Exame Logo

Mulheres não são corpos; elas são responsáveis pelo crescimento do País

Mulheres devem decidir. Decidir se casam ou não casam, se têm filhos ou não têm filhos. Se trabalham ou não trabalham

Nosso Olhar: "Ainda estamos longe de atingirmos um mundo com mais igualdade de gênero. Nenhum país chegou lá" (Getty Images/Reprodução)
GD

Guilherme Dearo

Publicado em 22 de julho de 2020 às 16h12.

Em tempos de recomeço, ressignificação, colaboração e transformação, uma estrutura social em que se tem equidade de gênero não deveria nem estar mais sendo questionada ou falada. Deveria simplesmente ser. Mas aqui estamos falando sobre algo tão óbvio quanto distante: homens e mulheres são iguais. Historicamente falando as mulheres sempre foram consideradas por seus corpos. Pela sua vaidade. Pela sua fertilidade. Por um padrão da época, seja pela sua forma mais gorda e pele branca entre os séculos XIV e XVII, seja por uma vênus de cabelos compridos e corpo fino que tampa as partes íntimas. O padrão sempre foi uma questão de época. Não é algo real. Mas quando limitamos a mulher apenas ao corpo tiramos dela o que ela tem de mais fascinante: sua força, sua inteligência, sua natureza. E quando falamos em equidade de gênero, estamos dizendo que não, mulheres não devem obedecer. Oposto do que foi falado por Schopenhauer quando ele afirma: “Mulheres, por natureza, devem obedecer”.

Mulheres devem decidir. Decidir se casam ou não casam, se têm filhos ou não têm filhos. Se são magras ou gordas. Se alisam o cabelo ou se usam ele natural. Se trabalham ou não trabalham. Mas mulheres ainda ganham menos quando vão trabalhar. Mulheres ainda sofrem mansplaining e manterrupting quando vão falar. Mulheres ainda são questionadas se vão dar conta de um cargo de poder. Mas trazendo todo esse pensamento para o racional: quando mulheres ganham menos, o país cresce menos economicamente. Por um motivo simples: não somos somente metade da população. Somos metade das agentes responsáveis pelo crescimento econômico. E quando mulheres ganham mais estimula-se o consumo. E considerando que todos os produtos são tributados, a arrecadação do país aumenta, a economia cresce e temos mais recursos para investimentos. Mas mesmo mostrando que mulheres ganhando mais temos um maior crescimento econômico, mulheres no Brasil ainda ganham 24% a menos que os homens, segundo o Ipea .

Um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) calcula o custo econômico decorrente da discriminação de gênero no mundo em aproximadamente 12 trilhões de dólares. Dólares! O que equivale a 16% do PIB global. E mesmo assim ainda vivemos em um mundo onde as mulheres sofrem preconceito, assédio e violência diariamente. O engraçado, permita-me fazer uma “piada” sobre um assunto absurdamente importante, é que todo ser humano nasce de um corpo feminino, é cuidado por uma mulher. E mesmo assim a sociedade ainda tenta colocar mulheres em caixinhas do que ela pode ou não fazer. Isso é a cultura gritando alto. Isso é o medo da força feminina. Isso é um comportamento que simplesmente não faz sentido. Mas continuamos, em pleno ano 2020 cobrando das mulheres serem o que os homens esperam delas. Sendo que eles mesmos são geridos dentro de seus ventres. Interessante, não?

E aqui vai mais um dado, para sairmos da esfera filosófica e entendermos mais uma vez de forma prática que mais equidade de gênero é bom para todos e todas. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgaram um estudo no ano passado que aponta que para os países se desenvolverem mais rápido, é necessário aumentar as políticas que promovam o emprego de mulheres. Mas para isso acontecer, precisamos de mais mulheres na política. Veja o vídeo manifesto que o Free Free em parceria com o Vamos Juntas lançou essa semana. Até porque, historicamente falando, nenhuma lei sancionada pelo direito da mulher ser livre foi simplesmente dada pela boa vontade dos homens. Vejamos as sufragistas por exemplo. Elas tiveram que fazer manifestações atrás de manifestações para que mulheres conseguissem o direito do voto. Não foi algo dado. Foi batalhado. Por mulheres.

