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Mulheres no poder

Mulheres estão chegando ao poder. Mulheres estão fazendo mudanças significativas nessa sociedade onde não cabe mais seguir os mesmos passos de sempre

Kamala Harris, uma mulher de origem afro-americana e indiana, se tornou a vice do candidato Joe Biden: exemplo de mais mulheres nas lideranças políticas e empresariais (Elijah Nouvelage/File Photo/Reuters)
GD

Guilherme Dearo

Publicado em 14 de agosto de 2020 às 07h00.

Durante um período onde tudo mudou, certezas viraram incertezas. A tradição foi questionada. Os problemas pré-existentes da nossa sociedade foram desmascarados e escancarados. Mulheres estão chegando ao poder. Mulheres estão fazendo mudanças significativas nessa sociedade onde não cabe mais seguir os mesmos passos que nos fizeram chegar até aqui. Mas ainda há tanto a mudar para alcançar um país com mais equidade de gênero. Com mais justiça. Mas pelo menos, eu tenho esperança de dias melhores. Essa semana batemos a marca de 100 mil mortes pela Covid-19 no Brasil. São 100 mil famílias em luto, 100 mil sonhos acabados. Por isso não temos como não nos perguntar: por quê? Como o Brasil chegou aqui? Falta de liderança. Falta de colaboração. Falta de uma gestão mais humana. A Covid-19 descortinou a realidade que vivemos. E sim, estamos vendo uma realidade triste: pessoas passando fome, desempregadas, violência. Tudo isso já existia. Só que agora que tudo foi exaltado, não tem como não olhar. Não tem mais como fingir que não existe. Está na nossa frente. Escancarado. E temos 100 mil brasileiros a menos pela falta de responsabilidade dos nossos líderes.

Por isso, depois desse desabafo, falar de liderança me parece não só urgente, mas necessário para entendermos de uma vez por todas que precisamos de líderes diferentes. Líderes mais colaborativos, que tragam diálogo, que consigam ter uma visão mais holística das questões, que olhem para a sociedade com mais humanidade e menos como números. Precisamos de flexibilidade. Afinal, como escrevi no início dessa coluna. O que é certo virou incerto. Então uma liderança que não acompanha essa mudança, simplesmente não cabe no novo mundo.

Foi emblemático quando os Estados Unidos elegeram Barack Obama como presidente em 2009, o primeiro afro-americano no cargo. Só que em 2020, ainda vivemos um ano marcado por intensos protestos no país contra o racismo após a morte de George Floyd. Mas tivemos uma bela surpresa essa semana. Uma notícia que nos dá esperança de dias melhores. Kamala Harris, uma mulher de origem afro-americana e indiana, se tornou a vice do candidato Joe Biden. Ela também foi a primeira mulher procuradora-geral da Califórnia, estado pelo qual é senadora. Kamala vem trazendo pautas importantíssimas ligadas aos direitos civis, meio ambiente, racismo e ciência. Ela tentou se candidatar à presidência, mas por falta de fundos deixou a corrida na pré-eleição. Uma mulher forte, corajosa e que carrega com ela todas essas qualidades de uma liderança mais humana.

Precisamos de mais Kamalas. Precisamos de mais mulheres ocupando cargos de poder. Durante a Covid-19 vimos os exemplos de Jacinda Ardern, Katrín Jakobsdóttir e Tsai Ing-wen,e como essa liderança resultou em menos vidas perdidas. E por isso mulheres vem se destacando. Mulheres vem fazendo a diferença. Mulheres tem qualidades mais humanas, mais flexíveis, mais colaborativas na liderança. Só que ainda não somos suficientes. O que afinal isso quer dizer? Precisamos equilibrar. Precisamos de mais vozes femininas em espaços de poder. Seja no poder público ou no privado.

Ainda estamos longe de alcançar um equilíbrio real entre mulheres e homens na liderança.Na lista da Fortune, que anualmente divulga as 500 maiores empresas do mundo de acordo com sua receita, apenas 13 companhias são lideradas por CEOs mulheres em 2020. O melhor posicionamento foi de Mary Barra, da General Motors, no 40º lugar. Em maio, na publicação da Fortune que elenca as 500 maiores empresas dos Estados Unidos, 37 mulheres estão na lista. E isso foi um recorde! Das 37, apenas três não são brancas.

