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Qual é o poder das fake news na reta final de campanha?

Esperava-se uma torrente de fake news nessa reta final de campanha – e, de fato, os dois antagonistas do 2º turno estão caprichando neste quesito

Biometria de voz (Getty Images/Getty Images)
Biometria de voz (Getty Images/Getty Images)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 25 de outubro de 2022 às, 11h03.

Esperava-se uma torrente de fake news nessa reta final de campanha eleitoral – e, de fato, os dois antagonistas do segundo turno estão caprichando para receber um Oscar neste quesito. O Partido dos Trabalhadores era crítico dessa prática. Mas, desde que o deputado André Janones começou a pilotar suas redes sociais, o PT enfiou o pé na jaca das notícias falsas. Já associou, por exemplo, o presidente Jair Bolsonaro ao canibalismo, ao satanismo e, em um movimento condenado pelo Superior Tribunal Eleitoral, à pedofilia.

Bolsonaro, por sua vez, não ficou atrás – e nem precisou usar redes sociais para espalhar inverdades. Ontem, por exemplo, disse em um comício que os petistas, em caso de vitória, vão proibir que filhos recebam a herança dos pais, passando os bens da família para o Estado. Essa pretensa diretriz não se encontra em nenhum documento do partido ou foi ventilada durante os 14 anos em que Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff governaram o país. A chance de um confisco de bens ocorrer sob uma eventual administração Lula? Zero.

As pesquisas mostram, ultimamente, números bastante parelhos, sugerindo que a eleição será decidida por uma margem muito estreita. Neste cenário, é natural que os coordenadores de campanha fiquem pilhados e passem para frente qualquer tipo de fakes. Neste ponto, especificamente, os bolsonaristas estão deixando os lulistas para trás. Recentemente, o Tribunal Superior Eleitoral concedeu ao PT 37 direitos de resposta baseados em fake news; ao PL, no entanto, o TSE só expediu 6 veiculações com o mesmo teor.

Os marqueteiros, assim, não querem desperdiçar uma só oportunidade para obter o voto dos indecisos, um universo estimado em 17 milhões de eleitores. Esse montante de votos é suficiente para decidir o jogo e poderia representar o céu ou o inferno para os candidatos. Diante disso, os dois lados estão partindo para um vale-tudo final.

Um exemplo ocorreu neste domingo. O senador Flavio Bolsonaro publicou uma fotografia do comentarista esportivo Casimiro Miguel segurando balões com o número 22, num suposto apoio ao pai do parlamentar. Só que a foto era uma manipulação de um instantâneo tirado no aniversário de Miguel, que mostrava infláveis com os números dois e nove, indicando que ele havia completado 29 anos (no dia 20).

O comentarista ficou bravo e publicou um desmentido no Tweeter. O resultado é que esse post se tornou o tuíte mais curtido da história da rede social no Brasil, atingindo a marca de um milhão de “likes” em menos de 24 horas. A título de comparação, o recorde anterior era do jogador Vinícius Júnior, quando fez uma publicação condenando a manifestação de racismo que sofrera durante uma partida de futebol.

Diante dessa troca de chumbo, a essa altura do campeonato, muitos eleitores simplesmente deixaram de acreditar nos posts que recebem, mesmo aqueles que são verdadeiros. No fundo, os fakes se transformaram em figurinhas que são trocadas entre os eleitores que já decidiram seu voto.Ou seja, há eleitores que simplesmente não acreditam em mais nada – incluindo a verdade.