Violência nas escolas: vamos ficar iguais aos Estados Unidos?
Infelizmente, profissionais da educação e alunos convivem com agressões quase que diariamente
Da Redação
Publicado em 5 de setembro de 2022 às 10h28.
Aluizio Falcão Filho
Vivemos um cenário de violência em várias escolas de São Paulo, especialmente em unidades que estão localizadas em regiões dominadas pelo tráfico de drogas ou pelas milícias. Infelizmente, profissionais da educação e alunos convivem com agressões quase que diariamente. Em 2022, por exemplo, foram registrados 4 021 casos de ataques físicos nas escolas estaduais paulistas apenas entre fevereiro e março. Isso representa quase um aumento de quase 50 % em relação ao mesmo período de 2019.
Mas, recentemente, a rede particular também começou a conviver com casos escabrosos, de motivação diferente.
Houve alguns casos de suicídio, motivados por bullying – episódios que não estão restritos apenas ao ambiente físico das escolas, mas também multiplicados pelas redes sociais e por seus integrantes.
Na última semana, porém, dois episódios chamaram muito a atenção de pais e crianças. Em uma escola localizada na região dos Jardins, em São Paulo, um aluno avisou dois amigos para que eles não fossem às aulas no dia seguinte. A razão? Ele iria levar armas e matar os colegas. Seu plano era se matar na sequência. Os meninos, evidentemente, alertaram seus pais, que acionaram a unidade de ensino e conseguiram abortar o plano macabro (seria uma reedição do caso de Suzano, ocorrido em 2019, no qual morreram cinco estudantes).
Alguns dias depois, outro episódio lamentável, ocorrido em um estabelecimento diferente. Uma aluna postou em uma rede social um vídeo de conotação racista dirigido a uma colega de classe. Os pais da menina assediada foram até à escola e conseguiram invadir a classe de sua filha. O pai, tomado pela raiva, tirou o cinto, ameaçando dar uma surra na menina autora do bullying, pegando-a pelo colarinho. Enquanto isso, a mãe tomava o celular da garota assediadora e o pisoteava no chão, até quebrá-lo.
Professora e alunos estavam chorando, quando um segurança percebeu o que estava acontecendo e evitou algo pior. A menina que provocou o incidente estava claramente errada. Mas os pais da criança atingida acabaram por perder a razão agindo com violência.
Entende-se o ódio que esse casal deve ter sentido, pois proteger um filho é a prioridade de todo genitor. Mas talvez esse caso tivesse de ser levado à direção da escola. Frequentemente dizemos aos nossos filhos que não devemos fazer justiça com as próprias mãos. E precisamos, por mais difícil que seja, nos ater a esse preceito. Ao invadir a classe e submeter a algoz da filha a um constrangimento físico, o pai passou uma mensagem muito clara: aplaque a sua cólera através da agressão. É isso que queremos ensinar aos nossos filhos?
Casos como o de Suzano (e o outro evitado na semana passada) são comuns nos Estados Unidos. As raízes desse fenômeno são antigas – e podem ser conferidas em um filme de 1955, “Sementes da Violência” (imagem), com Glen Ford. Essa película ficou conhecida internacionalmente por adotar “Rock Around the Clock”, canção de Bill Haley and His Comets, como música-título. No ano letivo que acaba de se encerrar no hemisfério norte, foram 193 ataques com armas nas escolas americanas. No ano passado, 58 alunos morreram por conta desses atentados.
De um lado, temos crianças cujo comportamento reflete o dos adultos, mimetizando a violência à qual estão expostas. Mas, por outro lado, temos um ambiente social que está tornando o descontrole emocional algo comum.
Nos dias de hoje, as pessoas se deixam levar por impulso agressivos nas redes, destilando seu ódio. Do universo cibernético, esse comportamento pode migrar para a vida de verdade, gerando um moto-contínuo do qual poucos conseguem se livrar.