Sim, nossa participação está aumentando. Em 2007, a presença de mulheres em cargos formais no Brasil era de 40,8% segundo o Ministério do Trabalho. Em 2016, esse índice aumentou para 44%. Mas não é o suficiente. E quando falamos de liberdade, segundo o Banco Mundial, você sabia que 2,7 bilhões de mulheres em nível global enfrentam restrições legais na escolha de suas atividades profissionais? Isso é simplesmente uma loucura.  Segundo a 15ª edição da International Business Report (IBR) – Women in Business 2019, realizado pela Grant Thornton, 93% das empresas do Brasil afirmam que têm pelo menos uma mulher como líder. Porém, a proporção de mulheres em cargos de liderança no país é de 25%.

Ainda estamos longe de atingirmos um mundo com mais igualdade de gênero. Nenhum país chegou lá. Os mais próximos são Islândia, Noruega, Finlândia, Suécia, Nicarágua, Nova Zelândia, Irlanda, Espanha, Ruanda e Alemanha (Fórum Econômico Mundial). Mas para reduzir as desigualdades de gênero precisamos de muito mais mulheres em espaços de tomada de decisões, seja no âmbito politico, seja no âmbito econômico. E também precisamos urgentemente de um esforço da sociedade para qualificar e incluir mulheres em áreas que por muitos anos não foram tradicionalmente “femininas”, como a política, a ciência, a economia e a tecnologia. Sim, já temos grandes exemplos de mulheres que são exemplos nessas áreas. Mas precisamos de mais. E ações que promovam mais mulheres nessas áreas, como a da IBM com a startup Laboratória, que vão treinar mais de 550 mulheres em países da América Latina, como Brasil, Chile, México e Peru, para empregos de alta demanda em tecnologia, são fundamentais. Ou como o Spotify que tem uma licença remunerada de seis meses para quem for pai ou mãe, evitando a desigualdade de condições sofrida em maior parte pelas mulheres que decidem ter filhos.

Então quando as mulheres ganham mais, não estamos falando somente de ética, justiça ou empoderamento feminino. Estamos falando de impacto econômico real. Estamos falando de mais crescimento. Estamos falando que homens e mulheres são iguais. Afinal, enquanto mulheres forem vistas apenas como seres férteis e corpos estamos não só diminuindo a mulher, mas diminuindo o potencial de crescimento de uma sociedade que ganha muito em ter uma mulher no poder.

Veja também

Em tempos de recomeço, ressignificação, colaboração e transformação, uma estrutura social em que se tem equidade de gênero não deveria nem estar mais sendo questionada ou falada. Deveria simplesmente ser. Mas aqui estamos falando sobre algo tão óbvio quanto distante: homens e mulheres são iguais. Historicamente falando as mulheres sempre foram consideradas por seus corpos. Pela sua vaidade. Pela sua fertilidade. Por um padrão da época, seja pela sua forma mais gorda e pele branca entre os séculos XIV e XVII, seja por uma vênus de cabelos compridos e corpo fino que tampa as partes íntimas. O padrão sempre foi uma questão de época. Não é algo real. Mas quando limitamos a mulher apenas ao corpo tiramos dela o que ela tem de mais fascinante: sua força, sua inteligência, sua natureza. E quando falamos em equidade de gênero, estamos dizendo que não, mulheres não devem obedecer. Oposto do que foi falado por Schopenhauer quando ele afirma: “Mulheres, por natureza, devem obedecer”.

Mulheres devem decidir. Decidir se casam ou não casam, se têm filhos ou não têm filhos. Se são magras ou gordas. Se alisam o cabelo ou se usam ele natural. Se trabalham ou não trabalham. Mas mulheres ainda ganham menos quando vão trabalhar. Mulheres ainda sofrem mansplaining e manterrupting quando vão falar. Mulheres ainda são questionadas se vão dar conta de um cargo de poder. Mas trazendo todo esse pensamento para o racional: quando mulheres ganham menos, o país cresce menos economicamente. Por um motivo simples: não somos somente metade da população. Somos metade das agentes responsáveis pelo crescimento econômico. E quando mulheres ganham mais estimula-se o consumo. E considerando que todos os produtos são tributados, a arrecadação do país aumenta, a economia cresce e temos mais recursos para investimentos. Mas mesmo mostrando que mulheres ganhando mais temos um maior crescimento econômico, mulheres no Brasil ainda ganham 24% a menos que os homens, segundo o Ipea .

