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Para mulheres, vacina não será só proteção ao vírus; colunista explica

Tivemos 648 feminicídios no primeiro semestre de 2020 e o IBGE estima que 7 milhões de mulheres perderam seus empregos durante a pandemia

Mulher durante protesto (LordHenriVoton/Getty Images)
DS

Daniel Salles

Publicado em 14 de janeiro de 2021 às 12h56.

Um novo ano se inicia e o assunto não poderia ser outro: a expectativa do início da vacinação. Tudo isso em meio a uma forte politização do assunto e negação da ciência. Mas essa vacina não virá apenas como uma forma de combater essa doença que tanto nos preocupa e que já levou mais de 200 mil vidas em nosso país. Seu impacto é muito maior. Muito maior do que a vontade de estar com quem amamos, muito maior do que a vontade de se sentir livre ao sair de casa, do que a vontade de viajar, todas as coisas que, para quem tem bom senso e espírito coletivo, foram deixadas de lado.

A pandemia mexeu com a saúde mental dos brasileiros, mas é possível dar a volta por cima. Descubra como

Logo no início da pandemia, a ONU Mulheres lançou um alerta sobre como a Covid-19 e as medidas de isolamento iriam afetar diretamente as mulheres, passando pela redução do atendimento de serviços de saúde essenciais,  aumento das ocorrências de violência doméstica e pela sobrecarga causada pela necessidade de equilibrar home office, cuidado com os filhos e com a casa.

Tivemos 648 feminicídios no primeiro semestre de 2020, o que representa 1,9% a mais que o mesmo período de 2019, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

O IBGE estima que 7 milhões de mulheres perderam seus empregos durante a pandemia. O estudo “Sem parar: o trabalho e a vida das mulheres na pandemia” da ONG “Gênero e Número” em parceria com a Sempreviva aponta que 72% das mulheres entrevistadas afirmam ter aumentado a necessidade de monitoramento e companhia das atividades de crianças, idosos ou pessoas com deficiência. E não deveria ser necessário uma crise em escala global para ressaltar a importância do trabalho de cuidado. Já 41% das mulheres que seguiram trabalhando e mantiveram seus salários, afirmam ter trabalhado mais durante a quarentena.

Um levantamento realizado pela Famivita aponta que 35% das brasileiras perderam empregos durante a pandemia, incluindo as trabalhadoras informais. Entre as mães com filhos pequenos, o percentual sobe para 39%, enquanto 52% perderam renda.

Com o (necessário) fechamento de creches e escolas, muitas mães não tiveram com quem deixar seus filhos e assim retomar suas atividades presenciais, mesmo que tomando todos os cuidados necessários. Sem causar nenhuma surpresa, a escolha por cuidar dos filhos prevaleceu sobre manter o emprego.

Vimos ainda a demissão massiva de cerca de 300 mil professores da educação básica da rede privada e a sobrecarga dos profissionais que mantiverem esse trabalho tão essencial, jornadas extenuantes para quem trabalha na linha de frente de combate à Covid-19, no caso da enfermagem que no Brasil é composta por 85% de mulheres (Fiocruz). Cerca de 70% dos trabalhadores domésticos, a maioria mulheres, não possuem Carteira de Trabalho assinada, ou seja, por estarem na informalidade não têm acesso a direitos como 13º salário, seguro-desemprego, FGTS entre outros benefícios. (IPEA)

Todos foram impactados por um vírus que não enxerga classe social, cor ou gênero, mas que em uma sociedade desigual, evidencia as disparidades e afeta ainda mais as pessoas em situação de vulnerabilidade social, física e emocional.

O levantamento Parent in Science respondido por quase 15 mil cientistas indica que apenas 34% das pós-doutorandas com filhos conseguiram submeter seus artigos científicos conforme o planejado, contra 58,4% dos homens na mesma situação.

Se no início da pandemia chegamos a ver a discussão absurda sobre o uso de máscaras e a liberdade individual, o mesmo não pode ocorrer aqui, em relação às vacinas. Se vacinar é um pacto social que mais do que proteger a nossa própria saúde, poderá ajudar milhares de pessoas, milhares de mulheres, a retomar suas vidas. Enquanto uma pessoa ainda estiver doente, todas e todos nós estaremos. O momento não é o de questionar a ciência e os órgãos reguladores, mas sim de colaborar.  Só dessa forma estaremos livres.

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Logo no início da pandemia, a ONU Mulheres lançou um alerta sobre como a Covid-19 e as medidas de isolamento iriam afetar diretamente as mulheres, passando pela redução do atendimento de serviços de saúde essenciais,  aumento das ocorrências de violência doméstica e pela sobrecarga causada pela necessidade de equilibrar home office, cuidado com os filhos e com a casa.

Tivemos 648 feminicídios no primeiro semestre de 2020, o que representa 1,9% a mais que o mesmo período de 2019, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

O IBGE estima que 7 milhões de mulheres perderam seus empregos durante a pandemia. O estudo “Sem parar: o trabalho e a vida das mulheres na pandemia” da ONG “Gênero e Número” em parceria com a Sempreviva aponta que 72% das mulheres entrevistadas afirmam ter aumentado a necessidade de monitoramento e companhia das atividades de crianças, idosos ou pessoas com deficiência. E não deveria ser necessário uma crise em escala global para ressaltar a importância do trabalho de cuidado. Já 41% das mulheres que seguiram trabalhando e mantiveram seus salários, afirmam ter trabalhado mais durante a quarentena.

Um levantamento realizado pela Famivita aponta que 35% das brasileiras perderam empregos durante a pandemia, incluindo as trabalhadoras informais. Entre as mães com filhos pequenos, o percentual sobe para 39%, enquanto 52% perderam renda.

Com o (necessário) fechamento de creches e escolas, muitas mães não tiveram com quem deixar seus filhos e assim retomar suas atividades presenciais, mesmo que tomando todos os cuidados necessários. Sem causar nenhuma surpresa, a escolha por cuidar dos filhos prevaleceu sobre manter o emprego.

Vimos ainda a demissão massiva de cerca de 300 mil professores da educação básica da rede privada e a sobrecarga dos profissionais que mantiverem esse trabalho tão essencial, jornadas extenuantes para quem trabalha na linha de frente de combate à Covid-19, no caso da enfermagem que no Brasil é composta por 85% de mulheres (Fiocruz). Cerca de 70% dos trabalhadores domésticos, a maioria mulheres, não possuem Carteira de Trabalho assinada, ou seja, por estarem na informalidade não têm acesso a direitos como 13º salário, seguro-desemprego, FGTS entre outros benefícios. (IPEA)

Todos foram impactados por um vírus que não enxerga classe social, cor ou gênero, mas que em uma sociedade desigual, evidencia as disparidades e afeta ainda mais as pessoas em situação de vulnerabilidade social, física e emocional.

O levantamento Parent in Science respondido por quase 15 mil cientistas indica que apenas 34% das pós-doutorandas com filhos conseguiram submeter seus artigos científicos conforme o planejado, contra 58,4% dos homens na mesma situação.

Se no início da pandemia chegamos a ver a discussão absurda sobre o uso de máscaras e a liberdade individual, o mesmo não pode ocorrer aqui, em relação às vacinas. Se vacinar é um pacto social que mais do que proteger a nossa própria saúde, poderá ajudar milhares de pessoas, milhares de mulheres, a retomar suas vidas. Enquanto uma pessoa ainda estiver doente, todas e todos nós estaremos. O momento não é o de questionar a ciência e os órgãos reguladores, mas sim de colaborar.  Só dessa forma estaremos livres.

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