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As 11 características das Empresas Humanizadas

Quer saber se a empresa que você trabalha, lidera ou criou é uma empresa humanizada?! Então, vem com a gente...

 (Claudio Schwarz Purzlbaum via Unsplash/Site Exame)
(Claudio Schwarz Purzlbaum via Unsplash/Site Exame)
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Publicado em 3 de março de 2020 às, 13h17.

Última atualização em 3 de março de 2020 às, 13h31.

As diretrizes para a arte de liderar vêm se alterando de uma maneira cada vez mais veloz, acompanhando as macromudanças nas mais diversas áreas de nossas vidas. Com isso, uma tendência vem ganhando escala e profundidade: a liderança humanizada.

Mas antes de entrar nesse assunto, vale a pena rebobinar a fita do tempo até meados dos anos 90 para que possamos acompanhar a tendência de liderança que prevaleceu desde aquela época. Herdamos da década de 90 uma visão de gestão voltada ao resultado para os acionistas. Gigantes como GE (General Electric), liderada por Jack Welch, e Coca-Cola escreveram parte da história dos negócios e ditaram, na época, regras que tem sido seguidas desde então por muitas organizações. Focar na lucratividade e nos resultados a curto prazo para atender aos anseios dos investidores foi o alvo de muitos dos gestores. Para alcançar esse objetivo, muitas ações, nem sempre focadas no lado humano, acabaram sendo o norte de grandes conglomerados e empresas das mais variadas áreas. Relembrando algumas diretrizes dessa visão de gestão:

- Produzir mais por menos

- Garantir a satisfação dos acionistas acima de qualquer outro grupo de stakeholders (partes interessadas)

- Geração de ambientes competitivos

- Disseminação de uma cultura do ou/ou (ou esse ou aquele) ao invés de uma cultura do win-win (ganha-ganha)

- Visão compartimentada do negócio

- Poucos ganham em detrimento de muitos

Garantir, portanto o maior lucro no menor espaço de tempo, é o norte da gestão voltada aos resultados e o que acalenta a expectativa dos sedentos acionistas.

Mas, como toda tendência tem sua contramão, alguns líderes rumaram seus barcos para direção contrária - a da liderança humanizada, voltada para as pessoas. Um caminho que hoje tem se mostrado ser - a longo prazo, uma excelente escolha. Ao contrário do resultado voltado aos investidores, onde apenas um grupo se dá bem, o modelo de gestão humanizada visa beneficiar todas as partes interessadas ao redor da organização.

Agora sim, vamos ao assunto central do texto, compartilhando a visão e as características que fazem uma organização ser considerada “Humanizada”, levantadas através de uma pesquisa robusta feita pelos autores Raj Sisodia, David B. Wolfe e Jag Sheth e publicadas no livro Empresas Humanizadas - Pessoas, Propósito e Performance, finalmente lançado em português pela editora Alta Books.

Mas afinal, qual o conceito de uma Empresa Humanizada? Pra isso, nada melhor do que deixar os próprios autores responderem:

“Chamamos de empresas humanizadas as companhias que se esforçam por meio de suas palavras e ações para serem benquistas por todos os seus principais stakeholders - clientes, funcionários, fornecedores, comunidade e acionistas - alinhando os interesses de todos de tal forma que nenhum grupo de stakeholders ganhe em detrimento de outros; preferivelmente, todos prosperam juntos. Essas são empresas que ampliaram seu propósito para além da criação de riqueza para os acionistas, atuando como agentes para um bem maior. Vemos essas empresas não como discrepantes, mas como a vanguarda de uma corrente principal de negócios.

No livro Empresas Humanizadas, diversas organizações foram selecionadas para um longo período de pesquisa com diversas fases. Durante esse período, foram entrevistados todos os grupos de stakeholders ao redor de cada uma das empresas. Ao final das pesquisas e estudos subsequentes, 72 organizações receberam essa classificação, e estão distribuídas da seguinte forma:

-28 Empresas Americanas de Capital Aberto (Ex: Harley-Davidson, 3M, Starbucks, Cotsco, Southwest Airlines,…)

-29 Empresas Americanas de Capital Fechado (Ex: REI, Trader Joe’s, New Balance, Patagonia,…)

-15 Empresas não Americanas - das quais, 13 são de capital aberto e 2 de capital fechado.