Vamos pensar duas vezes antes de perder o controle, especialmente na frente de nossas crianças. Não vamos dar o exemplo errado.
Aluizio Falcão Filho
Vivemos um cenário de violência em várias escolas de São Paulo, especialmente em unidades que estão localizadas em regiões dominadas pelo tráfico de drogas ou pelas milícias. Infelizmente, profissionais da educação e alunos convivem com agressões quase que diariamente. Em 2022, por exemplo, foram registrados 4 021 casos de ataques físicos nas escolas estaduais paulistas apenas entre fevereiro e março. Isso representa quase um aumento de quase 50 % em relação ao mesmo período de 2019.
Mas, recentemente, a rede particular também começou a conviver com casos escabrosos, de motivação diferente.
Houve alguns casos de suicídio, motivados por bullying – episódios que não estão restritos apenas ao ambiente físico das escolas, mas também multiplicados pelas redes sociais e por seus integrantes.
Na última semana, porém, dois episódios chamaram muito a atenção de pais e crianças. Em uma escola localizada na região dos Jardins, em São Paulo, um aluno avisou dois amigos para que eles não fossem às aulas no dia seguinte. A razão? Ele iria levar armas e matar os colegas. Seu plano era se matar na sequência. Os meninos, evidentemente, alertaram seus pais, que acionaram a unidade de ensino e conseguiram abortar o plano macabro (seria uma reedição do caso de Suzano, ocorrido em 2019, no qual morreram cinco estudantes).
Alguns dias depois, outro episódio lamentável, ocorrido em um estabelecimento diferente. Uma aluna postou em uma rede social um vídeo de conotação racista dirigido a uma colega de classe. Os pais da menina assediada foram até à escola e conseguiram invadir a classe de sua filha. O pai, tomado pela raiva, tirou o cinto, ameaçando dar uma surra na menina autora do bullying, pegando-a pelo colarinho. Enquanto isso, a mãe tomava o celular da garota assediadora e o pisoteava no chão, até quebrá-lo.
Professora e alunos estavam chorando, quando um segurança percebeu o que estava acontecendo e evitou algo pior. A menina que provocou o incidente estava claramente errada. Mas os pais da criança atingida acabaram por perder a razão agindo com violência.
Entende-se o ódio que esse casal deve ter sentido, pois proteger um filho é a prioridade de todo genitor. Mas talvez esse caso tivesse de ser levado à direção da escola. Frequentemente dizemos aos nossos filhos que não devemos fazer justiça com as próprias mãos. E precisamos, por mais difícil que seja, nos ater a esse preceito. Ao invadir a classe e submeter a algoz da filha a um constrangimento físico, o pai passou uma mensagem muito clara: aplaque a sua cólera através da agressão. É isso que queremos ensinar aos nossos filhos?
Casos como o de Suzano (e o outro evitado na semana passada) são comuns nos Estados Unidos. As raízes desse fenômeno são antigas – e podem ser conferidas em um filme de 1955, “Sementes da Violência” (imagem), com Glen Ford. Essa película ficou conhecida internacionalmente por adotar “Rock Around the Clock”, canção de Bill Haley and His Comets, como música-título. No ano letivo que acaba de se encerrar no hemisfério norte, foram 193 ataques com armas nas escolas americanas. No ano passado, 58 alunos morreram por conta desses atentados.
De um lado, temos crianças cujo comportamento reflete o dos adultos, mimetizando a violência à qual estão expostas. Mas, por outro lado, temos um ambiente social que está tornando o descontrole emocional algo comum.
Nos dias de hoje, as pessoas se deixam levar por impulso agressivos nas redes, destilando seu ódio. Do universo cibernético, esse comportamento pode migrar para a vida de verdade, gerando um moto-contínuo do qual poucos conseguem se livrar.
Vamos pensar duas vezes antes de perder o controle, especialmente na frente de nossas crianças. Não vamos dar o exemplo errado.