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Quando os políticos pisam na bola e perdem popularidade

Pisadas na bola são comuns na vida de todos – mas tropeços de autoridades ou candidatos acabam ganhando uma dimensão fora do comum

Ciro Gomes (Adriano Machado/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 1 de outubro de 2021 às 08h51.

Última atualização em 1 de outubro de 2021 às 15h08.

Aluizio Falcão Filho

Há momentos que definem a trajetória de qualquer pessoa. Mas, no caso dos políticos , cuja vida é acompanhada de perto por todos, é possível estabelecer exatamente qual é o instante em que a popularidade começa a se esvair e transforma as eleições seguintes em verdadeiros desafios. Como na música de Chico Buarque (“Na bagunça do seu coração/ Meu sangue errou de veia e se perdeu”), existem encruzilhadas em que os indivíduos tomam o caminho errado e se perdem, com diminutas chances de voltar por cima.

Nos tempos mais recentes, com a polarização amplamente estimulada nas redes sociais, este tipo de cancelamento está cada vez pior. Nos dias de hoje, nas redes sociais, a maioria dos eleitores tem dificuldades de perdoar e já sai condenando aqueles que são acusados deste ou daquele pecado.

Pisadas na bola são comuns na vida de todos – mas tropeços de autoridades ou candidatos acabam ganhando uma dimensão fora do comum, pois o eleitorado é duro na queda na hora de perdoar. E, por isso, muitos políticos sofrem para resgatar a credibilidade que vai embora pelo ralo quando alguma gafe é cometida e é reprovada pela sociedade.

Abaixo, temos cinco políticos que deram mancadas voluntárias ou involuntárias e viram seu capital eleitoral murchar depois de tolices cometidas diante de todos.

CIRO GOMES – corria o ano de 2002 e a campanha pegava fogo entre Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra. Mas, o tucano não era um candidato que entusiasmava os eleitores que ainda cismavam com Lula. Resultado: Ciro começou a ser bem avaliado nas pesquisas, que captaram um crescimento expressivo nas intenções de voto. Em plena ascensão, o candidato passou a ser alvo da atenção dos jornalistas. Além disso, havia uma atração em especial: Ciro era casado com a atriz Patrícia Pillar, que o acompanhava em seus deslocamentos pelo Brasil. Em determinado momento, os jornalistas perguntaram qual era o papel de Patrícia em sua campanha. Visivelmente irritado, Ciro retrucou: “A minha companheira tem um dos papéis mais importantes, que é dormir comigo. Dormir comigo é um papel fundamental”. Depois da resposta, fez-se um silêncio. Foi aí que o candidato percebeu a mancada e tentou consertar. “Evidentemente, eu estou brincando. Essa minha companheira tem uma longa tradição de manejar assuntos sociais, tem muita inteligência, muita sensibilidade”, remendou. Mas o estrago já tinha sido feito. Ciro, até então, estava no terceiro posto nas pesquisas e se aproximando de José Serra. Começou a cair e chegou na quarta colocação, atrás de Anthony Garotinho.

SERGIO MORO – se fosse candidato em 2018, talvez derrotasse Jair Bolsonaro. Mas preferiu ficar fora do páreo e aceitou o cargo de ministro da Justiça finda a eleição. Depois de se desentender com o presidente, pediu demissão atirando. Isso acabou atraindo a ira dos seguidores de Bolsonaro, que passaram a hostilizá-lo nas redes sociais. Se tivesse partido em silêncio, provavelmente não se indisporia com esta fatia do eleitorado. Hoje, Moro é detestado pelos extremos. De um lado, os lulistas não o toleram, já que ele foi responsável pela prisão do ex-presidente. De outro, não agrada também os seguidores de Bolsonaro, que não o suportam desde o pedido de demissão.

