Qual é sua reação quando as pessoas te elogiam?
No fundo, o problema maior não é como você reage ao ser elogiado – e sim como você se comporta depois de ser reverenciado
Publicado em 15 de dezembro de 2020 às, 09h03.
Como reagir diante de elogios?
Confesso que me sinto um tanto desconfortável quando isso acontece. Nunca sei como me comportar nessas situações. É o tipo da circunstância na qual seu comportamento pode ser mal interpretado, qualquer que seja a sua reação. Há várias maneiras de se reagir a um cumprimento efusivo. Mas vamos nos ater a quatro delas, talvez as mais comuns:
- O elogiado sente-se envergonhado e tenta relativizar o elogio com tanta ênfase que o interlocutor começa colocar em dúvida o ímpeto de aplaudi-lo.
- Aquele que é louvado fica impassível, torcendo para que o tempo passe rápido e as pessoas parem de elogiá-lo. Esse tipo de reação – vinda geralmente dos tímidos – acaba sendo interpretada não como timidez, mas como arrogância.
- Reagir com humildade e argumentar que é generosidade de quem está conversando consigo. Sua reação pode ser mal recebida, pois uma das coisas mais raras para um ser humano é elogiar o próximo. Discordar disso pode ser o início de uma relação nada amistosa.
- Acatar os elogios e agradecê-los. Dependendo do jeito que o agradecimento é feito, pode parecer soberba de sua parte.
Trata-se da situação em que tudo que disse poderá ser usado contra você. Por isso, o ideal é ser sincero. Você está feliz em ser elogiado? Ponha isso para fora. Está envergonhado? Exprima sua vergonha. Não se sente à altura dos enaltecimentos? Coloque suas dúvidas na mesa. Não sabe como reagir? Não fique impassível. Sorria, dê um “high five” ou diga “é nóis”. Mas não aja como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.
No fundo, o problema maior não é como você reage ao ser elogiado – e sim como você se comporta depois de ser reverenciado. Uma das grandes armadilhas enfrentadas na vida é cair nos truques que a vaidade prontamente coloca diante de nossos olhos. E uma carga enorme de elogios pode causar problemas exponenciais.
A vaidade tem um efeito colateral fortíssimo: o de reduzir a nossa inteligência. Conheço um empresário – não chega a ser meu amigo – que sofre deste mal. Há anos ele é escravo da vaidade, seja do ponto de vista visual ou intelectual. Sempre quer um holofote e é habitué de revistas de celebridades. Alguns anos atrás, quando fui chamado a uma reunião, conversei com ele pela primeira vez e fiquei muito impressionado com sua inteligência e sagacidade. Mas, dias depois, assisti a uma entrevista desse empresário na televisão. Um festival de autoelogios. Cheguei a pensar se aquele entrevistado e o personagem da reunião eram a mesma pessoa.
Imagine agora a combinação: elogios de um lado e a vaidade de outro, juntando a fome com a vontade de comer. Os elogios podem inflar desnecessariamente o seu ego e o efeito dessa situação pode ser catastrófico.
Quando nos ancoramos nos elogios por sermos vaidosos, acabamos por diminuir a importância das críticas. Muitas vezes, lembramos apenas das palmas e nos esquecemos das vaias. Mas, em nossa trajetória profissional ou pessoal, os apupos são tão importantes quando os elogios. Vejam o paradoxo envolvido nessa situação. Uma opinião alheia faz uma pessoa subir no salto alto. Mas outra opinião – desta vez crítica – pode não ser acolhida pelo mesmíssimo indivíduo.
Quando adolescente, lia mais do que a média dos garotos e era enaltecido por isso. Até que um dia uma amiga me chamou a atenção sobre o tom que eu usava ao me expressar. “Parece que você já sabe de tudo”, ela disse. Como tinha dezessete anos, não me preocupei muito com essa observação. Mas lembrei-me recentemente deste episódio quando vi o post de um conhecido nas redes sociais. Praticamente enxerguei minha versão mais jovem naquela postagem que enaltecia o suposto conhecimento do autor.
Como domesticar a vaidade? Essa característica só aflora quando estamos cercados de pessoas. Por isso, a saída para voltar ao planeta Terra seja ficar sozinho por um tempo. Como disse o escritor Thomas Wolfe (não confundir com Tom Wolfe, criador de “A Fogueira das Vaidades”), “a forma mais certa para acabar com a vaidade é a solidão”.
Por isso, se o salto estiver alto demais, desligue o celular e o computador. Passe uma hora sozinho – somente você e seus pensamentos. Dúvidas fatalmente vão surgir em sua cabeça e outras preocupações vão preencher a mente. Para arrematar, leia algo da lavra de alguém que você admire (no meu caso, funciona com Tom Wolfe, Gay Talese e Elio Gaspari). Garanto que uma boa parte de sua humildade irá voltar quase que imediatamente.