A lista acima lista inclui empresas nos seguintes países: Alemanha, Índia, México, França, Japão, Suécia, Espanha, Dinamarca, Coréia do Sul e Reino Unido. (Ex: BMW, IKEA, Honda, Novo Nordisk,…)

À partir dos dados levantados, foi possível traçar um perfil comum entre essas organizações. Aqui vão então as 11 principais* características das Empresas consideradas Humanizadas:

1-Possuem um propósito de existência que vai além do aspecto financeiro

2-Alinham harmoniosamente os interesses de todos os stakeholders

3-Possuem um menor gap salarial entre os cargos de liderança e as demais funções

4-Remuneram melhor seus colaboradores e dão mais benefícios em comparação com empresas da mesma categoria

5-Investem consideravelmente em treinamento de colaboradores

6-Possuem uma baixa rotatividade de colaboradores em relação ao segmento em que estão inseridas

7-Investem menos que as concorrentes em marketing
(E mesmo assim, a satisfação e retenção de clientes permanece elevada - comentário dos autores)

8-Vêem fornecedores como parceiros e colaboram com o seu progresso

9-Consideram que sua cultura corporativa é seu maior patrimônio

10-São inovadoras, em geral quebram convenções dentro das suas indústrias

11-Adaptam-se mais rapidamente aos cenários aos quais estão expostas e são mais resistentes a pressões de curto prazo

(*O livro traz algumas características extras que tomei a liberdade de sintetizar em 11, pois algumas são derivações dos mesmos tópicos.)

Se a organização onde você trabalha ou lidera cumpre esse checklist, então, parabéns, ela apresenta os principais pré-requisitos de uma Empresa Humanizada, já alinhada às premissas mais modernas de um futuro próspero. Mas será próspero mesmo?

Pois é, muitos devem estar se perguntando agora “Na filosofia, tudo parece ser muito bacana, mas e na prática, como ficam os resultados das empresas que fazem parte desse modelo de gestão?”

O mais interessante é que o livro traz uma excelente notícia - atenção investidores: as Empresas Humanizadas, a longo prazo, se mostram extremamente lucrativas. 

Compartilho abaixo um gráfico feito pelos autores do livro que mostra a evolução do faturamento das Empresas Humanizadas em comparação com as empresas eleitas pelo Índice S&P 500 (índice que aponta as 500 melhores empresas para investidores no mercado de ações) e as 11 Empresas citadas no livro “Good to Great - Empresas Feitas para Vencer” de Jim Collins, também classificadas como boas ou excelentes em relação aos resultados para os seus acionistas. Quando comparamos a tabela de lucratividade ao longo do tempo, fica clara a excelente rentabilidade das empresas que focam sua gestão em um aspecto mais humano do que estritamente financeiro. Esse é um maravilhoso paradoxo que merece atenção, ou talvez, paradoxo não seja a expressão correta, e sim uma constatação:

(Extraído do Livro Empresas Humanizadas)

Para os autores, esse conceito ganha eco em um momento especial, onde “O mundo dos negócios está experimentando amplas mudanças na compreensão de seus propósitos fundamentais e em como as empresas devem operar.” […] “Líderes desse novo contexto são campeões de uma nova e humanista visão do papel do capitalismo na sociedade. É uma visão que transcende as perspectivas mais estreitas da maior parte das empresas do passado, emergindo para alcançar o bem-estar comum.

Compartilho aqui um pouco do pensamento de Herb Kelleher, fundador e líder da  Southwest Airlines, empresa aérea low cost que faz parte da lista de Empresas Humanizadas, acumulando bilhões em mais 45 anos de operação, sem nunca perder dinheiro.

“Eu penso que a liderança é valorizar o tempo você gasta com a sua equipe mais do que qualquer outra coisa que venha a fazer”[…] “Seus colaboradores vêm em primeiro lugar. Se você tratá-los bem, sabe o que vai acontecer? Seus clientes voltam, e isso vai fazer os acionistas felizes. Comece com os colaboradores e o resto seguirá.”

E pra encerrar, na opinião dos autores de Empresas Humanizadas, qual o impacto dessa nova visão nas empresas que não se adaptarem a essa nova tendência?

“Os stakeholders estão exigindo cada vez mais das empresas uma gestão socialmente consciente. Os clientes votarão a favor disso fechando suas carteiras para empresas que não se alinharem. Os melhores colaboradores serão contratados em outros lugares. Fornecedores favorecerão as empresas que os tratam com respeito. Comunidades tornarão mais difícil a vida das empresas que colocam os acionistas acima de tudo. E os mercados financeiros restringirão o fluxo do capital e aumentarão o seu custo.”

Conhecer os principais traços de uma organização humanizada nos dá a expertise para avaliar não só as empresas onde trabalhamos, como orientar ou reorientar aquelas que lideramos, ou queremos empreender. E que venha um futuro mais humanizado e consciente, e não por isso, menos lucrativo. 

Por Luah Galvão

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Luah Galvão e Danilo España são idealizadores do Walk and Talk.