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Um debate mais solto e mais equilibrado

Não houve grandes revelações ou discussão sobre propostas. O que mais se ouviu foi um candidato chamado continuamente o outro de mentiroso

Debate entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (Renato Pizzutto/Band/Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 17 de outubro de 2022 às 13h25.

Última atualização em 17 de outubro de 2022 às 18h30.

Aluizio Falcão Filho

As regras do debate da Bandeirantes finalmente trouxeram alguma emoção ao duelo entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Com dois blocos de meia hora nos quais os candidatos poderiam discutir diretamente um com outro, o formato trouxe uma dinâmica menos formal e exigiu dos candidatos maior concentração e capacidade de provocação.

Isso, no entanto, não evitou que as perguntas dos jornalistas fossem muitas vezes ignoradas e os candidatos, à lá Paulo Maluf, falassem o que quisessem diante das questões. Nesse bloco, destaque para a pergunta da jornalista Vera Magalhães, que foi criticada por Bolsonaro em um debate anterior. Dessa vez, porém, o presidente foi civilizado, dizendo: “prezada jornalista Vera, satisfação em revê-la”.

Não houve grandes revelações ou discussão sobre propostas. O que mais se ouviu foi um candidato chamado continuamente o outro de mentiroso.

Na primeira metade do programa, Bolsonaro começou no ataque, mas Lula tomou à frente rapidamente, usando o comportamento do presidente durante a pandemia como principal arma. O ex-presidente rapidamente saiu do púlpito e foi para perto da câmera, usando mais números que seu oponente. Tinha uma linguagem corporal mais aberta; Bolsonaro, com as mãos para trás, mostrava uma figura que, segundo os especialistas, transmitiria uma mensagem de pouca confiança.

Neste momento, Bolsonaro chamava o oponente de “senhor”; Lula, por sua vez, usava um tratamento mais coloquial ao adversário.

No segundo bloco, as coisas mudaram. Bolsonaro, que se sente mais confortável em uma briga direta, ficou mais à vontade. Deixou a linguagem corporal mais defensiva de lado e se soltou. Mas, em um determinado momento, às 21:19, ele travou e ficou quieto por alguns segundos, com um sorriso no rosto. Em seguida, fez uma aproximação física esquisita em direção ao concorrente. “Fica aí, Lula”, disse, colocando a mão no ombro do petista (imagem).

No bloco de discussão direta, o presidente foi fazendo perguntas ao adversário – entre as quais sobre quem seria o ministro da economia em um eventual governo do PT. Ele deu corda a Lula, que desembestou a falar. Deu certo. O candidato do PT esgotou seu tempo e Bolsonaro ainda teve mais de cinco minutos para descer o sarrafo no opositor: falou das ditaduras de esquerda na América Latina e sua aproximação com Lula; religião; uma eventual ligação entre Lula e traficantes, além de diminuir a importância do Bolsa Família criado pelo governo petista.

Duas declarações merecem registro. Uma de Bolsonaro, que garantiu não editar nenhuma medida para ampliar o colegiado do Supremo Tribunal Federal. Outra, de Lula: ele fará uma reforma tributária, dando isenção a quem ganha até R$ 5 000 mensais e vai cobrar impostos dos mais ricos (que vão cobrir o rombo deixado pelo alívio aos mais pobres e ainda avançar nos bolsos recheados para financiar projetos sociais).

Nas considerações finais, Bolsonaro reforçou seus principais pontos de campanha: segurança, contra ideologia de gênero, combate às drogas, contra o aborto, defesa da propriedade privada, respeito ao homem do campo e defesa das armas.

Lula, por sua vez, defendeu ações tomadas durante seu governo, ressaltou a necessidade de novas reformas sociais e voltou a falar que a população vai voltar a saborear churrasquinho e cerveja.

Qual o resultado desse novo formato? Permitiu que os candidatos fossem eles mesmos e mostrassem mais suas características pessoais como postulantes à presidência. Isso pode criar uma migração de votos? Dificilmente. Mas poderá mudar a ideia de quem vai votar em branco ou nulo ou se abster? É bem possível que uma faixa do eleitorado possa ser sensibilizada, tanto para um lado como para outro.

