Exame Logo

Qual é o principal inimigo de Zema? A própria língua

O governador mineiro está entrando em seu quinto ano de mandato. Mas, em muitos momentos, age como um noviço em política

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Marcos Corrêa/PR/Flickr)

Publicado em 8 de agosto de 2023 às 12h09.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, deu uma entrevista no final de semana para o jornal “O Estado de S. Paulo”. Durante a conversa, disse algo que foi multiplicado pelas redes sociais e se tornou uma celeuma até agora: Zema teria proposto uma união das regiões Sul e Sudeste contra o Nordeste.

Bem, o governador não disse exatamente isso. Mas, como estamos na era da desinformação, um título jornalístico mais sensacionalista acaba viralizando e ninguém se dá ao trabalho de ler a fonte de toda a confusão. O fato é que Zema não conclamou sulistas e sudestinos a confrontar nordestinos. O que ele disse é que, na votação de questões nacionais, os governadores do Nordeste se unem e atuam conjuntamente com seus parlamentares para aprovar aquilo que será bom para as suas regiões. O mesmo não acontece com os políticos do Sul e do Sudeste – e essas regiões acabam sendo prejudicadas em determinadas votações.

Zema utilizou como exemplo um projeto que distribuiria recursos federais para o Nordeste e que deve entrar em votação no Congresso, sem contribuir nada com as regiões que ficam na parte de baixo de nosso mapa. “E o Sul e o Sudeste, não têm pobreza?”, questionou o governador, que ressaltou o fato de que a maior parte da arrecadação vem justamente destes membros da Federação. “O que nós queremos é que o Brasil pare de avançar no sentido que avançou nos últimos anos – que é necessário, mas tem um limite – de só julgar que o Sul e o Sudeste são ricos e só eles têm que contribuir sem poder receber nada”.

Ou seja, o político mineiro não disse que Sul e Sudeste deveriam se unir contra o Nordeste, mas sim seguir o exemplo dos nordestinos e defender seus interesses. Nada demais. Só que a frase foi colocada fora de contexto e gerou polêmica.

O governador mineiro está entrando em seu quinto ano de mandato. Mas, em muitos momentos, age como um noviço em política. Durante a campanha de 2021, por exemplo, ele deu uma entrevista a MONEY REPORT e, perguntado sobre sua relação com o ex-presidente do Partido Novo, disse o seguinte: ““Está havendo, assim, uma obsessão [de Amoêdo]. E quando alguém fica obcecado, fica cego. Como exemplo, eu sei que isso acontece tanto com homens quanto com mulheres, mas, um percentual mais elevado com mulheres: é a mulher que separa e passa a ser a obsessão da vida dela destruir, atacar o ex-cônjuge”.

Foi o suficiente para que Zema fosse atacado por muita gente, em uma dinâmica muito parecida com a desta semana. Ele, no entanto, é um governador bem avaliado e vem fazendo uma gestão elogiada até por adversários. Seria, então, o caso de perguntar: o principal inimigo de Zema é a própria língua?

O governador não é nenhuma criança: tem 58 anos. Possui, portanto, maturidade suficiente para medir as palavras e não entrar em assuntos que podem trazer prejuízos eleitorais. Mas, aparentemente, ele ainda não desenvolveu o expediente de discutir previamente com sua equipe os temas que deve privilegiar nas entrevistas. Não é preciso ser um gênio da comunicação social para prever que esse tipo de declaração sobre Sul, Sudeste e Nordeste tem tudo para ser mal interpretada e criar antipatia em parte do eleitorado.

Mas, em política, é possível mirar naquilo que se vê, e acertar o que não se enxerga. Zema chamou a atenção para algo que tem mais a ver com a mecânica dos votos do Congresso e acabou sendo visto como um político preconceituoso. Com isso, chamou a atenção dos extremistas, que também destilam preconceito contra o Nordeste.

Caso seja mesmo candidato à presidência, Zema terá de se explicar novamente sobre a declaração do final de semana. Especialmente porque o Nordeste desempenha um papel importantíssimo em um pleito nacional. A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva mostrou que é possível obter um triunfo mesmo sendo derrotado nas regiões que concentram 56 % da população, justamente o Sul e o Sudeste.

Qual é o segredo?

É justamente perder por pouco entre os eleitores sulistas e sudestinos e vencer por uma margem enorme no Nordeste. Na soma dessas duas variáveis, Lula ganhou por pouco, mas ganhou. Zema, se quiser disputar o Planalto, vai precisar de uma performance no Nordeste melhor que a de Jair Bolsonaro em 2022.

