Trump, Brexit e as democracias bananeiras
Talvez sejam as mudanças climáticas que assombram o planeta, o jeitão tropical do outono no hemisfério norte. Talvez sejam as árvores cujas folhas recusam-se a abandonar laranjas, vermelhos e amarelos novembro adentro a razão para a “bananice” que acomete os dois lados do Atlântico, mais tropicalizados. Ou, talvez seja o contrário. Talvez seja a bananice […]
Da Redação
Publicado em 4 de novembro de 2016 às 11h51.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h45.
Talvez sejam as mudanças climáticas que assombram o planeta, o jeitão tropical do outono no hemisfério norte. Talvez sejam as árvores cujas folhas recusam-se a abandonar laranjas, vermelhos e amarelos novembro adentro a razão para a “bananice” que acomete os dois lados do Atlântico, mais tropicalizados. Ou, talvez seja o contrário. Talvez seja a bananice que invadiu os prados, senão as praias, ao norte do equador que tenha alterado pouco a pouco países antes racionais, com sistemas políticos e instituições admiradas por seus pesos e contrapesos. A bananice, afinal, é sorrateira, insidiosa. Vai se espalhando sem que se perceba. Belo dia, eis que surge esplendorosa no fulgor do Brexit, ou na figura alaranjada de Donald Trump.
Na ilha da rainha, o parlamento britânico entrou em rota de colizão com o governo, ao ter a Alta Corte do Reino Unido decidido que Theresa May e sua equipe devem curvar-se à decisão legislativa sobre a saída do país da União Europeia, o Brexit. Na ex-colônia, o judiciário, por intermédio do FBI, afrontou o processo democrático faltando poucos dias para portentosa eleição. Sem justificativa clara sequer, determinou que o inquérito a respeito dos emails de Hillary Clinton enquanto fora Secretária de Estado reaberto fosse com base em evidências ainda desconhecidas, inclusive pelo próprio diretor do órgão. A pá de cal de James Comey foi estopim de controvérsias e de reprimendas do próprio judiciário, do executivo, de Democratas, e Republicanos.
Poderes chocam-se de um lado e de outro do oceano, instituições passam a exibir malemolência característica das regiões não-temperadas do planeta. O destempero manifesta-se nos movimentos mais bruscos dos mercados, que não sabem o que fazer diante da banalização da bananice. Populismo, protecionismo, termos antes associados aos países mais ao sul do equador assustam os paletós de Washington e das capitais europeias. Há aqui, nessa Washington tropicalizada, perplexidade em abundância, mil e uma iniciativas para entender todas as facetas da bananice, suas causas e consequências.
Nós, provenientes de climas quentes, sabemos em que resulta a bananice. A presença de instituições macunaímicas, a ascensão do tropicalismo em suas piores vertentes – a populista, a protecionista – levam ao descalabro macroeconômico. Cai o crescimento, a produtividade, o investimento. Aumenta a fragmentação política, a incerteza, o esgarçamento social. No fim os autoproclamados opositores do establishment deixam rastro de destruição, cacos e estilhaços.
Quantas vezes assistimos a isso na nossa turbulenta América Latina, tão afeita aos delírios do realismo mágico na política e na economia? No Brasil, acabamos de passar por longos anos de liderança messiânica, de crenças e esperanças que morreram na esteira da pior recessão que o país já enfrentou. Nosso tropicalismo deveria servir de alerta para a bananice de sabor anglo-saxão que surge das cinzas de ressentimentos difusos, do pavor da globalização, do pânico dos imigrantes, do terror em relação ao comércio internacional.
Mas nosso tropicalismo só tem servido para exacerbar nossas próprias bananices. Afinal, qual o significado de manifestações em apoio a Donald Trump na Avenida Paulista? Espécie de reconhecimento de que somos menos vira-latas do que supunhamos, ou reflexo da mais absoluta falta de compreensão sobre o que diz o candidato Republicano? As bandeiras de “direita” no Brasil, os supostos auto-intitulados liberais, seja lá que isso signifique em um país onde boa parte da população não tem o hábito da leitura, não se deram conta de que Trump nada tem de liberal? Ele defende o fechamento de fronteiras, todas as fronteiras. Ele defende algo próximo ao apocalipse do comércio internacional e da globalização. Ele representa o que há de mais retrógrado no mundo hoje. Ele e o movimento pelo Brexit.
