Restaurantes lotados e trânsito nas ruas: a vida voltou ao normal?
A pandemia não está exatamente no final e os índices de vacinação ainda estão relativamente baixos
Da Redação
Publicado em 6 de julho de 2021 às 08h57.
Última atualização em 6 de julho de 2021 às 16h07.
Aluizio Falcão Filho
Nos últimos dias, percebi que o trânsito na cidade de São Paulo havia aumentado consideravelmente. Enfrentei alguns congestionamentos e notei pela minha janela que as avenidas próximas estavam coalhadas de automóveis. No final de semana, porém, tomei um susto quando passei de carro pelas ruas de Cerqueira César, um bairro paulistano mais conhecido como “Jardins”. Havia multidões esperando na calçada a vez de se sentar em alguns restaurantes – várias aglomerações com 20 ou até 40 pessoas.
O número de vítimas pelo Covid-19 continua alto, assim como o número de internações de casos de contaminação. A pandemia não está exatamente no final e os índices de vacinação ainda estão relativamente baixos. São 27 milhões de brasileiros totalmente imunizados (que receberam a segunda dose ou a dose única de vacinas como a da Janssen). A boa notícia é que os óbitos estão diminuindo, assim como o volume de internações nos hospitais. Mesmo assim, ainda temos um grande caminho pela frente, uma vez que o contingente de indivíduos totalmente vacinados representa cerca de 13 % de toda a população brasileira.
A impressão que se tem nas ruas é a de que a pandemia acabou, pelo menos nos redutos das classes média e alta de São Paulo. As pessoas ainda usam máscaras de proteção, mas estão saindo mais e buscando opções de lazer. O mesmo pode ser visto no comércio. Os shopping centers estão bem cheios e as lojas estão repletas de gente.
Essa é uma notícia que apenas reforça a ideia de que há uma retomada econômica e de que o resultado do Produto Interno Bruto em 2021 deve surpreender as expectativas e chocar os pessimistas.
Além disso, trata-se de um comportamento que tem a ver com o avanço da vacinação, especialmente no estado de São Paulo, onde se espera encerrar a imunização dos habitantes acima de 18 anos até o final de setembro. A data final, no entanto, pode ser antecipada. Tome-se o dia previsto para quem tem 40 anos de idade. Esperava-se que essas pessoas seriam vacinadas na quinta-feira. Ontem, porém, surgiu a notícia de que os nascidos em 1981 poderiam ser imunizados a partir de quarta.
A primeira dose de vacina já traz uma dose de confiança maior entre os paulistanos – embora a orientação médica seja a de cautela e distanciamento até o recebimento da segunda dose. Essa é a primeira explicação para o aumento do número de pessoas nas ruas. Ao lado disso, temos também aqueles que receberam os dois shots de imunizantes, as pessoas acima de 65 anos. Boa parte deste grupo sempre quis sair de casa, mas acabou sendo mais impactado pelas regras de isolamento. Agora, imunizados, eles querem voltar ao convívio social.
Some-se a essa confiança adquirida com a primeira dose de imunizante o esgotamento emocional absoluto pelo qual as pessoas passaram desde março de 2020. Ninguém aguenta mais ficar em casa e se privar do contato dos amigos e dos parentes.
Diante deste quadro, chegamos a duas conclusões. A primeira: é preciso reconhecer que os economistas que ligavam a retomada econômica do Brasil à vacinação em massa estavam certos. A segunda: não podemos relaxar totalmente. O vírus é absolutamente imprevisível e ataca os seres humanos de forma customizada. Pessoas imunizadas com duas doses podem também ser contaminadas e gente que não recebeu nenhuma dose pode passar ao largo da pandemia. Assim, a aglomeração de pessoas em restaurantes – mesmo que ao ar livre – pode ser perigosa.
Não podemos ignorar esses riscos e achar que o pior já passou. O ideal é refrear a contaminação em massa através da distribuição de vacinas, buscando diminuir a ação do coronavírus junto à população. Contudo, enquanto isso não ocorre totalmente, é mais seguro evitar ajuntamentos.
A partir do segundo semestre, teremos de forma mais clara quais serão os efeitos práticos da imunização maciça da sociedade. Mas precisaremos, daqui para frente, conviver com o legado da pandemia. Um deles será a elevação dos padrões de higiene, especialmente das mãos. O uso de máscaras será definitivamente incorporado ao dia a dia por uma quantidade considerável de pessoas. E, por fim, o hábito de se vacinar anualmente será também adotado por todos. Essa será a única maneira de evitar mortes desnecessárias ou efeitos colaterais dolorosos e difíceis.
A dúvida que resta é quanto às manifestações de afeto – beijos, abraços ou mesmo apertos de mão. Percebo que há um número razoável de pessoas que se crispa no momento de cumprimentar os outros e prefere um aceno à distância (uma linguagem corporal que avisa “nem vem que não tem”). Esse comportamento vai continuar após a imunização da população? Como nós, brasileiros, vamos reagir a esse tipo de atitude em breve?
Teremos que aprender a respeitar as limitações alheias. E entender que se o nosso abraço não é bem-vindo, só nos resta aceitar a rejeição e processá-la racionalmente. É como uma frase que recebi do amigo Mark Essle, a respeito de meu artigo de ontem. Trata-se de uma sentença atribuída ao filósofo Sócrates, cujo pensamento é considerado de grande influência na escola dos estoicos, que surgiria anos após sua morte por envenenamento: “O estoico é quem converte o medo em prudência, dor em transformação, erro em iniciação e ideias em empreendimento”. Essa lição, no entanto, de nada serve se não houver o respeito pelo próximo como ponto de partida.