Vamos ver se, daqui para a frente, o governador coloca um freio em sua própria língua – um de seus maiores pontos fracos.

Veja também

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, deu uma entrevista no final de semana para o jornal “O Estado de S. Paulo”. Durante a conversa, disse algo que foi multiplicado pelas redes sociais e se tornou uma celeuma até agora: Zema teria proposto uma união das regiões Sul e Sudeste contra o Nordeste.

Bem, o governador não disse exatamente isso. Mas, como estamos na era da desinformação, um título jornalístico mais sensacionalista acaba viralizando e ninguém se dá ao trabalho de ler a fonte de toda a confusão. O fato é que Zema não conclamou sulistas e sudestinos a confrontar nordestinos. O que ele disse é que, na votação de questões nacionais, os governadores do Nordeste se unem e atuam conjuntamente com seus parlamentares para aprovar aquilo que será bom para as suas regiões. O mesmo não acontece com os políticos do Sul e do Sudeste – e essas regiões acabam sendo prejudicadas em determinadas votações.

Zema utilizou como exemplo um projeto que distribuiria recursos federais para o Nordeste e que deve entrar em votação no Congresso, sem contribuir nada com as regiões que ficam na parte de baixo de nosso mapa. “E o Sul e o Sudeste, não têm pobreza?”, questionou o governador, que ressaltou o fato de que a maior parte da arrecadação vem justamente destes membros da Federação. “O que nós queremos é que o Brasil pare de avançar no sentido que avançou nos últimos anos – que é necessário, mas tem um limite – de só julgar que o Sul e o Sudeste são ricos e só eles têm que contribuir sem poder receber nada”.

Ou seja, o político mineiro não disse que Sul e Sudeste deveriam se unir contra o Nordeste, mas sim seguir o exemplo dos nordestinos e defender seus interesses. Nada demais. Só que a frase foi colocada fora de contexto e gerou polêmica.

O governador mineiro está entrando em seu quinto ano de mandato. Mas, em muitos momentos, age como um noviço em política. Durante a campanha de 2021, por exemplo, ele deu uma entrevista a MONEY REPORT e, perguntado sobre sua relação com o ex-presidente do Partido Novo, disse o seguinte: ““Está havendo, assim, uma obsessão [de Amoêdo]. E quando alguém fica obcecado, fica cego. Como exemplo, eu sei que isso acontece tanto com homens quanto com mulheres, mas, um percentual mais elevado com mulheres: é a mulher que separa e passa a ser a obsessão da vida dela destruir, atacar o ex-cônjuge”.

Foi o suficiente para que Zema fosse atacado por muita gente, em uma dinâmica muito parecida com a desta semana. Ele, no entanto, é um governador bem avaliado e vem fazendo uma gestão elogiada até por adversários. Seria, então, o caso de perguntar: o principal inimigo de Zema é a própria língua?

O governador não é nenhuma criança: tem 58 anos. Possui, portanto, maturidade suficiente para medir as palavras e não entrar em assuntos que podem trazer prejuízos eleitorais. Mas, aparentemente, ele ainda não desenvolveu o expediente de discutir previamente com sua equipe os temas que deve privilegiar nas entrevistas. Não é preciso ser um gênio da comunicação social para prever que esse tipo de declaração sobre Sul, Sudeste e Nordeste tem tudo para ser mal interpretada e criar antipatia em parte do eleitorado.

Mas, em política, é possível mirar naquilo que se vê, e acertar o que não se enxerga. Zema chamou a atenção para algo que tem mais a ver com a mecânica dos votos do Congresso e acabou sendo visto como um político preconceituoso. Com isso, chamou a atenção dos extremistas, que também destilam preconceito contra o Nordeste.

Caso seja mesmo candidato à presidência, Zema terá de se explicar novamente sobre a declaração do final de semana. Especialmente porque o Nordeste desempenha um papel importantíssimo em um pleito nacional. A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva mostrou que é possível obter um triunfo mesmo sendo derrotado nas regiões que concentram 56 % da população, justamente o Sul e o Sudeste.

Qual é o segredo?

É justamente perder por pouco entre os eleitores sulistas e sudestinos e vencer por uma margem enorme no Nordeste. Na soma dessas duas variáveis, Lula ganhou por pouco, mas ganhou. Zema, se quiser disputar o Planalto, vai precisar de uma performance no Nordeste melhor que a de Jair Bolsonaro em 2022.

Vamos ver se, daqui para a frente, o governador coloca um freio em sua própria língua – um de seus maiores pontos fracos.

Acompanhe tudo sobre:Romeu ZemaPolíticos brasileiros

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se