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Por que Águas de Lindóia se tornou o principal encontro de clássicos do país

Décima edição do Encontro Brasileiro de Autos Antigos teve de Peugeot de 1906 a Jaguar XJ220

 (Divulgação/Divulgação)

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Rodrigo Mora
Rodrigo Mora

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Publicado em 28 de junho de 2025 às 07h21.

Última atualização em 28 de junho de 2025 às 09h17.

Na décima edição, o Encontro Brasileiro de Autos Antigos de Águas de Lindóia (EBAA), no interior de São Paulo, ampliou sua distância para as demais reuniões de veículos clássicos. O Brazil Classics Show, realizado tradicionalmente na mineira Araxá, é o mais charmoso e elitizado, mas sem o alcance do evento paulista - que, de acordo com os organizadores, recebeu cerca de 500 mil pessoas entre 19 e 22 de junho.

Na frente do tradicional hotel Monte Real, um Lion Peugeot Type VA 1906 talvez tenha sido o mais fotografado do evento, pois muitos quiseram guardar um registro do único exemplar do modelo – equipado com motor monocilíndrico, caixa de câmbio de três marchas e transmissão por corrente – no Brasil.

Em dez anos, o EBBA ganhou estatura para receber carros importantes do automobilismo nacional, como o DKW Vemag Carretera, de 1965, e o lendário Karmann Ghia Porsche 1966 da Equipe Dacon, vencedor de inúmeras corridas tendo Emerson Fittipaldi, Wilson Fittipaldi e José Carlos Pace ao volante.

Quem acordou com vontade de ver de perto um Cord 812, aquele que o Metropolitan Museum of Art de Nova York descreveu como "a maior contribuição dos Estados Unidos ao design de automóveis", encontrou três, dois sedãs (Beverly) e um conversível (Phaeton). E pela primeira vez uma das 275 unidades produzidas do Jaguar XJ220 compareceu.

“Além de estar no Estado que concentra o maior número de colecionadores, não é elitizado. Portanto, participam todos os tipos de carro, desde um Pierce-Arrow até um Fiat 147. Há também a maior feira de peças e o fato de haver uma rede hoteleira ao redor da praça Adhemar de Barros, onde é realizado o evento. Essa diversidade é o segredo de Lindóia”, explica o restaurador e colecionador Leonardo Forestieri, que nunca perdeu uma edição sequer do evento.

Passeando pelos 70 mil m2 do evento, alguns carros atraem atenção pelos preços: um Fiat Uno 1.6 R a R$ 250 mil assusta – mas não tanto quanto um VW Gol GTI de R$ 370 mil.

Best Of Show

Ao fim de eventos como esse, premia-se os veículos mais raros, conservados, originais e historicamente relevantes. Daí um deles, na categoria pós-Guerra, ser o Jaguar XJ220 – não apenas por sua história ímpar, mas pelo vanguardismo tecnológico que ostenta ainda hoje.

No final de 1987, a Jaguar tinha acabado de vencer o World Sport-Prototype Championship com um XJR-8. Jim Randle, então chefe de engenharia da fabricante inglesa, pensou que era o momento certo para a marca ter um carro de corrida homologado para as ruas. 

Como sabia que a Jaguar jamais patrocinaria tal extravagância, Randle recrutou voluntários da própria empresa para desenvolver o projeto, fora do horário de expediente. Daí a existência do Saturday Club, uma reunião de 12 engenheiros da Jaguar que se reuniam aos sábados para planejar o próximo supercarro da companhia. 

Rabiscado pelo designer-chefe da empresa, Keith Helfet, o futuro modelo não tinha nome, apenas um código: XJ220, que se referia a uma produção inicialmente limitada a 220 unidades. 

O conceito foi adiante e a Jaguar decidiu exibi-lo durante o British International Motor Show de 1988, do qual o XJ220 fora a principal atração. Em outubro de 1991, o

XJ220 estreou no mercado como aposta da Jaguar no competitivo mercado internacional dos supercarros.

Para alcançar níveis de desempenho até então inéditos para um Jaguar, a empresa contratou a Tom Walkinshaw Racing como parceira na construção do carro. Projetado para ter um V12 e tração integral, o XJ220 acabou equipado com um 3.5 V6 biturbo (central), que despejava seus 550 cv e 65,3 kgfm de torque apenas nas rodas traseiras, por meio de um câmbio manual de cinco marchas. 

Contudo, boa parte dos clientes já havia depositado £ 50.000 de sinal para ter um Jaguar V12, e não V6 – o que gerou à fabricante alguns processos judiciais. Mesmo assim, o XJ220 se tornou o carro mais rápido do mundo em 1992, ao atingir 340 km/h de velocidade máxima. Até mesmo pneus (345/35, de 18 polegadas) foram especialmente desenvolvidos pela Bridgestone. 

Ainda que custasse exorbitantes £ 470.000, deu prejuízo à Jaguar. Em 1994, o XJ220 saiu de cena após cerca de 280 unidades produzidas. Apenas duas estão no Brasil: a do Carde, que pertenceu ao tricampeão de Fórmula 1 Nelson Piquet, e uma azul, estacionada na coleção Haberfeld.

Já a Pierce-Arrow foi um dos principais nomes da indústria automotiva dos EUA. Fundada em 1901, ficou conhecida pelos característicos faróis acoplados aos para-lamas, patenteados ainda na década de 1910. Foi comprada pela Studebaker em 1928, mas dez anos depois encerrou as atividades.

Um dos últimos modelos foi o Model 840A Convertible Sedan, premiado em Lindóia como o Best Of Show pré-Guerra.

Disponível em dez estilos distintos de carroceria, recebeu nessa unidade a configuração Convertible Sedan, conversível de quatro portas – de acordo com o Carde, único no mundo.

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