Tucanos: os nobres falidos da política brasileira
Nobreza falida. Talvez essa seja a melhor imagem para definir o PSDB nos dias de hoje
Publicado em 26 de maio de 2022 às, 08h37.
Aluizio Falcão Filho
O seriado de televisão Downtown Abbey (imagem) deu origem a duas produções de cinema – a segunda, por sinal, está em cartaz no Brasil. Nesta película, a família Crawley se vê sem dinheiro e aluga sua mansão para que se grave um filme na propriedade. É um momento totalmente diferente daquele retratado na série, na qual a nobreza inglesa ainda tem muito dinheiro para sustentar seu estilo de vida opulento.
Nobreza falida. Talvez essa seja a melhor imagem para definir o PSDB nos dias de hoje. De 1995 ao início de 2003, foram os tucanos quem mandaram no país, com a presidência de Fernando Henrique Cardoso. De quebra, foram reconhecidos como o partido que produziu o Plano Real e estabilizou a moeda brasileira – depois que o país passou décadas brigando contra uma espiral inflacionária endêmica.
Durante os anos em que o PT esteve alojado no Palácio do Planalto, os tucanos foram a segunda força eleitoral, chegando sempre a disputar o segundo turno com Luiz Inácio Lula da Silva ou com Dilma Rousseff. Não tinham o controle do país, mas eram percebidos com a opção para a alternância de poder.
Em 2018, entretanto, esse encanto se rompeu. O PT continuou o seu protagonismo, apesar de perder as eleições presidenciais, mas o PSDB entrou em franca decadência. O candidato Geraldo Alckmin chegou à reta final do primeiro turno com 4,76 % dos votos. Em São Paulo, estado que governou quatro vezes, teve pouco mais de 9,5 % dos votos, perdendo até para Ciro Gomes, que assinalou 11,3 %. Em Pindamonhangaba, sua cidade natal, teve 15 % e perdeu para Jair Bolsonaro, com 60 %.
Durante muito tempo, houve um consenso entre os analistas políticos de que Alckmin foi um candidato ruim e que seria o único responsável por um resultado tão negativo. Mas, a julgar pelo desempenho pífio de João Doria e Eduardo Leite nas pesquisas, percebe-se que talvez a culpa do fracasso nas urnas não tenha sido totalmente do candidato chuchu. Provavelmente o desgaste vivido pelo PSDB também precisa ser levado em consideração quando vemos a inépcia dos candidatos tucanos nas enquetes presidenciais.
Este cenário de penúria eleitoral já dura cerca de quatro anos, mas o tucanato ainda não perdeu a majestade – assim como os nobres falidos de Downtown Abbey. Em política, como se mede a riqueza? Pelo número de votos. E, neste quesito em particular, o partido encolheu substancialmente. Hoje, conta com 21 deputados federais e é apenas a nona agremiação da Câmara. Vamos fazer um teste rápido? Quem é o líder do PSDB na Câmara Federal? E no Senado (com oito representantes, é o oitavo partido da casa)?
Respostas: o deputado baiano Adolfo Vianna e o senador Izalci Lucas, do Distrito Federal. Não se pode dizer que estamos falando de nomes estrelados da política nacional, sem discutir evidentemente a competência política dos parlamentares.
O último bastião do partido é o governo de São Paulo, comandado pelo cristão-novo Rodrigo Garcia, que foi cooptado do DEM por João Doria. Hoje, manter Garcia no Palácio dos Bandeirantes é prioridade total para os tucanos. Sem o governo paulista, eles vão sofrer um downgrade gigantesco em termos de poder político.
Para piorar, essa deverá ser a eleição regional mais difícil para o PSDB desde que Mario Covas ganhou o pleito paulista em 1994. Fernando Haddad lidera as pesquisas, mas esse não é exatamente o maior problema do atual governador (o eleitorado do interior, muito mais numeroso e conservador que o da capital deve descarregar seus votos em quem concorrer contra o PT).
Garcia tem que desvincular sua imagem à de Doria, que saiu do Bandeirantes com altos índices de rejeição. E encontrar uma estratégia vitoriosa para combater a candidatura do ex-ministro Tarcísio de Freitas, que vem crescendo nas pesquisas.
Antes, como acontecia no cenário nacional, a agremiação tucana era a única opção viável ao PT. Hoje, no entanto, há nomes alternativos: o próprio Tarcísio e até Márcio França, que ainda não decidiu o que fazer e pressiona para que seu bloco partidário o escolha como candidato em vez de Haddad.
Uma derrota de Garcia seria a pá de cal que falta para que o PSDB, cuja alma se foi há muito tempo, cerre de vez suas portas – ou se transforme em um partido nanico.