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Uma cidade que cheira a maconha

Em Nova York, o uso recreativo da maconha foi legalizado em 2021. Portanto, o cheiro nas calçadas não é novidade

NY: "o que surpreende os turistas nos dias de hoje é a quantidade de pessoas que fumam ao ar livre". (NYSE/Divulgação)
NY: "o que surpreende os turistas nos dias de hoje é a quantidade de pessoas que fumam ao ar livre". (NYSE/Divulgação)

Em Nova York, o uso recreativo da maconha foi legalizado em 2021. Portanto, o cheiro da fumaça dos baseados nas calçadas não é novidade por lá. Porém, o que surpreende os turistas nos dias de hoje é a quantidade de pessoas que fumam seus “joints” ao ar livre. Uma caminhada de dez quarteirões em Midtown, por exemplo, significa sentir o aroma da cannabis quase o tempo todo.

Quem vive em um país como o nosso, no qual esse tipo de droga permanece na ilegalidade, estranha bastante o fato de Nova York estar tomada por gente que consome despreocupadamente seus baseados. Fico imaginando como esses fumantes fazem para se concentrar no trabalho. Afinal, os efeitos da substância THC no cérebro são conhecidos: relaxamento, devaneios e um riso frenético e descontrolado.

Muitos são contrários ao uso legalizado da marijuana, especialmente porque o consumo deste fumo abre a possibilidade de se experimentar, depois, substâncias mais fortes. Isso até pode ser verdade, mas o uso pesado de bebidas alcóolicas também tem este potencial, levando o usuário a entrar no vício de drogas ilícitas. Segundo um estudo da Universidade da Flórida, jovens que consomem doses altas de álcool têm 16 vezes mais chances de experimentar outros tipos de narcóticos do que aqueles que não bebem.

O poder público enxerga o liberou-geral com bons olhos. Em 2023, espera-se que os impostos sobre a venda de produtos derivados da maconha gerem US$ 500 milhões aos cofres nova-iorquinos. E uma parte desse dinheiro vai para comunidades afetadas pelo uso contínuo de drogas.

As lojas de produtos derivados de THC e CBD se multiplicam pela cidade – e, ao julgar pelo cheiro que se sente em todas as calçadas, estão vendendo muito. Parei ao lado de um usuário em uma esquina, à espera do sinal verde. Ele segurava um baseado muitíssimo bem-feito, com a seda impecável – nada a ver com aquele cigarrinho enrolado que muitos testemunham durante a faculdade. Esses cigarros são feitos com profissionalismo e mostram que o capricho visual ajuda a vendê-los.

As lojas vendem canabidiol para quem tem problemas de sono ou dor crônica. Já utilizei o CBD. Funciona muito bem para combater as dores. Trata-se de um analgésico espetacular, mas tem um efeito colateral que pode ser complicado: o sono.

Para quem está interessado apenas em se divertir, as lojas oferecem vários tipos de “joint”. O pequeno, curtinho, se chama “dogwalker” e deve durar o equivalente a um passeio curto com um cachorro. Tem também o “pinner”, mais fino que os outros e de comprimento variável (há subdivisões nessa categoria). Por fim, temos também o “blunt”, que é uma espécie de charuto de maconha, já que vem enrolado em uma folha de tabaco.

Para quem não quer fumar, há opções: uma bala de goma, que faz efeito em menos de meia hora e vem em uma latinha. Temos também os óleos, que são consumidos por conta-gotas e absorvidos rapidamente pelo organismo.

Trata-se de uma indústria multibilionária, que só faz crescer. Portanto, é de se esperar que essa legislação seja adotada por outras cidades – especialmente na Europa, onde em muitos países o uso medicinal da erva já é permitido. Vamos chegar a um estágio no qual a maconha será liberada como as bebidas alcóolicas? Provavelmente. E os dias em que os mais velhos usavam o termo “maconheiro” para xingar alguém poderão fazer parte do passado remoto da humanidade.