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Você consegue conciliar férias e trabalho?

Já faz alguns anos que acabo encaixando trabalho no meio de um período de descanso. Empreendedores raramente desligam de suas atividades profissionais

Férias e trabalho (AntonioGuillem/Thinkstock)
DR

Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2021 às 07h55.

Aluizio Falcão Filho

Trabalho é trabalho e férias são férias, certo?

Bem, no meu caso, faz muito tempo em que eu acabo encaixando trabalho no meio de um período de descanso. Não estou falando daquela viagem a trabalho que acaba sendo esticada para alguns dias de diversão. Refiro-me a tirar férias sabendo que haverá algum tipo de trabalho no meio da folga.

Já faz alguns anos que funciono dessa maneira, pois empreendedores raramente desligam de suas atividades profissionais (muitos executivos também enveredam por esse caminho). Não digo isso com orgulho. Adoraria poder apertar um botão e esquecer problemas e desafios do meu cotidiano. Mas simplesmente não consigo. E, mesmo se conseguisse, talvez a tecnologia atual não deixasse.

Para mim, é até fácil encaixar trabalho em minhas viagens. Sempre é possível marcar entrevistas com gente interessante ou conhecer novas empresas – e, em meu ramo de atividade, isso é trabalho.

Sei que, neste aspecto, sou um privilegiado e por duas razões. Em primeiro lugar, meu trabalho não é um fardo, pelo contrário. Adoro entrevistar pessoas e escrever. Há um aspecto de seriedade e profissionalismo na atividade jornalística, é claro. Não se pode transformar uma entrevista – pelo menos na minha linha de trabalho – em uma brincadeira. Mas o desafio intelectual de tirar informações interessantes do entrevistado, colocando-se no lugar dos leitores para fazer perguntas apropriadas, é algo que me estimula diariamente e não causa a mim nenhum tipo de sofrimento.

Há outra razão para que eu seja um privilegiado. Minha profissão pode ser exercida em qualquer lugar do mundo. Teoricamente, qualquer cidade do planeta pode render uma crônica, reportagem ou artigo que valha a pena a leitura. Basta ter um olhar original sobre as coisas e estar disposto a gastar algumas horas de seu tempo. Neste pormenor, talvez o jornalismo seja uma atividade portátil. Seria difícil para um dentista ou um engenheiro querer exercer suas profissões durante os dias de férias.

Na prática, os jornalistas nunca descansam. Sempre prestamos atenção nos detalhes e invariavelmente nos lembramos daquilo que nos disseram. Quer um exemplo? Alguns meses atrás, estava em um almoço de sábado, depois de algumas caipirinhas, quando uma amiga me chamou para conversar com um deputado federal que acabara de chegar. Fiz menção ao meu estado alcoólico e disse que ia ficar onde estava. Um minuto depois, o tal parlamentar me reconheceu e veio falar comigo. Fiz um tremendo malabarismo mental para sair do pilequinho à sobriedade em segundos. Cinco minutos depois, estava discutindo em minúcias o projeto de mudanças tributárias que o governo havia enviado ao Congresso.

Esses são os ossos do ofícios. Mas não me queixo.

Outro problema que os jornalistas precisam sempre levar em consideração é que o mundo não para por conta de suas férias. Um exemplo disso, uma história folclórica que ronda as redações desde 1981, diz respeito ao atentado contra a vida do Papa João Paulo II, cometido pelo terrorista turco Ali Agca.

Um correspondente de revista brasileira em Roma estava de férias marcadas e iria visitar um país da antiga cortina de ferro – talvez o que seria hoje a República Tcheca. Resolveu antecipar sua viagem justamente para o dia em que houve o atentado, não antes sem deixar uma mensagem pré-programada no aparelho de telex para o final do dia seguinte.

Nesta data, foi passear à tarde e viu um jornal com a foto do Papa ilustrando a manchete da publicação – em uma língua que ele não entendia. Enquanto isso, a redação no Brasil recebia uma mensagem dele, via telex, dizendo que nada tinha acontecido e ele estava partindo de férias. No país da Europa oriental, ele tentava perguntar ao jornaleiro o que tinha acontecido com o pontífice. O dono da banca, depois de um tempo, entendeu o que ele falava e respondia em seu idioma, sem conseguir se comunicar. Até que fez com as mãos o formato de uma arma e disse: “Pope, pum-pum!”. Naquele momento, o correspondente entendeu que havia feito a maior besteira de sua vida.

