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Um réquiem para os tucanos

Hoje, percebe-se que o tucanato raiz está mais próximo do que nunca do PT

(Wikimedia/Divulgação)
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Da Redação

Publicado em 6 de outubro de 2022 às 20h28.

Quando Fernando Henrique Cardoso (imagem) estava no poder, muitos simpatizantes do Partido dos Trabalhadores chamavam os tucanos, com uma pitada de desprezo, pela alcunha de “neoliberais”. Esse epíteto surgiu por conta da onda de privatizações iniciada por FHC, um sociólogo que teve sólida formação de esquerda em sua carreira universitária. Dessa forma, o PSDB, durante muito tempo, foi chamado de “a nova direita”, embora o partido tivesse sido criado com base nas diretrizes da social-democracia europeia, que de direitista não tem nada.

Hoje, percebe-se que o tucanato raiz está mais próximo do que nunca do PT. Dos fundadores da agremiação, o próprio Efeagá, José Serra, José Aníbal, Tasso Jereissati e Pimenta da Veiga, escolheram o lado de Lula. João Doria, que está no partido há muitos anos, mas não pode ser considerado um tucano raiz, disse que vai votar nulo E o neotucano Rodrigo Garcia, assim como vários líderes desse partido, aprumou-se para o lado oposto: vai apoiar Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas (curiosamente, Serra vai de Lula na eleição federal e votará em Tarcísio para o Palácio dos Bandeirantes).

A diferença entre o voto de Tasso e de Rodrigo mostra bem a divisão interna que o partido enfrenta há algum tempo: o DNA dos fundadores, de defesa da social-democracia, se foi há muito. Os cristãos-novos do PSDB estão mais para a centro-direita ou direita do que para a esquerda clássica. Essa reviravolta começou a ficar mais visível com a entrada de João Doria na linha de frente do partido, com sua candidatura à prefeitura de São Paulo em 2016.

Doria imprimiu uma agenda mais alinhada à direita e trouxe Rodrigo Garcia do Democratas, assim como vários prefeitos sintonizados com as propostas do então governador. Garcia, assim como Doria em 2018, alinhou-se a Jair Bolsonaro rapidamente (só que, neste caso, na qualidade de candidato derrotado no primeiro turno), em torno de uma proposta mais conservadora.

Se conseguir sobreviver do estado letárgico e quase moribundo, que futuro terá o PSDB?

Já existe um racha ideológico claro: há correntes lulistas contra facções bolsonaristas. No final das contas, um dos dois grupos terá de sair. A polarização já corre solta na sociedade. Mas, quando transportada para dentro de um partido, causa danos irreversíveis, especialmente em um segundo turno que promete de tudo, incluindo golpes abaixo da cintura.

Mesmo que consigam superar as divergências internas e sobrevivam, para onde iriam os tucanos? No território da esquerda, PT e PSOL já dominam o campo. Ao centro, legendas como União Brasil e PSD igualmente ocupam um espaço relevante. À direita, PL e Republicanos são os principais nomes.

Dessa forma, restam três caminhos:

+ O PSBD simplesmente se funde a um dos maiores partidos e deixa de existir.

+ O partido consegue arrebanhar outras siglas menores e ganha um pouco mais de musculatura, mas dificilmente obteria novamente um papel relevante na cena política.

+ A agremiação vai perdendo mais políticos com mandato e, sem representatividade, não consegue atender aos requisitos da chamada cláusula de desempenho. Neste caso, o PSDB também acabaria.

Qualquer uma das três alternativas seria um final melancólico para aquela que já foi a maior sigla do país e comandou o Planalto durante oito anos, além de reunir parlamentares competentes e hábeis no trato político. O PSDB, mesmo em sua época dourada, sofreu de um mal que é mortífero em Brasília: excesso de vaidades. Cada vez que um cacique tucano era candidato a um cargo majoritário, por exemplo, seus colegas de alta plumagem faziam um corpo mole cuidadosamente estudado. Um dos pecados capitais na religião, a vaidade se mostra uma característica fatal para políticos e para partidos – e provavelmente terá no PSDB o seu maior exemplo de letalidade.

