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Roberto Jefferson: da baixaria veio e na baixaria está

Entenda de onde veio e como fez carreira o ex-deputado Roberto Jefferson, preso no último domingo após disparar contra a polícia federal

Então deputado, Roberto Jefferson (PTB/RJ) depõe no Conselho de Ética da Câmara em junho de 2005 (Wilson Dias/Agência Brasil)
DR

Da Redação

Publicado em 24 de outubro de 2022 às 17h47.

No início dos anos 1980, o SBT se chamava TVS. E uma das grandes atrações da programação era um programa vespertino, chamado “ O Povo na TV ”. Durante algumas horas, vários apresentadores (entre os quais Sérgio Mallandro e Cristina Rocha ) se revezavam em frente às câmaras para mostrar casos inusitados vividos pela população.

Gravado no Rio de Janeiro, a atração da TVS era dirigida por Wilton Franco, o mesmo profissional que havia criado um dos ícones do sensacionalismo televisivo, “O Homem do Sapato Branco”, com Jacinto Figueira Júnior. Na pauta, um só assunto: o chamado mundo cão. Quanto mais bizarra fosse a história, maior espaço haveria para ela.

No meio dessa baixaria, um personagem se destacava: o advogado Roberto Jefferson. Ele era uma espécie de precursor do deputado Celso Russomano, aparecendo no ar para falar dos direitos do consumidor e também sobre outros temas relacionados ao direito. Em 1982, no meio da Copa do Mundo e com a seleção brasileira embalada com as jogadas de Sócrates e Zico, as partidas do Brasil eram transmitidas apenas pela Globo. As outras emissoras registravam algo próximo a traço de audiência. Num desses jogos, todos os canais programaram atrações gravadas. Menos a TVS, pois a tradição de “O Povo na TV” era a transmissão ao vivo. Quem foi escalado para falar para meia dúzia de gatos pingados? Roberto Jefferson. A fome por casos bizarros levou o programa a uma tragédia. Um bebê de 9 meses, que sofria de tumor em um dos olhos, não tinha sido atendido nos hospitais públicos do Rio. Os produtores, apesar do estado crítico da criança, levaram-no aos estúdios da TVS. Resultado: o bebê morreu em pleno programa.

Esse é o nascedouro de Roberto Jefferson como figura pública. Ele utilizou a fama proporcionada pela televisão e se elegeu diversas vezes como deputado federal. E ganhou notoriedade ao denunciar o esquema do Mensalão (alcunha dada por ele, por sinal), que distribuía dinheiro a parlamentares em troca de apoio no Congresso. Foi cassado e amargou uma temporada na prisão. Em 2021, foi novamente preso pela Polícia Federal por envolvimento em campanhas difamatórias nas redes sociais. O autor do despacho foi o ministro Alexandre de Moraes. Ele, que já tinha raiva do Supremo Tribunal Federal, foi tomado pelo ódio absoluto depois desse encarceramento (até ontem, reduzido a prisão domiciliar).

Na semana passada, o ex-deputado, conhecido por postar vídeos com o olhar sorumbático e segurando armas de fogo, passou dos limites ao criticar o voto da ministra Carmen Lúcia ao autorizar ações de censura contra veículos e contas digitais nesta reta final da eleição. Esse voto, por sinal, recebeu inúmeros apupos. Mas Jefferson chafurdou na lama ao se deixar levar por argumentos chulos e chamar a juíza de prostituta. Esse é Roberto Jefferson: da baixaria veio e na baixaria continua.

Esses acontecimentos lamentáveis evoluíram para um infortúnio durante o domingo. Alexandre de Moraes decretou a prisão de Jefferson por causa das ofensas a Carmen Lúcia (algo totalmente execrável – mas seria o caso de cadeia?) e o ex-deputado reagiu à chegada da Polícia Federal com tiros de fuzil e disparo de granadas, acertando dois agentes. A tensão só diminuiu com a chegada de Padre Kelmon, que recolheu as armas do mandachuva do PTB e as entregou às autoridades. Além disso, o petebista obteve um tratamento VIP: sua rendição passou a ser negociada diretamente pelo ministro da Justiça, Anderson Torres (o que trouxe desconforto junto à cúpula da PF). Ele finalmente se entregou por volta das 19:00.

Depois de muito tempo, Jefferson se entregou à polícia e foi encaminhado a uma prisão carioca. Sua tática, de parecer um mártir, funcionou: o nome dele chegou ao topo dos trending topics do Twitter às 14:00 e lá ficou ao longo do dia. E vários vídeos gravados por ele de dentro da sua casa passaram a girar pela rede. O ex-parlamentar foi baixo, chulo e execrável – como vários personagens que atuam na ribalta eleitoral em 2022. Mas xingamentos, até onde se saiba, não configuram um crime passível de xilindró. O que baseou, então, a decisão do Supremo? Como Jefferson estava em detenção domiciliar por conta de seu comportamento nas redes sociais, sua conduta em relação à juíza Carmen Lúcia levou os magistrados a regredir o regime prisional.

Porém, ao atirar na Polícia Federal e colocar em risco a vida de agentes que nada tinham a ver com a rixa entre ele e o STF, Jefferson cometeu delitos que apenas pioram sua situação legal — e o colocam no mesmo nível de um criminoso comum. Isso mostra o quão desequilibrado é o ex-deputado e como o confronto entre teimosos tem tudo para terminar em tragédia. O presidente Jair Bolsonaro, até ontem aliado do petebista, soltou um vídeo de dezessete segundos ao final de domingo, no qual foi direto ao assunto: “O tratamento dispensado a quem atira em policial é o de bandido”.

