Exame.com
Continua após a publicidade

Boas influências em tempos de negacionismo

Na ciência não há espaço para a politização, opiniões ou preferências; cabem apenas dados

 (Amanda Perobelli/Reuters)
(Amanda Perobelli/Reuters)
N
Nosso Olhar

Publicado em 22 de janeiro de 2021 às, 10h52.

Em tempos de negacionismo da ciência e uma verdadeira epidemia de fake news precisamos muito de agentes que façam o papel de transmitir um bom conteúdo. Porque mais do que influenciadores que divulguem marcas, produtos ou um lifestyle que é irreal para a maior parte da população, precisamos que esse poder de influenciar os outros seja utilizado para um bem maior. Precisamos de um diálogo profundo, verdadeiro, sem extremismos e sem essa cultura de cancelamento que julga, pune, desorienta, em vez de trazer uma mudança efetiva para todas e todos nós.

Exemplos de uma influência necessária não faltam e podemos citar as nossas mulheres na ciência. Mas antes, temos aqui algumas informações importantes sobre a participação feminina no campo científico. Os dados mais recentes apontam que as mulheres são cerca de 54% dos estudantes de doutorado no Brasil (Ipea), um aumento de 10% nas últimas duas décadas. Elas são maioria nas ciências ligadas à vida e saúde, sendo mais de 60% entre os pesquisadores. Já nas áreas de ciências da computação e matemática elas representam menos de 25%. Difícil entender que exista, em escala mundial, uma participação menor de mulheres nas áreas de exatas, já que foi Ada Byron, mais conhecida como Ada Lovelace, que muito mais do que filha do poeta Lorde Byron, é considerada a mãe da computação por ter criado o primeiro algoritmo processado em uma máquina. Lovelace foi a primeira programadora do mundo.

Mas no contexto geral, não ficamos atrás de países como os Estados Unidos, onde em 2017 as mulheres representaram 53% dos diplomas de doutorado.

Temos pioneiras impressionantes no Brasil como Bertha Lutz, pesquisadora do Museu Nacional do Rio de Janeiro, segunda mulher aprovada em um concurso para ser funcionária pública e que de quebra ainda teve uma participação muito importante no movimento sufragista brasileiro para o voto feminino. Temos Elza Furtado Gomide, primeira doutora em matemática do país. Nise da Silveira, única mulher em uma turma de 158 alunos da Faculdade de Medicina da Bahia, que deixou como legado um trabalho reconhecido mundialmente na psiquiatria. A física Neusa Amato, que foi pioneira nos estudos de partículas por aqui.

Precisamos dar mais espaço para nossas cientistas brasileiras, já que o censo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), realizado em 2014, aponta que embora a proporção de homens e mulheres na ciência seja equivalente, a presença masculina domina os noticiários sobre ciência na TV.

E hoje, as profissionais que têm propriedade para falar sobre assuntos como saúde e tudo relacionado à pandemia, estão fazendo a sua parte. Precisamos ouvi-las e divulgar seu trabalho. Na ciência não há espaço para a politização, opiniões ou preferências. A ciência trabalha com dados, com estudos, com provas que confirmam as hipóteses.

Podemos citar como boas influências a doutora em microbiologia Natalia Pasternak (@nataliapasternaktaschner), que se empenha em compartilhar seu conhecimento sobre segurança e eficácia das vacinas contra a Covid-19, a neurocientista Mellanie Fontes Dutra (@mellziland) que tem sido uma grande aliada no combate às falsas informações da pandemia, ou mesmo as médicas Samantha Yammine (@science.sam), Luciana Haddad  (@lucianabphaddad) e Cidinha Ikegiri (@cidinha), que aproveitaram seu engajamento nas mídias sociais para compartilhar conhecimento e orientar seus seguidores de forma fácil e acessível.

Influenciar positivamente, com informações científicas, pode salvar vidas.