Um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) calcula o custo econômico decorrente da discriminação de gênero no mundo em aproximadamente 12 trilhões de dólares. Dólares! O que equivale a 16% do PIB global. E mesmo assim ainda vivemos em um mundo onde as mulheres sofrem preconceito, assédio e violência diariamente. O engraçado, permita-me fazer uma “piada” sobre um assunto absurdamente importante, é que todo ser humano nasce de um corpo feminino, é cuidado por uma mulher. E mesmo assim a sociedade ainda tenta colocar mulheres em caixinhas do que ela pode ou não fazer. Isso é a cultura gritando alto. Isso é o medo da força feminina. Isso é um comportamento que simplesmente não faz sentido. Mas continuamos, em pleno ano 2020 cobrando das mulheres serem o que os homens esperam delas. Sendo que eles mesmos são geridos dentro de seus ventres. Interessante, não?

E aqui vai mais um dado, para sairmos da esfera filosófica e entendermos mais uma vez de forma prática que mais equidade de gênero é bom para todos e todas. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgaram um estudo no ano passado que aponta que para os países se desenvolverem mais rápido, é necessário aumentar as políticas que promovam o emprego de mulheres. Mas para isso acontecer, precisamos de mais mulheres na política. Veja o vídeo manifesto que o Free Free em parceria com o Vamos Juntas lançou essa semana. Até porque, historicamente falando, nenhuma lei sancionada pelo direito da mulher ser livre foi simplesmente dada pela boa vontade dos homens. Vejamos as sufragistas por exemplo. Elas tiveram que fazer manifestações atrás de manifestações para que mulheres conseguissem o direito do voto. Não foi algo dado. Foi batalhado. Por mulheres.

Sim, nossa participação está aumentando. Em 2007, a presença de mulheres em cargos formais no Brasil era de 40,8% segundo o Ministério do Trabalho. Em 2016, esse índice aumentou para 44%. Mas não é o suficiente. E quando falamos de liberdade, segundo o Banco Mundial, você sabia que 2,7 bilhões de mulheres em nível global enfrentam restrições legais na escolha de suas atividades profissionais? Isso é simplesmente uma loucura.  Segundo a 15ª edição da International Business Report (IBR) – Women in Business 2019, realizado pela Grant Thornton, 93% das empresas do Brasil afirmam que têm pelo menos uma mulher como líder. Porém, a proporção de mulheres em cargos de liderança no país é de 25%.

Ainda estamos longe de atingirmos um mundo com mais igualdade de gênero. Nenhum país chegou lá. Os mais próximos são Islândia, Noruega, Finlândia, Suécia, Nicarágua, Nova Zelândia, Irlanda, Espanha, Ruanda e Alemanha (Fórum Econômico Mundial). Mas para reduzir as desigualdades de gênero precisamos de muito mais mulheres em espaços de tomada de decisões, seja no âmbito politico, seja no âmbito econômico. E também precisamos urgentemente de um esforço da sociedade para qualificar e incluir mulheres em áreas que por muitos anos não foram tradicionalmente “femininas”, como a política, a ciência, a economia e a tecnologia. Sim, já temos grandes exemplos de mulheres que são exemplos nessas áreas. Mas precisamos de mais. E ações que promovam mais mulheres nessas áreas, como a da IBM com a startup Laboratória, que vão treinar mais de 550 mulheres em países da América Latina, como Brasil, Chile, México e Peru, para empregos de alta demanda em tecnologia, são fundamentais. Ou como o Spotify que tem uma licença remunerada de seis meses para quem for pai ou mãe, evitando a desigualdade de condições sofrida em maior parte pelas mulheres que decidem ter filhos.

Então quando as mulheres ganham mais, não estamos falando somente de ética, justiça ou empoderamento feminino. Estamos falando de impacto econômico real. Estamos falando de mais crescimento. Estamos falando que homens e mulheres são iguais. Afinal, enquanto mulheres forem vistas apenas como seres férteis e corpos estamos não só diminuindo a mulher, mas diminuindo o potencial de crescimento de uma sociedade que ganha muito em ter uma mulher no poder.

Acompanhe tudo sobre:FeminismoMachismoMulheresMulheres executivas

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se