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Rebeca Andrade e outros exemplos de perseverança

Mesmo que não consiga nenhuma medalha para o Brasil, Rebeca já pode ser considerada uma vencedora

Rebeca Andrade se apresenta no solo nos Jogos de Tóquio (Lindsey Wasson/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 29 de julho de 2021 às 09h14.

Aluizio Falcão Filho

Hoje, a ginasta Rebeca Andrade (foto) disputa a primeira de suas três finais nas Olimpíadas . Com a desistência de Simone Biles, vai para essa disputa como favorita na categoria “individual geral”, na qual havia obtido uma nota superada apenas pela americana. Mas, mesmo que não consiga nenhuma medalha para o Brasil, Rebeca já pode ser considerada uma vencedora. Afinal, ela possui uma das principais características daqueles que conseguem se realizar em suas carreiras – a perseverança.

A ginasta brasileira enfrentou todo o tipo de adversidades. Dificuldades financeiras, para começar. Teve ainda de encarar o desafio de sair ainda criança de casa, em Guarulhos, para morar e treinar em Curitiba. E, ainda por cima, enfrentar e superar três operações nos joelhos. Detalhe: ela tem apenas 22 anos.

Perseverança é um ingrediente vital para quem busca o reconhecimento – de empreendedores a artistas, de executivos a atletas. Esse caminho, que nem sempre tem a ver com o sucesso monetário, é sempre sinuoso, esburacado e íngreme. São raríssimas aquelas pessoas que são aclamadas e não fizeram um esforço gigantesco para isso.

No mundo empresarial e artístico, há indivíduos perseverantes que, como Rebeca, conseguiram superar adversidades e se transformam em exemplos inspiradores para todos nós.

O escritor Stephen King é um deles. Goste-se ou não de sua obra, King é um dos autores mais prolíficos de todos os tempos. São mais de 400 milhões de livros vendidos no mundo todo, incluindo várias obras que se transformaram em filmes de sucesso (“Carrie, a Estranha”, “O Iluminado”, “Christine”, “Cemitério Maldito”, “Conta Comigo”, “Um Sonho de Liberdade” e “It – A Coisa” são algumas delas). King publica tantos livros que existe uma teoria da conspiração sobre isso. Segundo essa tese, ele chefiaria uma equipe de escritores e publicaria essa infinidade de obras sob seu nome.

Ele veio de uma família pobre e casou-se muito cedo. Para se virar, tinha vários serviços braçais e, mesmo com pouco tempo sobrando, encontrou tempo para escrever o que viria a ser “Carrie, a Estranha”. Certa manhã, no início da década de 1970, frustrado e cansado, jogou seu texto no lixo e foi trabalhar. Ao voltar para casa, sua mulher estava com os originais na mão. Ela havia lido e adorado o manuscrito. King recebeu uma nova dose de ânimo e conseguiu vender “Carrie” para um editor local. Seus honorários iniciais: US$ 2 500. Alguns meses depois, livro passou a ser distribuído por uma editora nacional. King quase caiu para trás quando recebeu seu primeiro cheque de direitos autorais: US$ 200 000.

O diretor de cinema, Robert Zemeckis, também pode ser enquadrado na mesma categoria de Rebeca e de King. Antes de estourar com “De Volta Para o Futuro”, Zemeckis não conseguiu emplacar um só sucesso no cinema e ficou quatro anos na batalha por um estúdio que aceitasse rodar o roteiro do adolescente que vai ao passado e conhece seus pais. Sua sorte começou a virar quando conheceu Steven Spielberg, que lhe ajudou com duas produções cinematográficas – que, apesar da assinatura estrelada, foram iniciativas fracassadas. A saga de Marty McFly, no entanto, começou a se materializar quando ouviu sugestões de executivos da indústria do cinema e mudou a máquina do tempo, que era originalmente uma geladeira enferrujada, para um De Lorean (felizmente, Zemeckis recusou a orientação de um produtor executivo da Universal que ordenou a mudança de título para “Spaceman from Pluto”, sob a alegação de que filmes com a palavra “futuro” no epíteto não faziam sucesso).

Ainda no mundo do entretenimento, Walt Disney é um que continuou insistindo em seus projetos (o coelho Oswaldo e, depois, o legendário rato Mickey) mesmo quando todas as portas se fechavam à frente. Mas nada se compara à saga que enfrentou para conseguir os direitos de filmagem de Mary Poppins. A escritora P.L. Travers (pseudônimo de Helen Lyndon Goff) se recusava a deixar seu personagem mais conhecido a ganhar vida nas telas. Durante 16 anos, Disney viajou à Inglaterra para convencer Travers a mudar de ideia. Ela só foi impelida a ouvir sua proposta quando ficou sem dinheiro e não lhe restou opção. Mesmo assim, criou inúmeras confusões durante a produção – a começar por se recusar a deixar que o filme fosse um musical. “Ela não canta”, disse a Disney sobre sua personagem.