JOÃO DORIA – logo após a eleição para prefeito, em 2016, o atual governador despontava como um dos mais promissores nomes da política brasileira, especialmente por ter sido vitorioso no primeiro turno. Neste cenário, seu nome começou a ser cogitado para o pleito presidencial de 2018 – mas seu partido estava previamente comprometido com o ex-governador Geraldo Alckmin, que tinha sido o fiador de sua primeira candidatura política. Apesar disso, Doria começou um périplo nacional, que muito interpretaram como uma tentativa de furar a fila no PSDB. Neste momento, muitos eleitores já ficaram descontentes. Quando Doria largou a prefeitura para se lançar ao governo de São Paulo, frustrando milhões de eleitores, acabou por desagradar mais um contingente expressivo de sufragistas. Por fim, quando rompeu com o presidente Jair Bolsonaro, aborreceu muitos que embarcaram na onda “Bolsodoria”.

LULA – o primeiro baque foi com o Mensalão, que o ex-presidente disse desconhecer. Mas o grande tombo se deu com o Petrolão e o encarceramento por corrupção. Esses dois acontecimentos levaram o PT ao ostracismo e a popularidade de Lula à lona. Apesar de tudo isso, ele conseguiu se recuperar e hoje lidera as pesquisas para as eleições de 2022.

CELSO RUSSOMANNO – o deputado federal é tricampeão neste quesito. Ele já liderou três vezes a corrida pela prefeitura paulistana, mas perdeu a disputa nas três ocasiões. Em todas as vezes, foi vítima de um desempenho pífio nos debates e de propostas sem pé nem cabeça. Na eleição de 2012, no entanto, deu um tiro no pé em pleno debate televisivo. Disse que os paulistanos iriam pagar passagens de ônibus proporcionais aos trechos utilizados. Quem andasse mais, pagava mais e trajetos menores teriam tarifas diminuídas. A princípio, pareceria uma boa ideia. Só que isso significaria o fim do bilhete único, que unificava baldeações de ônibus e metrô em uma única passagem. Dessa forma, quem utilizava o sistema público de transporte teria de pagar mais. Russomanno foi malhado na televisão por todos os rivais e perdeu mais uma eleição.

Por que Jair Bolsonaro não está nessa lista?

Por uma razão muito simples: Bolsonaro sempre agiu da mesma forma, politicamente incorreto e falastrão. A diferença é que seu estilo foi relevado em 2018. Hoje, muitos que criticam o presidente votaram nele 3 anos atrás, achando talvez que ele fosse outro candidato. O fato é que Bolsonaro sempre agiu assim. Só se espanta com as atitudes do presidente quem o idealizou na última eleição.

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Aluizio Falcão Filho

Há momentos que definem a trajetória de qualquer pessoa. Mas, no caso dos políticos , cuja vida é acompanhada de perto por todos, é possível estabelecer exatamente qual é o instante em que a popularidade começa a se esvair e transforma as eleições seguintes em verdadeiros desafios. Como na música de Chico Buarque (“Na bagunça do seu coração/ Meu sangue errou de veia e se perdeu”), existem encruzilhadas em que os indivíduos tomam o caminho errado e se perdem, com diminutas chances de voltar por cima.

Nos tempos mais recentes, com a polarização amplamente estimulada nas redes sociais, este tipo de cancelamento está cada vez pior. Nos dias de hoje, nas redes sociais, a maioria dos eleitores tem dificuldades de perdoar e já sai condenando aqueles que são acusados deste ou daquele pecado.

Pisadas na bola são comuns na vida de todos – mas tropeços de autoridades ou candidatos acabam ganhando uma dimensão fora do comum, pois o eleitorado é duro na queda na hora de perdoar. E, por isso, muitos políticos sofrem para resgatar a credibilidade que vai embora pelo ralo quando alguma gafe é cometida e é reprovada pela sociedade.

Abaixo, temos cinco políticos que deram mancadas voluntárias ou involuntárias e viram seu capital eleitoral murchar depois de tolices cometidas diante de todos.