A resposta para isso não é simples, mas foi bem explicada por Sheryl Sandberg, chefe operacional do Facebook, em sua palestra para o TED em 2010, como você pode ver no vídeo abaixo:

As mulheres acabam tendo que enfrentar uma dificuldade maior na hora de fazer escolhas para a realização profissional e pessoal. Não devíamos ter que escolher. Podemos ter os dois. Uma vida equilibrada em casa e no trabalho. Incrível que isso ainda é uma questão em pleno ano de 2020. Da mesma forma, mulheres se subestimam muito mais e tendem a procurar fatores externos para justificar seu sucesso, como se a gente não o merecesse. Ou até mesmo como se o sucesso fosse algo que não condiz com a realidade feminina. Porque incrivelmente, ainda hoje, uma mulher de sucesso parece representar uma mulher que não “deve ser” uma boa mãe, uma boa esposa, ou qualquer que seja o estereótipo que a faz acreditar que sucesso não é para ela. A gente deve esquecer de uma vez por todas desse mito de uma mulher perfeita. Cada mulher é diferente. E mulheres devem ter ambição, seguir seus sonhos e alcançar o lugar que quiserem. Sem julgamentos, sem questionamentos.

Não se trata de uma ambição insaciável ou de querer competir com os homens ou com outras mulheres. Os lugares de liderança são nossos também, mas queremos que a trajetória para chegar até eles não seja uma sucessão de obstáculos extras por sermos mulheres. Da mesma forma que o homem que escolhe cuidar da casa e dos filhos enquanto a mulher trabalha fora não deve ser julgado por isso. Inclusive por ele mesmo.

E hoje quando olhamos para as 100 mil vidas perdidas, me pergunto mais uma vez: o que poderia ter sido diferente? Cabe a nós fazer essa mudança hoje. Cabe a nós estudar política, economia, direito e tudo mais que for necessário para entender o que estamos vivendo. Cabe a nós trabalhar por uma sociedade mais justa. Mais igual. E sim, com mais mulheres no poder. Porque com mais mulheres no poder, incluímos toda a população na conversa. Temos diálogo. E diálogo é o que traz a transformação. Que o que estamos vivendo sirva de lição. Uma lição dura, dolorosa demais. Mas que ela nunca mais se repita. Precisamos mudar. E se não for agora, quando será?

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Durante um período onde tudo mudou, certezas viraram incertezas. A tradição foi questionada. Os problemas pré-existentes da nossa sociedade foram desmascarados e escancarados. Mulheres estão chegando ao poder. Mulheres estão fazendo mudanças significativas nessa sociedade onde não cabe mais seguir os mesmos passos que nos fizeram chegar até aqui. Mas ainda há tanto a mudar para alcançar um país com mais equidade de gênero. Com mais justiça. Mas pelo menos, eu tenho esperança de dias melhores. Essa semana batemos a marca de 100 mil mortes pela Covid-19 no Brasil. São 100 mil famílias em luto, 100 mil sonhos acabados. Por isso não temos como não nos perguntar: por quê? Como o Brasil chegou aqui? Falta de liderança. Falta de colaboração. Falta de uma gestão mais humana. A Covid-19 descortinou a realidade que vivemos. E sim, estamos vendo uma realidade triste: pessoas passando fome, desempregadas, violência. Tudo isso já existia. Só que agora que tudo foi exaltado, não tem como não olhar. Não tem mais como fingir que não existe. Está na nossa frente. Escancarado. E temos 100 mil brasileiros a menos pela falta de responsabilidade dos nossos líderes.

Por isso, depois desse desabafo, falar de liderança me parece não só urgente, mas necessário para entendermos de uma vez por todas que precisamos de líderes diferentes. Líderes mais colaborativos, que tragam diálogo, que consigam ter uma visão mais holística das questões, que olhem para a sociedade com mais humanidade e menos como números. Precisamos de flexibilidade. Afinal, como escrevi no início dessa coluna. O que é certo virou incerto. Então uma liderança que não acompanha essa mudança, simplesmente não cabe no novo mundo.