No final, tudo deu certo e o filme conquistou cinco Oscars, mas Travers não gostou do resultado final. Toda a saga entre a escritora e o criador da Disneyworld pode ser conferido no filme “Walt nos Bastidores de Mary Poppins”. Neste registro – embora ficcional – a obstinação de Disney, vivido por Tom Hanks, pode ser conferida.

Por fim, temos o autor da seguinte frase: “O que separa empreendedores de sucesso dos que não têm sucesso é a perseverança”. Quem disse isso? A resposta correta é Steve Jobs, o criador da Apple. Frustrações, ataques dos concorrentes, desafios tecnológicos aparentemente impossíveis – nada disso o detinha.

A biografia de Jobs, escrita por Walter Isaacson, mostra que, em algumas ocasiões, ele ficou deprimido com as dificuldades. Mas, geralmente, respondia às intempéries com um temperamento agressivo e inabalável.

Ao longo da minha carreira como jornalista, aprendi rapidamente a perseverar e a me manter em pé enquanto outros iam ficando pelo caminho. Mas recebi a primeira grande lição quando fui promovido a editor na revista Exame, com 25 anos. Tinha pouca experiência profissional e uma chefia muito exigente. Para piorar, o fechamento avançava nas madrugadas, o que tornava a jornada dos profissionais algo difícil.

Lembro que pensei após a primeira semana: “preciso aguentar um ano nessa posição. Se conseguir isso, eu posso pensar em voos mais altos”. Ultrapassei essa barreira de um ano e fui em frente. Compreendi que aguentar o tranco era uma parte importante da profissão e consegui desenvolver uma resistência mental aos problemas, algo que me ajuda até hoje. Mas de nada resolve a perseverança sem o desenvolvimento de um grande talento. E esse é um grande desafio.

Talentos são desenvolvidos apenas com treinamento e dedicação. Cada uma dos cinco exemplos citados aqui (Rebeca Andrade, Stephen King, Robert Zemeckis, Walt Disney e Steve Jobs) não são apenas duros na queda – são também pessoas que souberam investir em suas habilidades e refiná-las ao máximo.

Essa combinação é única e vencedora. E vale para qualquer vocação: humanas, exatas ou biológicas. Seja qual for a origem da pessoa, da mais humilde à mais abastada. Sem perseverança, não há talento suficiente para garantir o sucesso. Sem talento, toda a perseverança do mundo não levará a nenhum lugar.

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Aluizio Falcão Filho

Hoje, a ginasta Rebeca Andrade (foto) disputa a primeira de suas três finais nas Olimpíadas . Com a desistência de Simone Biles, vai para essa disputa como favorita na categoria “individual geral”, na qual havia obtido uma nota superada apenas pela americana. Mas, mesmo que não consiga nenhuma medalha para o Brasil, Rebeca já pode ser considerada uma vencedora. Afinal, ela possui uma das principais características daqueles que conseguem se realizar em suas carreiras – a perseverança.

A ginasta brasileira enfrentou todo o tipo de adversidades. Dificuldades financeiras, para começar. Teve ainda de encarar o desafio de sair ainda criança de casa, em Guarulhos, para morar e treinar em Curitiba. E, ainda por cima, enfrentar e superar três operações nos joelhos. Detalhe: ela tem apenas 22 anos.

Perseverança é um ingrediente vital para quem busca o reconhecimento – de empreendedores a artistas, de executivos a atletas. Esse caminho, que nem sempre tem a ver com o sucesso monetário, é sempre sinuoso, esburacado e íngreme. São raríssimas aquelas pessoas que são aclamadas e não fizeram um esforço gigantesco para isso.

No mundo empresarial e artístico, há indivíduos perseverantes que, como Rebeca, conseguiram superar adversidades e se transformam em exemplos inspiradores para todos nós.

O escritor Stephen King é um deles. Goste-se ou não de sua obra, King é um dos autores mais prolíficos de todos os tempos. São mais de 400 milhões de livros vendidos no mundo todo, incluindo várias obras que se transformaram em filmes de sucesso (“Carrie, a Estranha”, “O Iluminado”, “Christine”, “Cemitério Maldito”, “Conta Comigo”, “Um Sonho de Liberdade” e “It – A Coisa” são algumas delas). King publica tantos livros que existe uma teoria da conspiração sobre isso. Segundo essa tese, ele chefiaria uma equipe de escritores e publicaria essa infinidade de obras sob seu nome.

