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Um aviso aos que marcharam ontem contra o comunismo

O fantasma do comunismo é alimentado nos dias de hoje apenas por uma razão: incutir medo no eleitor conservador

Karl Marx (Reprodução/Reprodução)
Karl Marx (Reprodução/Reprodução)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 12 de abril de 2021 às, 08h14.

O Muro de Berlim caiu em 1989 e levou com ele toda a Cortina de Ferro. Os países comunistas, um a um, viram seus regimes mudarem. Alguns, radicalmente. Outros, de forma protocolar, mas aderindo ao capitalismo. A própria China, há muitos anos, vive em um sistema econômico que faria Mao Tsé-Tung corar de vergonha. Os chineses vivem em uma ditadura militar, controlada por um partido político único, que faz, literalmente, qualquer negócio. Mas não dá para dizer que o regime chinês de hoje é igual ao de 30 anos atrás.

Tirando os chineses, que vivem em um modelo próprio, temos quatro países que seguem a doutrina de Karl Marx: Vietnã, Laos, Coreia do Norte e Cuba. Mesmo assim, durante o dia de ontem, tivemos algumas marchas pelo Brasil que protestavam contra o fechamento de igrejas e… contra o comunismo!

Uma pergunta para o leitor: você conhece algum comunista?

Comunista raiz. Conhece? Petista ou lulista não vale. Seguidor de Guilherme Boulos? Também não. Tem de ser comunista de carteirinha. Daqueles que idolatram Fidel Castro e querem morar em Cuba.

Há duas agremiações no Brasil que têm a foice e o martelo em suas bandeiras. O Partido Comunista Brasileiro, que foi recriado desde que seus fundadores originais transformaram a sigla em PPS (hoje Cidadania), possui 12 000 filiados. O outro, o Partido Comunista do Brasil, cujos únicos nomes de projeção são o governador do Maranhão, Flávio Dino, e a ex-deputada Manuela D’Ávila, tem 415 000 associados.

Vamos usar o PC do B como exemplo. Seus filiados representam 0,2 % da população brasileira e a agremiação recebeu 1,3 milhão de votos em 2018, 30 % a menos que no pleito anterior.

Diante de números tão pífios, é o caso de se questionar: onde está o perigo comunista?

Os mais paranoicos dirão que o perigo existe e é iminente, pois se manifesta através de entidades como o Foro de São Paulo e a Ursal — União das Repúblicas Socialistas da América Latina. Digamos que isso seja verdade. Quantas vezes você cruzou com alguém ligado ao Foro de SP? Há mais chances de se encontrar com um pesquisador do Ibope e do Datafolha na rua do que trombar com um sujeito vestindo uma camiseta da Ursal (eu já fui entrevistado pelos institutos de pesquisa duas vezes; mas estou ainda para encontrar algum comunista perambulando pela cidade).

O fantasma do comunismo é alimentado nos dias de hoje apenas por uma razão: incutir medo no eleitor conservador. O eleitorado comunista, é sempre bom lembrar, produziu 1,3 milhão de votos. Isso representa 0,9 % de todos os eleitores. Desde quando a democracia capitalista está em perigo quando 0,9 % do eleitorado vota na foice e no martelo?

O eleitor de esquerda, é sempre bom lembrar, nem sempre visa o socialismo ou o comunismo. Muitos que votam em candidatos esquerdistas estão em busca de um sistema de governo com maior número de ações sociais – mas não necessariamente uma ditadura do proletariado. Um exemplo disso é a sequência de quatro eleições nas quais o Partido dos Trabalhadores foi conduzido à presidência da República. Nesses 14 anos em que o PT esteve no poder, vimos um crescimento avassalador do Estado e a instituição de um programa de assistência social gigantesco, o Bolsa-Família. Mas o Brasil não deixou de ser capitalista ou mudou as cores de sua bandeira.

Portanto, esse anticomunismo anacrônico tem apenas uma única função: dar voz aos profetas dos apocalipse, que enxergam nos partidos e organizações esquerdistas núcleos poderosos que só podem ser impedidos com o engajamento total da sociedade.

Convenhamos: se houvesse tanto comunista raiz por aí, teríamos uma bancada vermelha enorme no Congresso. Sabem quantos deputados comunistas existem no Parlamento? Nove, em um total de 513. Quantos senadores? Um em 81.

No fundo, alimentar esse discurso mantém apenas os extremistas ocupados e desafia a paciência de quem leva política a sério. O cidadão comum não esteve preocupado com o avanço comunista nem quando Dilma Rousseff, uma presa política ligada à Polop (Política Operária), esteve no Palácio do Planalto. Iria se preocupar agora, que o país é chefiado por Jair Bolsonaro e tem como vice o general Hamilton Mourão? De jeito nenhum.

Aviso aos organizadores dessa marcha anticomunista: vão arrumar o que fazer e não se aglomerem à toa.