Qual o grande problema? Um debatedor chamou o outro de mentiroso praticamente a cada três minutos. “Mentira” foi a palavra mais repetida durante as discussões. Em um embate revelador e importante como esse, o grande risco que os candidatos correm é o eleitorado acreditar que os dois postulantes têm razão – e não se decidir por nenhum.

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As regras do debate da Bandeirantes finalmente trouxeram alguma emoção ao duelo entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Com dois blocos de meia hora nos quais os candidatos poderiam discutir diretamente um com outro, o formato trouxe uma dinâmica menos formal e exigiu dos candidatos maior concentração e capacidade de provocação.

Isso, no entanto, não evitou que as perguntas dos jornalistas fossem muitas vezes ignoradas e os candidatos, à lá Paulo Maluf, falassem o que quisessem diante das questões. Nesse bloco, destaque para a pergunta da jornalista Vera Magalhães, que foi criticada por Bolsonaro em um debate anterior. Dessa vez, porém, o presidente foi civilizado, dizendo: “prezada jornalista Vera, satisfação em revê-la”.

Não houve grandes revelações ou discussão sobre propostas. O que mais se ouviu foi um candidato chamado continuamente o outro de mentiroso.

Na primeira metade do programa, Bolsonaro começou no ataque, mas Lula tomou à frente rapidamente, usando o comportamento do presidente durante a pandemia como principal arma. O ex-presidente rapidamente saiu do púlpito e foi para perto da câmera, usando mais números que seu oponente. Tinha uma linguagem corporal mais aberta; Bolsonaro, com as mãos para trás, mostrava uma figura que, segundo os especialistas, transmitiria uma mensagem de pouca confiança.

Neste momento, Bolsonaro chamava o oponente de “senhor”; Lula, por sua vez, usava um tratamento mais coloquial ao adversário.

No segundo bloco, as coisas mudaram. Bolsonaro, que se sente mais confortável em uma briga direta, ficou mais à vontade. Deixou a linguagem corporal mais defensiva de lado e se soltou. Mas, em um determinado momento, às 21:19, ele travou e ficou quieto por alguns segundos, com um sorriso no rosto. Em seguida, fez uma aproximação física esquisita em direção ao concorrente. “Fica aí, Lula”, disse, colocando a mão no ombro do petista (imagem).

No bloco de discussão direta, o presidente foi fazendo perguntas ao adversário – entre as quais sobre quem seria o ministro da economia em um eventual governo do PT. Ele deu corda a Lula, que desembestou a falar. Deu certo. O candidato do PT esgotou seu tempo e Bolsonaro ainda teve mais de cinco minutos para descer o sarrafo no opositor: falou das ditaduras de esquerda na América Latina e sua aproximação com Lula; religião; uma eventual ligação entre Lula e traficantes, além de diminuir a importância do Bolsa Família criado pelo governo petista.

Duas declarações merecem registro. Uma de Bolsonaro, que garantiu não editar nenhuma medida para ampliar o colegiado do Supremo Tribunal Federal. Outra, de Lula: ele fará uma reforma tributária, dando isenção a quem ganha até R$ 5 000 mensais e vai cobrar impostos dos mais ricos (que vão cobrir o rombo deixado pelo alívio aos mais pobres e ainda avançar nos bolsos recheados para financiar projetos sociais).

Nas considerações finais, Bolsonaro reforçou seus principais pontos de campanha: segurança, contra ideologia de gênero, combate às drogas, contra o aborto, defesa da propriedade privada, respeito ao homem do campo e defesa das armas.

Lula, por sua vez, defendeu ações tomadas durante seu governo, ressaltou a necessidade de novas reformas sociais e voltou a falar que a população vai voltar a saborear churrasquinho e cerveja.

Qual o resultado desse novo formato? Permitiu que os candidatos fossem eles mesmos e mostrassem mais suas características pessoais como postulantes à presidência. Isso pode criar uma migração de votos? Dificilmente. Mas poderá mudar a ideia de quem vai votar em branco ou nulo ou se abster? É bem possível que uma faixa do eleitorado possa ser sensibilizada, tanto para um lado como para outro.

Qual o grande problema? Um debatedor chamou o outro de mentiroso praticamente a cada três minutos. “Mentira” foi a palavra mais repetida durante as discussões. Em um embate revelador e importante como esse, o grande risco que os candidatos correm é o eleitorado acreditar que os dois postulantes têm razão – e não se decidir por nenhum.

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