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Aluizio Falcão Filho
Nos últimos dias, percebi que o trânsito na cidade de São Paulo havia aumentado consideravelmente. Enfrentei alguns congestionamentos e notei pela minha janela que as avenidas próximas estavam coalhadas de automóveis. No final de semana, porém, tomei um susto quando passei de carro pelas ruas de Cerqueira César, um bairro paulistano mais conhecido como “Jardins”. Havia multidões esperando na calçada a vez de se sentar em alguns restaurantes – várias aglomerações com 20 ou até 40 pessoas.
O número de vítimas pelo Covid-19 continua alto, assim como o número de internações de casos de contaminação. A pandemia não está exatamente no final e os índices de vacinação ainda estão relativamente baixos. São 27 milhões de brasileiros totalmente imunizados (que receberam a segunda dose ou a dose única de vacinas como a da Janssen). A boa notícia é que os óbitos estão diminuindo, assim como o volume de internações nos hospitais. Mesmo assim, ainda temos um grande caminho pela frente, uma vez que o contingente de indivíduos totalmente vacinados representa cerca de 13 % de toda a população brasileira.
A impressão que se tem nas ruas é a de que a pandemia acabou, pelo menos nos redutos das classes média e alta de São Paulo. As pessoas ainda usam máscaras de proteção, mas estão saindo mais e buscando opções de lazer. O mesmo pode ser visto no comércio. Os shopping centers estão bem cheios e as lojas estão repletas de gente.
Essa é uma notícia que apenas reforça a ideia de que há uma retomada econômica e de que o resultado do Produto Interno Bruto em 2021 deve surpreender as expectativas e chocar os pessimistas.
Além disso, trata-se de um comportamento que tem a ver com o avanço da vacinação, especialmente no estado de São Paulo, onde se espera encerrar a imunização dos habitantes acima de 18 anos até o final de setembro. A data final, no entanto, pode ser antecipada. Tome-se o dia previsto para quem tem 40 anos de idade. Esperava-se que essas pessoas seriam vacinadas na quinta-feira. Ontem, porém, surgiu a notícia de que os nascidos em 1981 poderiam ser imunizados a partir de quarta.
A primeira dose de vacina já traz uma dose de confiança maior entre os paulistanos – embora a orientação médica seja a de cautela e distanciamento até o recebimento da segunda dose. Essa é a primeira explicação para o aumento do número de pessoas nas ruas. Ao lado disso, temos também aqueles que receberam os dois shots de imunizantes, as pessoas acima de 65 anos. Boa parte deste grupo sempre quis sair de casa, mas acabou sendo mais impactado pelas regras de isolamento. Agora, imunizados, eles querem voltar ao convívio social.
Some-se a essa confiança adquirida com a primeira dose de imunizante o esgotamento emocional absoluto pelo qual as pessoas passaram desde março de 2020. Ninguém aguenta mais ficar em casa e se privar do contato dos amigos e dos parentes.
Diante deste quadro, chegamos a duas conclusões. A primeira: é preciso reconhecer que os economistas que ligavam a retomada econômica do Brasil à vacinação em massa estavam certos. A segunda: não podemos relaxar totalmente. O vírus é absolutamente imprevisível e ataca os seres humanos de forma customizada. Pessoas imunizadas com duas doses podem também ser contaminadas e gente que não recebeu nenhuma dose pode passar ao largo da pandemia. Assim, a aglomeração de pessoas em restaurantes – mesmo que ao ar livre – pode ser perigosa.
Não podemos ignorar esses riscos e achar que o pior já passou. O ideal é refrear a contaminação em massa através da distribuição de vacinas, buscando diminuir a ação do coronavírus junto à população. Contudo, enquanto isso não ocorre totalmente, é mais seguro evitar ajuntamentos.
A partir do segundo semestre, teremos de forma mais clara quais serão os efeitos práticos da imunização maciça da sociedade. Mas precisaremos, daqui para frente, conviver com o legado da pandemia. Um deles será a elevação dos padrões de higiene, especialmente das mãos. O uso de máscaras será definitivamente incorporado ao dia a dia por uma quantidade considerável de pessoas. E, por fim, o hábito de se vacinar anualmente será também adotado por todos. Essa será a única maneira de evitar mortes desnecessárias ou efeitos colaterais dolorosos e difíceis.
A dúvida que resta é quanto às manifestações de afeto – beijos, abraços ou mesmo apertos de mão. Percebo que há um número razoável de pessoas que se crispa no momento de cumprimentar os outros e prefere um aceno à distância (uma linguagem corporal que avisa “nem vem que não tem”). Esse comportamento vai continuar após a imunização da população? Como nós, brasileiros, vamos reagir a esse tipo de atitude em breve?
Teremos que aprender a respeitar as limitações alheias. E entender que se o nosso abraço não é bem-vindo, só nos resta aceitar a rejeição e processá-la racionalmente. É como uma frase que recebi do amigo Mark Essle, a respeito de meu artigo de ontem. Trata-se de uma sentença atribuída ao filósofo Sócrates, cujo pensamento é considerado de grande influência na escola dos estoicos, que surgiria anos após sua morte por envenenamento: “O estoico é quem converte o medo em prudência, dor em transformação, erro em iniciação e ideias em empreendimento”. Essa lição, no entanto, de nada serve se não houver o respeito pelo próximo como ponto de partida.
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