Ele veio de uma família pobre e casou-se muito cedo. Para se virar, tinha vários serviços braçais e, mesmo com pouco tempo sobrando, encontrou tempo para escrever o que viria a ser “Carrie, a Estranha”. Certa manhã, no início da década de 1970, frustrado e cansado, jogou seu texto no lixo e foi trabalhar. Ao voltar para casa, sua mulher estava com os originais na mão. Ela havia lido e adorado o manuscrito. King recebeu uma nova dose de ânimo e conseguiu vender “Carrie” para um editor local. Seus honorários iniciais: US$ 2 500. Alguns meses depois, livro passou a ser distribuído por uma editora nacional. King quase caiu para trás quando recebeu seu primeiro cheque de direitos autorais: US$ 200 000.

O diretor de cinema, Robert Zemeckis, também pode ser enquadrado na mesma categoria de Rebeca e de King. Antes de estourar com “De Volta Para o Futuro”, Zemeckis não conseguiu emplacar um só sucesso no cinema e ficou quatro anos na batalha por um estúdio que aceitasse rodar o roteiro do adolescente que vai ao passado e conhece seus pais. Sua sorte começou a virar quando conheceu Steven Spielberg, que lhe ajudou com duas produções cinematográficas – que, apesar da assinatura estrelada, foram iniciativas fracassadas. A saga de Marty McFly, no entanto, começou a se materializar quando ouviu sugestões de executivos da indústria do cinema e mudou a máquina do tempo, que era originalmente uma geladeira enferrujada, para um De Lorean (felizmente, Zemeckis recusou a orientação de um produtor executivo da Universal que ordenou a mudança de título para “Spaceman from Pluto”, sob a alegação de que filmes com a palavra “futuro” no epíteto não faziam sucesso).

Ainda no mundo do entretenimento, Walt Disney é um que continuou insistindo em seus projetos (o coelho Oswaldo e, depois, o legendário rato Mickey) mesmo quando todas as portas se fechavam à frente. Mas nada se compara à saga que enfrentou para conseguir os direitos de filmagem de Mary Poppins. A escritora P.L. Travers (pseudônimo de Helen Lyndon Goff) se recusava a deixar seu personagem mais conhecido a ganhar vida nas telas. Durante 16 anos, Disney viajou à Inglaterra para convencer Travers a mudar de ideia. Ela só foi impelida a ouvir sua proposta quando ficou sem dinheiro e não lhe restou opção. Mesmo assim, criou inúmeras confusões durante a produção – a começar por se recusar a deixar que o filme fosse um musical. “Ela não canta”, disse a Disney sobre sua personagem.

No final, tudo deu certo e o filme conquistou cinco Oscars, mas Travers não gostou do resultado final. Toda a saga entre a escritora e o criador da Disneyworld pode ser conferido no filme “Walt nos Bastidores de Mary Poppins”. Neste registro – embora ficcional – a obstinação de Disney, vivido por Tom Hanks, pode ser conferida.

Por fim, temos o autor da seguinte frase: “O que separa empreendedores de sucesso dos que não têm sucesso é a perseverança”. Quem disse isso? A resposta correta é Steve Jobs, o criador da Apple. Frustrações, ataques dos concorrentes, desafios tecnológicos aparentemente impossíveis – nada disso o detinha.

A biografia de Jobs, escrita por Walter Isaacson, mostra que, em algumas ocasiões, ele ficou deprimido com as dificuldades. Mas, geralmente, respondia às intempéries com um temperamento agressivo e inabalável.

Ao longo da minha carreira como jornalista, aprendi rapidamente a perseverar e a me manter em pé enquanto outros iam ficando pelo caminho. Mas recebi a primeira grande lição quando fui promovido a editor na revista Exame, com 25 anos. Tinha pouca experiência profissional e uma chefia muito exigente. Para piorar, o fechamento avançava nas madrugadas, o que tornava a jornada dos profissionais algo difícil.

Lembro que pensei após a primeira semana: “preciso aguentar um ano nessa posição. Se conseguir isso, eu posso pensar em voos mais altos”. Ultrapassei essa barreira de um ano e fui em frente. Compreendi que aguentar o tranco era uma parte importante da profissão e consegui desenvolver uma resistência mental aos problemas, algo que me ajuda até hoje. Mas de nada resolve a perseverança sem o desenvolvimento de um grande talento. E esse é um grande desafio.

Talentos são desenvolvidos apenas com treinamento e dedicação. Cada uma dos cinco exemplos citados aqui (Rebeca Andrade, Stephen King, Robert Zemeckis, Walt Disney e Steve Jobs) não são apenas duros na queda – são também pessoas que souberam investir em suas habilidades e refiná-las ao máximo.

Essa combinação é única e vencedora. E vale para qualquer vocação: humanas, exatas ou biológicas. Seja qual for a origem da pessoa, da mais humilde à mais abastada. Sem perseverança, não há talento suficiente para garantir o sucesso. Sem talento, toda a perseverança do mundo não levará a nenhum lugar.

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