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Autoclásica mostra que a Argentina goleia o Brasil não apenas no futebol

Encerrado no último dia 12 em Buenos Aires, evento de veículos clássicos é o maior da América Latina pela abundância de raridades

Rodrigo Mora
Rodrigo Mora

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Publicado em 27 de outubro de 2025 às 11h25.

Última atualização em 27 de outubro de 2025 às 16h00.

Nem o mais fanático torcedor tem razões para bradar que o Brasil tem, hoje, futebol melhor que o da Argentina – ainda mais depois da goleada de 4 a 1 que tomou em pleno Monumental de Núñez, em março, e de ver sua arquirrival subir para a segunda posição no ranking da FIFA, enquanto ele cai para a sétima.

E quando o assunto muda para carro antigo, a Autoclásica, encerrada no último dia 12 no Hipódromo de San Isidro, na Grande Buenos aires, deixa claro que nisso também os hermanos estão à nossa frente.

Organizado pelo Club de Automóviles Clásicos de la República Argentina, o evento impressionou não apenas pela quantidade total de veículos – um recorde de 1.250 exemplares nesta 23ª edição –, mas também pela abundância de raridades.

Peugeot 205 CTI

Logo na entrada, uma sequência estonteante de modelos pré-guerra: Auburn Boat Tail Speedster 1928, BMW 328 1938, Bentley 4 ¼ Litre Sedanca Coupe 1937, Renault NN 6CV Cabriolet 1926 e Packard 645 Dietrich Dual Cowl 1929 e Delage D8 1932. Isso sem falar na Maserati 8CL 1940, “Best of Show” da edição passada, estacionada em lugar de honra no palco da cerimônia de abertura.

“Se você considerar a quantidade de Bugatti ou Rolls-Royce que havia na América do Sul antes da guerra, sem dúvida a Argentina estava no topo. Isso devido à nossa economia na época e ao fato de muitos europeus terem migrado para cá após a Segunda Guerra Mundial”, explica Alec Daly, embaixador da Federação Internacional de Veículos Antigos para a América do Sul.

Na verdade, abundância e diversidade de raridades: na alameda principal, encontrava-se desde Mazda RX-7 a Renault Clio Williams, passando por BMW M3 GT, Peugeot 205 CTI e Fiat Barchetta, contemplando-se todas as décadas pós-Guerra.

No interior de estandes prosaicos, joias como os primeiros modelos da Jaguar, ainda ostentando o logo do antigo nome da marca inglesa, SS. Ou os primeiros carros da carreira do pentacampeão de Fórmula 1 Juan Manuel Fangio, um dos principais heróis argentinos. Destaque também para a Pur Sang, construtora local de réplicas da Bugatti, e para as comemorações dos 70 anos do Citroën DS, do Peugeot 403 e do Fiat 600.

Renault R30 B

“Na minha visão a Autoclásica é o maior evento da América Latina por alguns fatores, entre eles o acervo argentino, que é fenomenal, tantos de carros quanto de motos. Eles conseguem transmitir a grandeza desse acervo por meio de uma curadoria muito bem acertada”, avalia o diretor de Cultura e Juventude da Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), Marco Pigossi.

O também colecionador destaca ainda a força dos clubes: “A interação entre eles é outro fator. Eles estão lado a lado, realizando mini eventos dentro da própria Autoclásica. Além disso, envolvem os colecionadores jovens, organizam tudo com profissionalismo e selecionam temas centrais importantes, como os 75 anos da Fórmula 1”.

Daí estarem lado a lado o Renault R30 B pilotado pelos franceses Alain Prost e René Arnoux na temporada de 1983 e o McLaren MP4/3B de Ayrton Senna em 1988.

Best Of Show

Era bola cantada que o Shelby Cobra Daytona Coupé seria o “Best Of Show” desta edição. O título é dado ao carro com os mais altos níveis de relevância histórica, nível de raridade, vanguardismo e beleza. E não deu outra: quarto de seis exemplares construídos e com um invejável currículo nas pistas – incluindo o título do mundial de fabricantes de 1965 sobre a Ferrari 250 GTO –, o esportivo foi consagrado.

Mas, com um detalhe polêmico. Pela primeira vez na história da Autoclásica, o “Best of Show” foi destinado a dois carros: o Shelby Cobra Daytona Coupé levou na categoria Competição Internacional, enquanto um Rolls-Royce Phantom III 1937 na Pós-Guerra Europeu.

Shelby Cobra Daytona Coupé

De acordo com Ricardo Battisti, presidente do Club de Automóviles Clásicos de la República Argentina, “a Autoclásica tem o papel de contribuir para a preservação desses carros, que é o maior desafio dos colecionadores hoje, mundialmente. E nisso o poder público nos ajuda, pois compreendem a importância desse evento”.

“A Autoclásica tem um grande impacto social na região, por muitas pessoas passam a conhecer San Isidro por conta da feira de clássicos. Não há como imaginar a Autoclásica fora de San Isidro. Ou San Isidro em a Autoclásica”, complementa Ramón Lanús, prefeito de San Isidro.