Renan e outros nomes de fama duvidosa que ocuparam posições importantes
Ter políticos de reputação duvidosa à frente de processos importantes para o futuro é algo corriqueiro no Brasil
Da Redação
Publicado em 9 de junho de 2021 às 14h28.
Por Aluizio Falcão Filho
É muito comum ouvirmos empresários – alguns dos quais não são defensores do governo – questionando a CPI da Pandemia em função do currículo de seus protagonistas, os senadores Omar Aziz e Renan Calheiros. Embora esses políticos não gozem exatamente da melhor fama do mundo, a Comissão vem revelando algumas pérolas que deixarão o Planalto mais alerta daqui para frente em relação ao combate à Covid-19.
Ter políticos de reputação duvidosa à frente de processos importantes para o futuro é algo corriqueiro no Brasil. Parece que temos uma sina: em algum momento, temos de depender de alguém ardiloso para deixar um período conturbado para trás e seguir em frente. Abaixo, cinco exemplos de situações cruciais para o Brasil que tiveram como personagem central alguém que suscitava comentários entre os brasileiros sobre sua retidão.
+ Eduardo Cunha e o Impeachment de Dilma Rousseff:
Eduardo Cunha ganhou a alcunha de “meu malvado favorito” durante o processo que cassou o mandato de Dilma Rousseff. Dono de um conhecimento imbatível do regimento interno da Câmara, era capaz de barrar os movimentos da oposição em segundos, citando artigos e parágrafos de cor. Tinha fama de corrupto – tanto que a Lava-Jato encontrou movimentações suspeitas de dinheiro em suas contas bancárias, inclusive na Suíça –, mas coube a ele conduzir o caminho que levou ao fim do PT como epicentro do poder político no Brasil.
+ Fernando Collor e a abertura dos mercados
O hoje senador Fernando Collor sofreu o primeiro impeachment presidencial da história brasileira, soterrado por acusações de corrupção. O esquema foi desbaratado por conta de um pagamento feito por Paulo César Farias, tesoureiro da campanha de Collor em 1989, para comprar um automóvel Fiat Elba, cuja placa era FA 1208 (“FA” de Fernando Affonso, o nome do ex-presidente, e 1208 como referência a seu aniversário, 12 de agosto).
Apesar dessas acusações e de uma condução absolutamente desastrosa para conter a espiral inflacionária, Collor é considerado responsável pela abertura dos mercados que propiciou a volta das importações de automóveis no país – o primeiro passo para a modernização de nosso parque industrial. Atrás dessas importações, outras foram também permitidas e o país deu seus primeiros passos em direção à globalização.
+ Michel Temer e a travessia entre Dilma e Bolsonaro
O ex-presidente Michel Temer teve um mandato relativamente tranquilo (com exceção da divulgação de seu diálogo com o empresário Joesley Batista) e conseguiu emplacar no Congresso a Reforma Trabalhista. Mas uma de suas principais conquistas foi ter criado um ambiente político sem sobressaltos para construir uma ponte segura entre o impeachment de Dilma Rousseff e a posse de Jair Bolsonaro.
Mas a menção ao nome do ex-presidente pode gerar discussões em torno de sua honestidade. Ele já foi denunciado por corrupção e peculato, mas, até agora, não foi condenado em nenhum processo. Pelo contrário, em março deste ano foi absolvido em um deles. Aos mais desconfiados, no entanto, fica a suspeita sobre sua conduta.
+ Shigeaki Ueki e o acordo nuclear Brasil-Alemanha
A fama do ex-presidente da Petrobras não é das melhores e seu nome é sempre lembrado quando se discute corrupção durante a ditadura militar. Mas foi justamente ele, alvo de suspeitas, o representante do governo para negociar com a Alemanha o acordo de cooperação que resultou na construção de duas usinas nucleares no Brasil.
Embora seja alvo de discórdia, as plantas nucleares eram vistas nos anos 1970 como uma solução para as flutuações climáticas que poderiam colocar em risco o sistema energético nacional, muito dependente das hidrelétricas. E coube justamente a Ueki a tarefa de implementar o sistema, que ficou reduzido a duas unidades e jamais prosperou em solo brasileiro.
+ Roberto Cardoso Alves e a cassação de Márcio Moreira Alves
O falecido Roberto Cardoso Alves sempre será lembrado pela frase “é dando que se recebe”, que definia a razão de ser de o seu grupo político, uma espécie de antepassado do atual Centrão. Um símbolo do fisiologismo político, “Robertão”, como ele era conhecido, foi personagem de um caso em que mostrou coragem para peitar os donos do Poder.
Corria o ano de 1969. O AI-5 já tinha sido promulgado e vários parlamentares tinham perdido o mandato – entre eles, Marcio Moreira Alves, cujo discurso contundente em setembro do ano anterior havia estimulado os militares a endurecer o regime (o Congresso se recusou a cassar o mandato de Alves e os militares promulgaram o ato institucional na sequência). Deputado pela Arena, o partido do governo, Cardoso Alves deu declarações contrárias à cassação do colega – e também foi cassado. Ou seja, um político governista e de direita ousou criticar a atitude dos militares, numa época em que eram poucos os oposicionistas a falar grosso.