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Quando Fernando Henrique Cardoso (imagem) estava no poder, muitos simpatizantes do Partido dos Trabalhadores chamavam os tucanos, com uma pitada de desprezo, pela alcunha de “neoliberais”. Esse epíteto surgiu por conta da onda de privatizações iniciada por FHC, um sociólogo que teve sólida formação de esquerda em sua carreira universitária. Dessa forma, o PSDB, durante muito tempo, foi chamado de “a nova direita”, embora o partido tivesse sido criado com base nas diretrizes da social-democracia europeia, que de direitista não tem nada.

Hoje, percebe-se que o tucanato raiz está mais próximo do que nunca do PT. Dos fundadores da agremiação, o próprio Efeagá, José Serra, José Aníbal, Tasso Jereissati e Pimenta da Veiga, escolheram o lado de Lula. João Doria, que está no partido há muitos anos, mas não pode ser considerado um tucano raiz, disse que vai votar nulo E o neotucano Rodrigo Garcia, assim como vários líderes desse partido, aprumou-se para o lado oposto: vai apoiar Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas (curiosamente, Serra vai de Lula na eleição federal e votará em Tarcísio para o Palácio dos Bandeirantes).

A diferença entre o voto de Tasso e de Rodrigo mostra bem a divisão interna que o partido enfrenta há algum tempo: o DNA dos fundadores, de defesa da social-democracia, se foi há muito. Os cristãos-novos do PSDB estão mais para a centro-direita ou direita do que para a esquerda clássica. Essa reviravolta começou a ficar mais visível com a entrada de João Doria na linha de frente do partido, com sua candidatura à prefeitura de São Paulo em 2016.

Doria imprimiu uma agenda mais alinhada à direita e trouxe Rodrigo Garcia do Democratas, assim como vários prefeitos sintonizados com as propostas do então governador. Garcia, assim como Doria em 2018, alinhou-se a Jair Bolsonaro rapidamente (só que, neste caso, na qualidade de candidato derrotado no primeiro turno), em torno de uma proposta mais conservadora.

Se conseguir sobreviver do estado letárgico e quase moribundo, que futuro terá o PSDB?

Já existe um racha ideológico claro: há correntes lulistas contra facções bolsonaristas. No final das contas, um dos dois grupos terá de sair. A polarização já corre solta na sociedade. Mas, quando transportada para dentro de um partido, causa danos irreversíveis, especialmente em um segundo turno que promete de tudo, incluindo golpes abaixo da cintura.

Mesmo que consigam superar as divergências internas e sobrevivam, para onde iriam os tucanos? No território da esquerda, PT e PSOL já dominam o campo. Ao centro, legendas como União Brasil e PSD igualmente ocupam um espaço relevante. À direita, PL e Republicanos são os principais nomes.

Dessa forma, restam três caminhos:

+ O PSBD simplesmente se funde a um dos maiores partidos e deixa de existir.

+ O partido consegue arrebanhar outras siglas menores e ganha um pouco mais de musculatura, mas dificilmente obteria novamente um papel relevante na cena política.

+ A agremiação vai perdendo mais políticos com mandato e, sem representatividade, não consegue atender aos requisitos da chamada cláusula de desempenho. Neste caso, o PSDB também acabaria.

Qualquer uma das três alternativas seria um final melancólico para aquela que já foi a maior sigla do país e comandou o Planalto durante oito anos, além de reunir parlamentares competentes e hábeis no trato político. O PSDB, mesmo em sua época dourada, sofreu de um mal que é mortífero em Brasília: excesso de vaidades. Cada vez que um cacique tucano era candidato a um cargo majoritário, por exemplo, seus colegas de alta plumagem faziam um corpo mole cuidadosamente estudado. Um dos pecados capitais na religião, a vaidade se mostra uma característica fatal para políticos e para partidos – e provavelmente terá no PSDB o seu maior exemplo de letalidade.

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