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Quando vai surgir o terceiro nome para 2022?

As altas taxas de reprovação de Bolsonaro e Lula podem beneficiar o surgimento de um terceiro nome para entrar na disputa de 2022

Urna eletrônica (Fábio Pozzebom/Agência Brasil)
Urna eletrônica (Fábio Pozzebom/Agência Brasil)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 23 de março de 2021 às, 08h10.

Última atualização em 23 de março de 2021 às, 08h11.

O cenário político de 2021, turbinado pela pandemia, criou um elemento novo na corrida eleitoral para o ano que vem: a rejeição dos protagonistas desta ribalta. Tanto o presidente Jair Bolsonaro como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentam problemas que anabolizam seus índices de rejeição e tornam o resultado do pleito presidencial absolutamente imprevisível.

A desaprovação de Lula é alta e tem origem nos escândalos do Mensalão e Petrolão. Embora seus processos tenham de ser julgados novamente pela Justiça em Brasília, a opinião pública não está a favor do petista. Pesquisa divulgada ontem pelo Datafolha mostra que 57 % dos entrevistados consideram justa a condenação de Lula por corrupção e lavagem de dinheiro.

Por outro lado, a reprovação de Bolsonaro aumenta com a combinação entre o fim do auxílio emergencial (que volta em abril) e o comportamento presidencial em relação à pandemia, com um discurso negacionista e muitas vezes insensível.

De um lado, esse duelo de rejeições deixa o segundo turno de 2022 totalmente aberto. Os esquerdistas otimistas e os não-esquerdistas pessimistas acreditam que a dupla Bolsonaro-Lula na segunda etapa eleitoral pode criar uma abstenção enorme entre os eleitores. E, neste caso, o candidato do PT seria vencedor.

Por outro lado, os partidários da situação acham que um confronto direto com Lula beneficia Bolsonaro. O temor de que o PT volte ao poder uniria centro e direita em torno do presidente, que obteria sua reeleição. Esses mesmos apoiadores do presidente acreditam que a volta do auxílio emergencial e o aumento da vacinação vai igualmente melhorar a popularidade do mandatário, aumentando suas chances no pleito do ano que vem.

Trata-se de um cenário aberto, que pode inclusive ser transformado se Lula for novamente condenado em Brasília, abrindo a hipótese de inelegibilidade do líder petista. Neste caso, um novo candidato das esquerdas terá ser apontado para uma análise mais profunda. Quem seria esse nome? Fernando Haddad? Guilherme Boulos? Ciro Gomes, hoje autoproclamado candidato de centro? Todas essas conjecturas ainda são precoces, pois teremos pelo menos um ano até as prévias dos partidos que definirão suas candidaturas.

O que se pode dizer com certeza, porém, é que as altas taxas de reprovação podem beneficiar o surgimento de um terceiro nome para entrar na disputa de 2022. Há uma intersecção entre os que rejeitam tanto Lula como Bolsonaro, algo que ainda não foi explorado amplamente pelas pesquisas eleitorais. O único estudo que temos a respeito foi feito dias atrás pela revista EXAME e o Instituto Ideia, apontando que 38 % dos brasileiros não querem votar em nenhum desses dois nomes.

Que nome seria esse?

É aqui que a coisa enrosca. Os candidatos a terceira via ainda patinam nas pesquisas. Sergio Moro, por exemplo, viu sua popularidade evaporar nos últimos tempos. Em pesquisa do Datafolha, realizada em 2016, obteve um índice de aprovação de 65 %. Em enquete divulgada ontem, marcou 45 %. Ao mesmo tempo, sua reprovação subiu de 13 % para 27 %.

Ciro Gomes, que não é visto consensualmente como um nome de centro, se mantém estável nas pesquisas, mas precisará de maior fôlego no ano que vem. Só conseguirá isso com um discurso duro contra Lula e tem investido fortemente nessa estratégia.

Luciano Huck continua sem empolgar muito o eleitor, o mesmo ocorrendo com o governador João Doria, que enfrenta uma queda de popularidade em São Paulo. Por conta disso, Doria tem admitido que pode desistir da presidência e disputar a reeleição para o Palácio dos Bandeirantes.

A grande dúvida é se esses 38 % de insatisfeitos vão se unir em torno de um nome já existente ou se um candidato novo irá surgir. Essa possibilidade é considerável, dados os resultados de várias eleições recentes. Um exemplo clássico é o pleito municipal de São Paulo em 2016. Em novembro de 2015, a Folha de S. Paulo, através de seu instituto de pesquisas, fez um estudo sobre a eleição para prefeito do ano seguinte. Estampou em sua manchete que o segundo turno para a prefeitura paulistana ficaria entre o apresentador José Luiz Datena e o deputado federal Celso Russomano. Como se sabe, João Doria atropelou o processo de escolha do PSDB, com a ajuda do então governador Geraldo Alckmin, foi candidato e levou a prefeitura no primeiro turno.

Fernando Henrique Cardoso, em março de 1993, era ministro das Relações Exteriores do governo Itamar Franco e pensava apenas em se reeleger como senador. Em maio, no entanto, virou titular da Fazenda e, no ano seguinte, lançou o Plano Real, que estabilizou a moeda brasileira. Resultado: ganhou a eleição para o Planalto em primeiro turno.

Como se vê, as eleições brasileiras são pródigas em nos reservar surpresas. Portanto, a chance de termos um novo nome do páreo presidencial não pode ser descartado.