Por Aluizio Falcão Filho
É muito comum ouvirmos empresários – alguns dos quais não são defensores do governo – questionando a CPI da Pandemia em função do currículo de seus protagonistas, os senadores Omar Aziz e Renan Calheiros. Embora esses políticos não gozem exatamente da melhor fama do mundo, a Comissão vem revelando algumas pérolas que deixarão o Planalto mais alerta daqui para frente em relação ao combate à Covid-19.
Ter políticos de reputação duvidosa à frente de processos importantes para o futuro é algo corriqueiro no Brasil. Parece que temos uma sina: em algum momento, temos de depender de alguém ardiloso para deixar um período conturbado para trás e seguir em frente. Abaixo, cinco exemplos de situações cruciais para o Brasil que tiveram como personagem central alguém que suscitava comentários entre os brasileiros sobre sua retidão.
+ Eduardo Cunha e o Impeachment de Dilma Rousseff:
Eduardo Cunha ganhou a alcunha de “meu malvado favorito” durante o processo que cassou o mandato de Dilma Rousseff. Dono de um conhecimento imbatível do regimento interno da Câmara, era capaz de barrar os movimentos da oposição em segundos, citando artigos e parágrafos de cor. Tinha fama de corrupto – tanto que a Lava-Jato encontrou movimentações suspeitas de dinheiro em suas contas bancárias, inclusive na Suíça –, mas coube a ele conduzir o caminho que levou ao fim do PT como epicentro do poder político no Brasil.
+ Fernando Collor e a abertura dos mercados
O hoje senador Fernando Collor sofreu o primeiro impeachment presidencial da história brasileira, soterrado por acusações de corrupção. O esquema foi desbaratado por conta de um pagamento feito por Paulo César Farias, tesoureiro da campanha de Collor em 1989, para comprar um automóvel Fiat Elba, cuja placa era FA 1208 (“FA” de Fernando Affonso, o nome do ex-presidente, e 1208 como referência a seu aniversário, 12 de agosto).
Apesar dessas acusações e de uma condução absolutamente desastrosa para conter a espiral inflacionária, Collor é considerado responsável pela abertura dos mercados que propiciou a volta das importações de automóveis no país – o primeiro passo para a modernização de nosso parque industrial. Atrás dessas importações, outras foram também permitidas e o país deu seus primeiros passos em direção à globalização.
+ Michel Temer e a travessia entre Dilma e Bolsonaro
O ex-presidente Michel Temer teve um mandato relativamente tranquilo (com exceção da divulgação de seu diálogo com o empresário Joesley Batista) e conseguiu emplacar no Congresso a Reforma Trabalhista. Mas uma de suas principais conquistas foi ter criado um ambiente político sem sobressaltos para construir uma ponte segura entre o impeachment de Dilma Rousseff e a posse de Jair Bolsonaro.
Mas a menção ao nome do ex-presidente pode gerar discussões em torno de sua honestidade. Ele já foi denunciado por corrupção e peculato, mas, até agora, não foi condenado em nenhum processo. Pelo contrário, em março deste ano foi absolvido em um deles. Aos mais desconfiados, no entanto, fica a suspeita sobre sua conduta.
+ Shigeaki Ueki e o acordo nuclear Brasil-Alemanha
A fama do ex-presidente da Petrobras não é das melhores e seu nome é sempre lembrado quando se discute corrupção durante a ditadura militar. Mas foi justamente ele, alvo de suspeitas, o representante do governo para negociar com a Alemanha o acordo de cooperação que resultou na construção de duas usinas nucleares no Brasil.
Embora seja alvo de discórdia, as plantas nucleares eram vistas nos anos 1970 como uma solução para as flutuações climáticas que poderiam colocar em risco o sistema energético nacional, muito dependente das hidrelétricas. E coube justamente a Ueki a tarefa de implementar o sistema, que ficou reduzido a duas unidades e jamais prosperou em solo brasileiro.
+ Roberto Cardoso Alves e a cassação de Márcio Moreira Alves
O falecido Roberto Cardoso Alves sempre será lembrado pela frase “é dando que se recebe”, que definia a razão de ser de o seu grupo político, uma espécie de antepassado do atual Centrão. Um símbolo do fisiologismo político, “Robertão”, como ele era conhecido, foi personagem de um caso em que mostrou coragem para peitar os donos do Poder.
Corria o ano de 1969. O AI-5 já tinha sido promulgado e vários parlamentares tinham perdido o mandato – entre eles, Marcio Moreira Alves, cujo discurso contundente em setembro do ano anterior havia estimulado os militares a endurecer o regime (o Congresso se recusou a cassar o mandato de Alves e os militares promulgaram o ato institucional na sequência). Deputado pela Arena, o partido do governo, Cardoso Alves deu declarações contrárias à cassação do colega – e também foi cassado. Ou seja, um político governista e de direita ousou criticar a atitude dos militares, numa época em que eram poucos os oposicionistas a falar grosso.