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Como podemos construir um futuro que contemple a todas?

Temos diferentes origens, histórias, corpos, ambições, culturas e visões de mundo, mas há uma coisa que une todas nós: o desejo de uma sociedade livre

Feminismo: mulheres dão as mãos em protesto pela igualdade de gênero em Madri, Espanha.  (Jesus Hellin/Getty Images)
Feminismo: mulheres dão as mãos em protesto pela igualdade de gênero em Madri, Espanha. (Jesus Hellin/Getty Images)
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Nosso Olhar

Publicado em 11 de dezembro de 2020 às, 11h12.

Somos complexas e profundas em nossa natureza. Temos origens diferentes, histórias diferentes, corpos e ambições diferentes, culturas e visões de mundo diferentes. Mas há uma coisa que une todas nós: o desejo de uma sociedade livre para todas as mulheres.

Com essa pluralidade, como podemos construir um futuro que contemple a todas? Quem é a mulher do futuro? Uma executiva de terno liderando uma grande corporação? A mulher que mora na periferia, que acorda às 5h para preparar o café da manhã dos filhos antes de encarar o transporte público para trabalhar no outro lado da cidade? A mulher que decidiu não ser mãe? A mulher do futuro somos todas nós, de carne e osso, sem um único padrão de comportamento, de costumes e estética. Somos plurais e por isso toda mulher importa. Sua voz importa. Sua visão de mundo importa.

A psicanalista Maria Homem fez uma análise da mulher do passado e do futuro no TEDx Talks, percorrendo a trajetória que colocou a mulher como um sujeito de direito pleno, ou seja, de uma existência plena. Ela afirma que na construção ocidental, passamos da dicotomia entre ser um objeto de pecado ou a mãe pura, sagrada, para tentar costurar essa separação que na verdade não existe. Somos tudo ao mesmo tempo. Podemos ser o que quisermos. E o futuro é isso, existir de diversas formas. Contemplar a existência do outro e entender que o outro não é melhor que você e vice-versa.

Por isso que falar de equidade de gênero ainda é tão importante quando vemos que um homem branco chega a ganhar 159% a mais que uma mulher negra (Insper). Quando mães recebem até 40% menos do que mulheres sem filhos (Pnad Contínua/IBGE 2018), quando a maternidade não deveria ter relação com o avanço em nossas carreiras e sim ser apenas outro papel em nossas vidas. Nossos corpos ainda chamam mais atenção que nossa capacidade. Mulheres que expressam o que buscam para si, são canceladas. A violência contra a mulher existe e é diária, mesmo quando não é aparente como a física. Devemos estar unidas para superá-la. O que está construindo esse futuro é a educação, não os julgamentos. Devemos abraçar a pluralidade para reduzir a desigualdade, como já disse Djamila Ribeiro.

Simone de Beauvoir que em sua obra desconstrói a teoria de um ideal de feminilidade como modelo, já considerando a importância das nossas diferenças, disse “Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância, já que viver é ser livre”.

O Free Free, fundado por mim, é um movimento que busca exatamente isso, a liberdade da mulher. Que ela tenha o poder sobre sua vida, a consciência de que pode e deve decidir. Que toda mulher e menina saiba da sua potência. Nesse ano atípico, onde as desigualdades em escala mundial ficaram ainda mais evidentes, lançamos uma publicação inédita chamada “Colorido”. São 181 páginas que em diversas linguagens, como a poesia e a fotografia, trazem as percepções de mulheres sobre o que é ser mulher hoje e qual o futuro que desejamos. Participam nomes como Daniela Cachich, Camila Achutti, Sônia Guajajara, Aline Bei, Raíssa Rocha Machado, Ryane Leão e Cassia Tabatini, além das artistas internacionais Viviane Sassen, Melanie Bonajo e Rita Lino. São muitas visões, muitas vozes, muitas cores. Mas o propósito é o mesmo: a construção do futuro para a mulher do amanhã.