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No início dos anos 1980, o SBT se chamava TVS. E uma das grandes atrações da programação era um programa vespertino, chamado “ O Povo na TV ”. Durante algumas horas, vários apresentadores (entre os quais Sérgio Mallandro e Cristina Rocha ) se revezavam em frente às câmaras para mostrar casos inusitados vividos pela população.

Gravado no Rio de Janeiro, a atração da TVS era dirigida por Wilton Franco, o mesmo profissional que havia criado um dos ícones do sensacionalismo televisivo, “O Homem do Sapato Branco”, com Jacinto Figueira Júnior. Na pauta, um só assunto: o chamado mundo cão. Quanto mais bizarra fosse a história, maior espaço haveria para ela.

No meio dessa baixaria, um personagem se destacava: o advogado Roberto Jefferson. Ele era uma espécie de precursor do deputado Celso Russomano, aparecendo no ar para falar dos direitos do consumidor e também sobre outros temas relacionados ao direito. Em 1982, no meio da Copa do Mundo e com a seleção brasileira embalada com as jogadas de Sócrates e Zico, as partidas do Brasil eram transmitidas apenas pela Globo. As outras emissoras registravam algo próximo a traço de audiência. Num desses jogos, todos os canais programaram atrações gravadas. Menos a TVS, pois a tradição de “O Povo na TV” era a transmissão ao vivo. Quem foi escalado para falar para meia dúzia de gatos pingados? Roberto Jefferson. A fome por casos bizarros levou o programa a uma tragédia. Um bebê de 9 meses, que sofria de tumor em um dos olhos, não tinha sido atendido nos hospitais públicos do Rio. Os produtores, apesar do estado crítico da criança, levaram-no aos estúdios da TVS. Resultado: o bebê morreu em pleno programa.

Esse é o nascedouro de Roberto Jefferson como figura pública. Ele utilizou a fama proporcionada pela televisão e se elegeu diversas vezes como deputado federal. E ganhou notoriedade ao denunciar o esquema do Mensalão (alcunha dada por ele, por sinal), que distribuía dinheiro a parlamentares em troca de apoio no Congresso. Foi cassado e amargou uma temporada na prisão. Em 2021, foi novamente preso pela Polícia Federal por envolvimento em campanhas difamatórias nas redes sociais. O autor do despacho foi o ministro Alexandre de Moraes. Ele, que já tinha raiva do Supremo Tribunal Federal, foi tomado pelo ódio absoluto depois desse encarceramento (até ontem, reduzido a prisão domiciliar).

Na semana passada, o ex-deputado, conhecido por postar vídeos com o olhar sorumbático e segurando armas de fogo, passou dos limites ao criticar o voto da ministra Carmen Lúcia ao autorizar ações de censura contra veículos e contas digitais nesta reta final da eleição. Esse voto, por sinal, recebeu inúmeros apupos. Mas Jefferson chafurdou na lama ao se deixar levar por argumentos chulos e chamar a juíza de prostituta. Esse é Roberto Jefferson: da baixaria veio e na baixaria continua.

Esses acontecimentos lamentáveis evoluíram para um infortúnio durante o domingo. Alexandre de Moraes decretou a prisão de Jefferson por causa das ofensas a Carmen Lúcia (algo totalmente execrável – mas seria o caso de cadeia?) e o ex-deputado reagiu à chegada da Polícia Federal com tiros de fuzil e disparo de granadas, acertando dois agentes. A tensão só diminuiu com a chegada de Padre Kelmon, que recolheu as armas do mandachuva do PTB e as entregou às autoridades. Além disso, o petebista obteve um tratamento VIP: sua rendição passou a ser negociada diretamente pelo ministro da Justiça, Anderson Torres (o que trouxe desconforto junto à cúpula da PF). Ele finalmente se entregou por volta das 19:00.

Depois de muito tempo, Jefferson se entregou à polícia e foi encaminhado a uma prisão carioca. Sua tática, de parecer um mártir, funcionou: o nome dele chegou ao topo dos trending topics do Twitter às 14:00 e lá ficou ao longo do dia. E vários vídeos gravados por ele de dentro da sua casa passaram a girar pela rede. O ex-parlamentar foi baixo, chulo e execrável – como vários personagens que atuam na ribalta eleitoral em 2022. Mas xingamentos, até onde se saiba, não configuram um crime passível de xilindró. O que baseou, então, a decisão do Supremo? Como Jefferson estava em detenção domiciliar por conta de seu comportamento nas redes sociais, sua conduta em relação à juíza Carmen Lúcia levou os magistrados a regredir o regime prisional.

Porém, ao atirar na Polícia Federal e colocar em risco a vida de agentes que nada tinham a ver com a rixa entre ele e o STF, Jefferson cometeu delitos que apenas pioram sua situação legal — e o colocam no mesmo nível de um criminoso comum. Isso mostra o quão desequilibrado é o ex-deputado e como o confronto entre teimosos tem tudo para terminar em tragédia. O presidente Jair Bolsonaro, até ontem aliado do petebista, soltou um vídeo de dezessete segundos ao final de domingo, no qual foi direto ao assunto: “O tratamento dispensado a quem atira em policial é o de bandido”.

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