Foi emblemático quando os Estados Unidos elegeram Barack Obama como presidente em 2009, o primeiro afro-americano no cargo. Só que em 2020, ainda vivemos um ano marcado por intensos protestos no país contra o racismo após a morte de George Floyd. Mas tivemos uma bela surpresa essa semana. Uma notícia que nos dá esperança de dias melhores. Kamala Harris, uma mulher de origem afro-americana e indiana, se tornou a vice do candidato Joe Biden. Ela também foi a primeira mulher procuradora-geral da Califórnia, estado pelo qual é senadora. Kamala vem trazendo pautas importantíssimas ligadas aos direitos civis, meio ambiente, racismo e ciência. Ela tentou se candidatar à presidência, mas por falta de fundos deixou a corrida na pré-eleição. Uma mulher forte, corajosa e que carrega com ela todas essas qualidades de uma liderança mais humana.

Precisamos de mais Kamalas. Precisamos de mais mulheres ocupando cargos de poder. Durante a Covid-19 vimos os exemplos de Jacinda Ardern, Katrín Jakobsdóttir e Tsai Ing-wen,e como essa liderança resultou em menos vidas perdidas. E por isso mulheres vem se destacando. Mulheres vem fazendo a diferença. Mulheres tem qualidades mais humanas, mais flexíveis, mais colaborativas na liderança. Só que ainda não somos suficientes. O que afinal isso quer dizer? Precisamos equilibrar. Precisamos de mais vozes femininas em espaços de poder. Seja no poder público ou no privado.

Ainda estamos longe de alcançar um equilíbrio real entre mulheres e homens na liderança.Na lista da Fortune, que anualmente divulga as 500 maiores empresas do mundo de acordo com sua receita, apenas 13 companhias são lideradas por CEOs mulheres em 2020. O melhor posicionamento foi de Mary Barra, da General Motors, no 40º lugar. Em maio, na publicação da Fortune que elenca as 500 maiores empresas dos Estados Unidos, 37 mulheres estão na lista. E isso foi um recorde! Das 37, apenas três não são brancas.

A resposta para isso não é simples, mas foi bem explicada por Sheryl Sandberg, chefe operacional do Facebook, em sua palestra para o TED em 2010, como você pode ver no vídeo abaixo:

As mulheres acabam tendo que enfrentar uma dificuldade maior na hora de fazer escolhas para a realização profissional e pessoal. Não devíamos ter que escolher. Podemos ter os dois. Uma vida equilibrada em casa e no trabalho. Incrível que isso ainda é uma questão em pleno ano de 2020. Da mesma forma, mulheres se subestimam muito mais e tendem a procurar fatores externos para justificar seu sucesso, como se a gente não o merecesse. Ou até mesmo como se o sucesso fosse algo que não condiz com a realidade feminina. Porque incrivelmente, ainda hoje, uma mulher de sucesso parece representar uma mulher que não “deve ser” uma boa mãe, uma boa esposa, ou qualquer que seja o estereótipo que a faz acreditar que sucesso não é para ela. A gente deve esquecer de uma vez por todas desse mito de uma mulher perfeita. Cada mulher é diferente. E mulheres devem ter ambição, seguir seus sonhos e alcançar o lugar que quiserem. Sem julgamentos, sem questionamentos.

Não se trata de uma ambição insaciável ou de querer competir com os homens ou com outras mulheres. Os lugares de liderança são nossos também, mas queremos que a trajetória para chegar até eles não seja uma sucessão de obstáculos extras por sermos mulheres. Da mesma forma que o homem que escolhe cuidar da casa e dos filhos enquanto a mulher trabalha fora não deve ser julgado por isso. Inclusive por ele mesmo.

E hoje quando olhamos para as 100 mil vidas perdidas, me pergunto mais uma vez: o que poderia ter sido diferente? Cabe a nós fazer essa mudança hoje. Cabe a nós estudar política, economia, direito e tudo mais que for necessário para entender o que estamos vivendo. Cabe a nós trabalhar por uma sociedade mais justa. Mais igual. E sim, com mais mulheres no poder. Porque com mais mulheres no poder, incluímos toda a população na conversa. Temos diálogo. E diálogo é o que traz a transformação. Que o que estamos vivendo sirva de lição. Uma lição dura, dolorosa demais. Mas que ela nunca mais se repita. Precisamos mudar. E se não for agora, quando será?

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