CIRO GOMES – corria o ano de 2002 e a campanha pegava fogo entre Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra. Mas, o tucano não era um candidato que entusiasmava os eleitores que ainda cismavam com Lula. Resultado: Ciro começou a ser bem avaliado nas pesquisas, que captaram um crescimento expressivo nas intenções de voto. Em plena ascensão, o candidato passou a ser alvo da atenção dos jornalistas. Além disso, havia uma atração em especial: Ciro era casado com a atriz Patrícia Pillar, que o acompanhava em seus deslocamentos pelo Brasil. Em determinado momento, os jornalistas perguntaram qual era o papel de Patrícia em sua campanha. Visivelmente irritado, Ciro retrucou: “A minha companheira tem um dos papéis mais importantes, que é dormir comigo. Dormir comigo é um papel fundamental”. Depois da resposta, fez-se um silêncio. Foi aí que o candidato percebeu a mancada e tentou consertar. “Evidentemente, eu estou brincando. Essa minha companheira tem uma longa tradição de manejar assuntos sociais, tem muita inteligência, muita sensibilidade”, remendou. Mas o estrago já tinha sido feito. Ciro, até então, estava no terceiro posto nas pesquisas e se aproximando de José Serra. Começou a cair e chegou na quarta colocação, atrás de Anthony Garotinho.

SERGIO MORO – se fosse candidato em 2018, talvez derrotasse Jair Bolsonaro. Mas preferiu ficar fora do páreo e aceitou o cargo de ministro da Justiça finda a eleição. Depois de se desentender com o presidente, pediu demissão atirando. Isso acabou atraindo a ira dos seguidores de Bolsonaro, que passaram a hostilizá-lo nas redes sociais. Se tivesse partido em silêncio, provavelmente não se indisporia com esta fatia do eleitorado. Hoje, Moro é detestado pelos extremos. De um lado, os lulistas não o toleram, já que ele foi responsável pela prisão do ex-presidente. De outro, não agrada também os seguidores de Bolsonaro, que não o suportam desde o pedido de demissão.

JOÃO DORIA – logo após a eleição para prefeito, em 2016, o atual governador despontava como um dos mais promissores nomes da política brasileira, especialmente por ter sido vitorioso no primeiro turno. Neste cenário, seu nome começou a ser cogitado para o pleito presidencial de 2018 – mas seu partido estava previamente comprometido com o ex-governador Geraldo Alckmin, que tinha sido o fiador de sua primeira candidatura política. Apesar disso, Doria começou um périplo nacional, que muito interpretaram como uma tentativa de furar a fila no PSDB. Neste momento, muitos eleitores já ficaram descontentes. Quando Doria largou a prefeitura para se lançar ao governo de São Paulo, frustrando milhões de eleitores, acabou por desagradar mais um contingente expressivo de sufragistas. Por fim, quando rompeu com o presidente Jair Bolsonaro, aborreceu muitos que embarcaram na onda “Bolsodoria”.

LULA – o primeiro baque foi com o Mensalão, que o ex-presidente disse desconhecer. Mas o grande tombo se deu com o Petrolão e o encarceramento por corrupção. Esses dois acontecimentos levaram o PT ao ostracismo e a popularidade de Lula à lona. Apesar de tudo isso, ele conseguiu se recuperar e hoje lidera as pesquisas para as eleições de 2022.

CELSO RUSSOMANNO – o deputado federal é tricampeão neste quesito. Ele já liderou três vezes a corrida pela prefeitura paulistana, mas perdeu a disputa nas três ocasiões. Em todas as vezes, foi vítima de um desempenho pífio nos debates e de propostas sem pé nem cabeça. Na eleição de 2012, no entanto, deu um tiro no pé em pleno debate televisivo. Disse que os paulistanos iriam pagar passagens de ônibus proporcionais aos trechos utilizados. Quem andasse mais, pagava mais e trajetos menores teriam tarifas diminuídas. A princípio, pareceria uma boa ideia. Só que isso significaria o fim do bilhete único, que unificava baldeações de ônibus e metrô em uma única passagem. Dessa forma, quem utilizava o sistema público de transporte teria de pagar mais. Russomanno foi malhado na televisão por todos os rivais e perdeu mais uma eleição.

Por que Jair Bolsonaro não está nessa lista?

Por uma razão muito simples: Bolsonaro sempre agiu da mesma forma, politicamente incorreto e falastrão. A diferença é que seu estilo foi relevado em 2018. Hoje, muitos que criticam o presidente votaram nele 3 anos atrás, achando talvez que ele fosse outro candidato. O fato é que Bolsonaro sempre agiu assim. Só se espanta com as atitudes do presidente quem o idealizou na última eleição.

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