Reconheço que esse texto haverá de causar indignação nesse Brasil polarizado e esquizofrênico, atônito e perdido. Mas, fica o alerta: Brexit e Trump, junto com tudo mais de ignóbil que possa surgir na política e na economia ao longo dos próximos anos, são nada mais do que bananices, bananices cujo legado será tão perverso quanto sua versão tropical. Uma marchinha modificada de Carnaval para os novos bananeiros:
“Yes, nós temos bananas
Bananas para dar e vender
Bananas meninas, sem vitaminas
Bananas para enfraquecer”
Talvez sejam as mudanças climáticas que assombram o planeta, o jeitão tropical do outono no hemisfério norte. Talvez sejam as árvores cujas folhas recusam-se a abandonar laranjas, vermelhos e amarelos novembro adentro a razão para a “bananice” que acomete os dois lados do Atlântico, mais tropicalizados. Ou, talvez seja o contrário. Talvez seja a bananice que invadiu os prados, senão as praias, ao norte do equador que tenha alterado pouco a pouco países antes racionais, com sistemas políticos e instituições admiradas por seus pesos e contrapesos. A bananice, afinal, é sorrateira, insidiosa. Vai se espalhando sem que se perceba. Belo dia, eis que surge esplendorosa no fulgor do Brexit, ou na figura alaranjada de Donald Trump.
Na ilha da rainha, o parlamento britânico entrou em rota de colizão com o governo, ao ter a Alta Corte do Reino Unido decidido que Theresa May e sua equipe devem curvar-se à decisão legislativa sobre a saída do país da União Europeia, o Brexit. Na ex-colônia, o judiciário, por intermédio do FBI, afrontou o processo democrático faltando poucos dias para portentosa eleição. Sem justificativa clara sequer, determinou que o inquérito a respeito dos emails de Hillary Clinton enquanto fora Secretária de Estado reaberto fosse com base em evidências ainda desconhecidas, inclusive pelo próprio diretor do órgão. A pá de cal de James Comey foi estopim de controvérsias e de reprimendas do próprio judiciário, do executivo, de Democratas, e Republicanos.
Poderes chocam-se de um lado e de outro do oceano, instituições passam a exibir malemolência característica das regiões não-temperadas do planeta. O destempero manifesta-se nos movimentos mais bruscos dos mercados, que não sabem o que fazer diante da banalização da bananice. Populismo, protecionismo, termos antes associados aos países mais ao sul do equador assustam os paletós de Washington e das capitais europeias. Há aqui, nessa Washington tropicalizada, perplexidade em abundância, mil e uma iniciativas para entender todas as facetas da bananice, suas causas e consequências.
Nós, provenientes de climas quentes, sabemos em que resulta a bananice. A presença de instituições macunaímicas, a ascensão do tropicalismo em suas piores vertentes – a populista, a protecionista – levam ao descalabro macroeconômico. Cai o crescimento, a produtividade, o investimento. Aumenta a fragmentação política, a incerteza, o esgarçamento social. No fim os autoproclamados opositores do establishment deixam rastro de destruição, cacos e estilhaços.
Quantas vezes assistimos a isso na nossa turbulenta América Latina, tão afeita aos delírios do realismo mágico na política e na economia? No Brasil, acabamos de passar por longos anos de liderança messiânica, de crenças e esperanças que morreram na esteira da pior recessão que o país já enfrentou. Nosso tropicalismo deveria servir de alerta para a bananice de sabor anglo-saxão que surge das cinzas de ressentimentos difusos, do pavor da globalização, do pânico dos imigrantes, do terror em relação ao comércio internacional.
Mas nosso tropicalismo só tem servido para exacerbar nossas próprias bananices. Afinal, qual o significado de manifestações em apoio a Donald Trump na Avenida Paulista? Espécie de reconhecimento de que somos menos vira-latas do que supunhamos, ou reflexo da mais absoluta falta de compreensão sobre o que diz o candidato Republicano? As bandeiras de “direita” no Brasil, os supostos auto-intitulados liberais, seja lá que isso signifique em um país onde boa parte da população não tem o hábito da leitura, não se deram conta de que Trump nada tem de liberal? Ele defende o fechamento de fronteiras, todas as fronteiras. Ele defende algo próximo ao apocalipse do comércio internacional e da globalização. Ele representa o que há de mais retrógrado no mundo hoje. Ele e o movimento pelo Brexit.
Reconheço que esse texto haverá de causar indignação nesse Brasil polarizado e esquizofrênico, atônito e perdido. Mas, fica o alerta: Brexit e Trump, junto com tudo mais de ignóbil que possa surgir na política e na economia ao longo dos próximos anos, são nada mais do que bananices, bananices cujo legado será tão perverso quanto sua versão tropical. Uma marchinha modificada de Carnaval para os novos bananeiros:
“Yes, nós temos bananas
Bananas para dar e vender
Bananas meninas, sem vitaminas
Bananas para enfraquecer”