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Se ganhar, Bolsonaro será o único responsável por sua vitória

Bolsonaro cada vez mais se afasta das orientações e conselhos dos aliados, privilegiando apenas ações que fazem sentido só para seu núcleo duro

Presidente da República Jair Bolsonaro (Isac Nóbrega/PR/Flickr)
Presidente da República Jair Bolsonaro (Isac Nóbrega/PR/Flickr)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 25 de julho de 2022 às, 09h00.

Aluizio Falcão Filho

O presidente Jair Bolsonaro, nos últimos tempos, deu uma guinada populista ao seu governo. Ao ouvir a base no Congresso sobre a reeleição, entendeu que deveria turbinar os programas sociais e abrir os cofres públicos como se não houvesse amanhã. Essas providências podem não gerar resultados positivos, uma vez que, do outro lado da disputa, há um nome (Luiz Inácio Lula da Silva) identificado com o uso do dinheiro estatal para reduzir demandas sociais e atacar as necessidades geradas pela miséria.

Hoje, talvez esse seja o único ponto que apresenta consenso entre o Palácio do Planalto e o Centrão. No restante da estratégia, no entanto, Bolsonaro cada vez mais se afasta das orientações e conselhos dos aliados, privilegiando apenas ações que fazem sentido apenas para seu núcleo duro.

Abaixo, cinco pontos que o presidente definiu, na prática, para a campanha que vai ganhar as ruas.

CHAPA PURA – o vice da chapa é o general Walter Braga Netto, também do Partido Liberal. Normalmente, os candidatos à presidência buscam colegas de chapa que são de outros partidos e que tenham a possibilidade de sensibilizar outros grupos de eleitores – ou que apaziguem certas dúvidas quanto às intenções daquele candidato caso ele obtenha a vitória. Com Lula, em 2002 e 2022, foi assim. Vinte anos atrás, ele buscou o empresário José Alencar para ser seu vice. Neste ano, o ungido foi o ex-governador Geraldo Alckmin. Nem Alencar nem Alckmin trouxeram grandes dividendos eleitorais ao petista – mas serviram como uma tentativa de tranquilizar o eleitorado mais conservador, ou os empresários brasileiros. Mas Bolsonaro preferiu escolher alguém como Braga Netto com outro objetivo: evitar uma eventual traição.

SEM APROXIMAÇÃO COM AS MULHERES – um dos pontos fracos da candidatura Bolsonaro é a pequena penetração junto ao eleitorado feminino (hoje, representando 53 % do universo de votantes nacionais). Há um volume significativamente maior de homens entre os eleitores do presidente e isso pode ser um risco. Até agora, no entanto, nada foi feito para que exista uma mensagem eficaz a ser dirigida às mulheres, que se incomodam com determinados comentários de Bolsonaro em relação a minorias e ao meio ambiente. O estilo politicamente incorreto é uma constante que marqueteiros políticos condenam profundamente neste início de década.

MESMA ESTRATÉGIA EM DUAS ELEIÇÕES – o Brasil mudou razoavelmente em quatro anos, o suficiente para que a Operação Lava-Jato saísse dos holofotes e que a pauta ESG começasse a sensibilizar os formadores de opinião. Além disso, tivemos uma pandemia e a volta da inflação neste meio-tempo. Por fim, essa será uma eleição que vai demandar doações financeiras significativas para as campanhas. O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, avalia que gastará 400 milhões neste pleito, além dos R$ 288 milhões que virão do fundo eleitoral (ou seja, total de R$ 688 milhões). Todos esses pontos recomendam uma estratégia diferente neste ano. Mas o presidente insiste na estratégia de lacração, especialmente em detonar o sistema eleitoral brasileiro.

SEM RESSALTAR OS PONTOS POSITIVOS DO GOVERNO – Bolsonaro, nos últimos dias, vem repisando em suas aparições públicas, um só ponto: a suposta falta de confiabilidade do sistema eleitoral brasileira. Espera-se que essa obsessão pelo tema seguirá até o dia 7 de setembro, arrefecendo um pouco depois. Qualquer estrategista político júnior recomendaria a um candidato à reeleição ressaltar os pontos positivos de seu mandato. Mas, quando pode fazer isso, Bolsonaro prefere falar assuntos que insuflam suas redes de apoiadores mais fiéis.

DISCURSO MAIS RADICAL NA REELEIÇÃO – Bolsonaro sabe que precisou da adesão do centro para obter sua vitória em 2018. Mas, em vez de enviar sinais aos mais moderados, prefere jogar apenas para sua torcida com um discurso mais radical que o de costume, não raro apelando para Fake News e exageros. Ele acredita que não precisa cortejar um eleitor que, no segundo turno, cairá em sua mão por conta da rejeição ao PT. Será que isso vai acontecer?

No discurso que fez na convenção de seu partido, ontem, até que lançou alguns sinais ao eleitorado feminino – mas isso será frequente, daqui para frente? Dificilmente. Além disso, o tom agressivo foi a tônica de boa parte da fala presidencial. Ao agir dessa forma, Bolsonaro se firma como o principal responsável por sua campanha, já que rejeitou a maioria dos conselhos de amigos, assessores e companheiros de agremiação. Se ganhar, será alçado à categoria de gênio político. Mas, se perder, sofrerá a amargura de ter contribuído fortemente para seu eventual revés em 2022.