Depois de tanta ladainha sobre jornalismo e férias, vocês devem ter entendido o recado: saio por alguns dias, encaixando algumas entrevistas no meio desses dias de descanso. Volto com as colunas no dia 21(ou a qualquer momento, em edição extraordinária). Até lá!

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Bem, no meu caso, faz muito tempo em que eu acabo encaixando trabalho no meio de um período de descanso. Não estou falando daquela viagem a trabalho que acaba sendo esticada para alguns dias de diversão. Refiro-me a tirar férias sabendo que haverá algum tipo de trabalho no meio da folga.

Já faz alguns anos que funciono dessa maneira, pois empreendedores raramente desligam de suas atividades profissionais (muitos executivos também enveredam por esse caminho). Não digo isso com orgulho. Adoraria poder apertar um botão e esquecer problemas e desafios do meu cotidiano. Mas simplesmente não consigo. E, mesmo se conseguisse, talvez a tecnologia atual não deixasse.

Para mim, é até fácil encaixar trabalho em minhas viagens. Sempre é possível marcar entrevistas com gente interessante ou conhecer novas empresas – e, em meu ramo de atividade, isso é trabalho.

Sei que, neste aspecto, sou um privilegiado e por duas razões. Em primeiro lugar, meu trabalho não é um fardo, pelo contrário. Adoro entrevistar pessoas e escrever. Há um aspecto de seriedade e profissionalismo na atividade jornalística, é claro. Não se pode transformar uma entrevista – pelo menos na minha linha de trabalho – em uma brincadeira. Mas o desafio intelectual de tirar informações interessantes do entrevistado, colocando-se no lugar dos leitores para fazer perguntas apropriadas, é algo que me estimula diariamente e não causa a mim nenhum tipo de sofrimento.

Há outra razão para que eu seja um privilegiado. Minha profissão pode ser exercida em qualquer lugar do mundo. Teoricamente, qualquer cidade do planeta pode render uma crônica, reportagem ou artigo que valha a pena a leitura. Basta ter um olhar original sobre as coisas e estar disposto a gastar algumas horas de seu tempo. Neste pormenor, talvez o jornalismo seja uma atividade portátil. Seria difícil para um dentista ou um engenheiro querer exercer suas profissões durante os dias de férias.

Na prática, os jornalistas nunca descansam. Sempre prestamos atenção nos detalhes e invariavelmente nos lembramos daquilo que nos disseram. Quer um exemplo? Alguns meses atrás, estava em um almoço de sábado, depois de algumas caipirinhas, quando uma amiga me chamou para conversar com um deputado federal que acabara de chegar. Fiz menção ao meu estado alcoólico e disse que ia ficar onde estava. Um minuto depois, o tal parlamentar me reconheceu e veio falar comigo. Fiz um tremendo malabarismo mental para sair do pilequinho à sobriedade em segundos. Cinco minutos depois, estava discutindo em minúcias o projeto de mudanças tributárias que o governo havia enviado ao Congresso.

Esses são os ossos do ofícios. Mas não me queixo.

Outro problema que os jornalistas precisam sempre levar em consideração é que o mundo não para por conta de suas férias. Um exemplo disso, uma história folclórica que ronda as redações desde 1981, diz respeito ao atentado contra a vida do Papa João Paulo II, cometido pelo terrorista turco Ali Agca.

Um correspondente de revista brasileira em Roma estava de férias marcadas e iria visitar um país da antiga cortina de ferro – talvez o que seria hoje a República Tcheca. Resolveu antecipar sua viagem justamente para o dia em que houve o atentado, não antes sem deixar uma mensagem pré-programada no aparelho de telex para o final do dia seguinte.

Nesta data, foi passear à tarde e viu um jornal com a foto do Papa ilustrando a manchete da publicação – em uma língua que ele não entendia. Enquanto isso, a redação no Brasil recebia uma mensagem dele, via telex, dizendo que nada tinha acontecido e ele estava partindo de férias. No país da Europa oriental, ele tentava perguntar ao jornaleiro o que tinha acontecido com o pontífice. O dono da banca, depois de um tempo, entendeu o que ele falava e respondia em seu idioma, sem conseguir se comunicar. Até que fez com as mãos o formato de uma arma e disse: “Pope, pum-pum!”. Naquele momento, o correspondente entendeu que havia feito a maior besteira de sua vida.

Depois de tanta ladainha sobre jornalismo e férias, vocês devem ter entendido o recado: saio por alguns dias, encaixando algumas entrevistas no meio desses dias de descanso. Volto com as colunas no dia 21(ou a qualquer momento, em edição extraordinária). Até lá!

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