preciso de eficácia gerencial e inteligência emocional. E a alegria está demonstrando seu poder de nos tornar mais produtivos e realizados.” – traz Pink em seu livro. E segue:

“O humor engloba muitos dos mais poderosos atributos do hemisfério direito da nossa massa cinzenta: a capacidade de colocar as coisas em contexto, de ter visão de conjunto e de combinar diferentes perspectivas num alinhamento inteiramente novo. E isso torna o lúdico um aspecto cada vez mais importante no mercado de trabalho.

Posto isso, é interessante darmos um zoom em estudos e pesquisas que explicam a importância do humor também em nossas relações e em nossa saúde. Assim ampliamos o escopo das benesses causadas pela prática do lúdico em nossas vidas. E Daniel Pink aponta uma série citações para embasar seu livro. Selecionei aqui algumas delas:

"Mais de quatro décadas de estudos realizados por diversos pesquisadores confirmam que o humor, se usado com habilidade, azeita as engrenagens do gerenciamento. Ele reduz a hostilidade, evita as críticas, alivia as tensões, eleva a moral e ajuda a passar mensagens difíceis.” E olhem que interessante, uma pesquisa feita com executivos apontou que os mais eficientes do grupo pesquisado usavam o humor com o dobro da frequência do que os gerentes medianos. “Ter facilidade natural para o humor está intimamente ligado a uma característica gerencial muito mais ampla; a inteligência emocional.” - esse parágrafo foi extraído por Pink da revista Harvard Business Review e escrito pelo consultor Fabio Sala.

O humor pode ser uma força de coesão nas organizações - como qualquer um que já trocou piadas diante do bebedouro ou riu com os colegas na hora do almoço é capaz de compreender. “Está na hora de resgatar o humor de sua condição de mero entretenimento e reconhecer sua verdadeira natureza: uma forma sofisticada e profundamente humana de inteligência que está se tornando cada vez mais valiosa e não pode ser reproduzida por computadores.”

Já para o físico indiano Dr Madan Kataria: "O riso pode exercer um papel preponderante na redução do estresse no local de trabalho. Muitas empresas acreditam que pessoas sérias são mais responsáveis. Isso não é verdade, era o que se acreditava antigamente. Pessoas que riem são pessoas mais criativas e mais produtivas. Pessoas que riem juntas conseguem trabalhar melhor juntas". O Dr Kataria é fundador da Yoga do Riso e autor de diversos livros.

E encerro os principais insights com um mais uma citação, dessa vez extraída por Pink do livro Laughter: A Scientific Investigation (Riso: Uma Investigação Científica) escrito pelo neurocientista Dr Robert Provine: "A literatura científica oferece apoio crescente das propriedades analgésicas do humor e do riso. Eles ativam o sistema cardiovascular, aumentam a frequência cardíaca e bombeiam mais sangue para os órgãos internos.”

Antes de encerrar vale lembrar que a origem da palavra lúdico vem do latim “ludos” que remete aos jogos e divertimento. Não é de hoje portanto que o lúdico tem um espaço reservado em nossas relações e atividades sociais. A brincadeira, o riso, a descontração e a diversão conectam pessoas, ajudam a dar leveza aos ambientes e melhoram nossa saúde, pois disparam uma série de substâncias químicas que são benéficas ao nosso organismo. O lúdico na justa medida, é portanto, uma grande ferramenta de engajamento, motivação e conexão. Vale a pena ser incentivado e praticado, dentro e fora do universo corporativo.

Inspirada por todo esse assunto, fiz uma entrevista muito bacana com Roberto Caruso, CHO - Chief Happiness Officer da ÜMORIZAR, a 1a Agência de Comunicação, Alegria e Criatividade Humorizada do Brasil. Ele também é o criador do conceito e prática da metodologia “Gestão Corporativa Bioemocional”. Essa será a próxima pauta aqui do blog “O que te motiva”. Pra quem curtiu o assunto, vale a pena acompanhar.

Por Luah Galvão – comunicadora 360 graus e criadora do projeto Walk and Talk – a Volta ao Mundo em busca da motivação.

>> Se você gostou dessa matéria, sugiro que leia também “O cérebro do futuro e o poder da empatia” e “A hora e a vez do lado direito do cérebro”