Qual é o limite para um bilionário?
Bilionários perseguem objetivos que nada têm a ver com suas empresas. Neste caso, se voltam para a filantropia ou projetos que podem beneficiar a humanidade
Da Redação
Publicado em 31 de janeiro de 2022 às 11h09.
Aluizio Falcão Filho
Li ontem no Washington Post um perfil sobre o bilionário Leon Cooperman. Dono de uma fortuna que supera a marca de US$ 2,5 bilhões, ele ficou rico no mercado de ações, administrando fundos de investimento . Diariamente, confere com seus operadores como está sua carteira. No dia em que a reportagem do Post estava ao seu lado, ele ganhou US$ 10 milhões em algumas horas e esse montante deve ter aumentado até o final do pregão.
Cooperman leva uma vida relativamente modesta para o tamanho de sua conta bancária. Ele dirige, por exemplo, um Hyundai em vez de um Rolls Royce ou um Maybach – e prefere se deslocar de bicicleta para visitar seus amigos em Boca Ratón, onde mora. Mas vive em uma casa enorme, na qual o closet de sua mulher é maior que o apartamento onde passou sua infância, no Bronx, em Nova York. O bilionário doa somas consideráveis para 50 instituições – nos últimos meses, foram US$ 150 milhões para um hospital em Nova Jersey, US$ 40 milhões para a Universidade de Columbia e 15 milhões para bancos alimentares (organizações que distribuem comida aos mais necessitados), para ficar em alguns exemplos.
Apesar do perfil baixo e da atuação filantrópica, recebe muitos e-mails com ofensas de pessoas que nunca viu na vida. A motivação? Talvez o ódio pela riqueza alheia, algo que parece crescer nos Estados Unidos do século 21. Essa alta quantidade de mensagens raivosas é algo que ele tenta absorver racionalmente.
Aos 78 anos, Cooperman tem a pachorra de responder cada e-mail exaltado que recebe, sempre ponderando que o interlocutor não tem a menor ideia de quem ele seja. Mas não conta, nessas mensagens, que ele e a mulher decidiram doar 90% de sua fortuna. Em sua sala, há uma placa com uma frase de Andrew Carnegie: “Aquele que morre rico, morre em desgraça”. Em dinheiro de hoje, a fortuna de Carnegie acumulada até o início do Século 20 pode ser estimada em US$ 400 bilhões de dólares (quase o dobro do que possui Elon Musk, o homem mais rico do mundo).
Carnegie acreditava que os ricos tinham uma dívida com a sociedade que lhes gerou o enorme patrimônio. E essa dívida só poderia ser paga com atos de filantropia. Daqueles US$ 400 bilhões originais, 95% foram destinados a doações. Apenas 5% ficaram com seus parentes – cerca de US$ 20 bilhões em dinheiro atual, o suficiente para deixar a família Carnegie entre as 100 mais ricas dos Estados Unidos caso o seu testamento fosse lido em 2022.
O exemplo de Cooperman reflete o que motiva a entidade “Giving Pledge”, na qual os bilionários que a ela se associam se comprometem a doar pelo menos 50% de suas fortunas (no Brasil, o único a fazer parte deste clube é Elie Horn, fundador da Cyrela). É o mesmo espírito da filosofia de vida adotada por Carnegie. Ele tinha certeza de que não iria desfrutar de seus bilhões sete palmos abaixo da terra – e provavelmente imaginou que tanto dinheiro assim não iria fazer bem para seus herdeiros.
O constante enriquecimento daqueles que já são podres de ricos nos faz pensar: quanto dinheiro parece ser suficiente? Aparentemente, não há um limite para isso. Mas, entre os bilionários, percebe-se que o tamanho da conta bancária, depois de um certo tempo, deixa de ser algo importante. Para Cooperman, que enriqueceu administrando carteiras de ativos mobiliários, sua vida passou a fazer mais sentido quando ele abraçou a filantropia e se programou para deixar apenas um décimo de seu patrimônio para filhos e netos.
Bill Gates (imagem) resolveu se dedicar ao Terceiro Setor e tentar resolver problemas vilipendiados pelos governos, como a falta de água potável na África. Elon Musk e Jeff Bezos resolveram explorar o espaço sideral. Larry Page está investindo em infraestrutura. Parece existir um padrão aqui: muitos bilionários começam a perseguir objetivos que nada têm a ver com suas empresas de origem. E, neste caso, se voltam para a filantropia ou projetos que podem beneficiar a humanidade.
Evidentemente, há endinheirados que só se preocupam em acumular riqueza e não têm interesse em melhorar o planeta. Mas é reconfortante saber que existem bilionários que deixaram apenas de contar o vil metal e passaram a buscar um futuro melhor. Provavelmente esses homens e mulheres estejam procurando a melhor forma de imortalidade, o legado perene. Fazer aquilo que pregava Benjamin Franklin – não à toa, alguém que é lembrado até os dias de hoje, quase 232 anos após sua morte. Ele dizia: “Se você não quer ser esquecido, escreva algo que valha a pena ser lido ou faça alguma coisa que mereça ser escrita”.
Aluizio Falcão Filho
Li ontem no Washington Post um perfil sobre o bilionário Leon Cooperman. Dono de uma fortuna que supera a marca de US$ 2,5 bilhões, ele ficou rico no mercado de ações, administrando fundos de investimento . Diariamente, confere com seus operadores como está sua carteira. No dia em que a reportagem do Post estava ao seu lado, ele ganhou US$ 10 milhões em algumas horas e esse montante deve ter aumentado até o final do pregão.
Cooperman leva uma vida relativamente modesta para o tamanho de sua conta bancária. Ele dirige, por exemplo, um Hyundai em vez de um Rolls Royce ou um Maybach – e prefere se deslocar de bicicleta para visitar seus amigos em Boca Ratón, onde mora. Mas vive em uma casa enorme, na qual o closet de sua mulher é maior que o apartamento onde passou sua infância, no Bronx, em Nova York. O bilionário doa somas consideráveis para 50 instituições – nos últimos meses, foram US$ 150 milhões para um hospital em Nova Jersey, US$ 40 milhões para a Universidade de Columbia e 15 milhões para bancos alimentares (organizações que distribuem comida aos mais necessitados), para ficar em alguns exemplos.
Apesar do perfil baixo e da atuação filantrópica, recebe muitos e-mails com ofensas de pessoas que nunca viu na vida. A motivação? Talvez o ódio pela riqueza alheia, algo que parece crescer nos Estados Unidos do século 21. Essa alta quantidade de mensagens raivosas é algo que ele tenta absorver racionalmente.
Aos 78 anos, Cooperman tem a pachorra de responder cada e-mail exaltado que recebe, sempre ponderando que o interlocutor não tem a menor ideia de quem ele seja. Mas não conta, nessas mensagens, que ele e a mulher decidiram doar 90% de sua fortuna. Em sua sala, há uma placa com uma frase de Andrew Carnegie: “Aquele que morre rico, morre em desgraça”. Em dinheiro de hoje, a fortuna de Carnegie acumulada até o início do Século 20 pode ser estimada em US$ 400 bilhões de dólares (quase o dobro do que possui Elon Musk, o homem mais rico do mundo).
Carnegie acreditava que os ricos tinham uma dívida com a sociedade que lhes gerou o enorme patrimônio. E essa dívida só poderia ser paga com atos de filantropia. Daqueles US$ 400 bilhões originais, 95% foram destinados a doações. Apenas 5% ficaram com seus parentes – cerca de US$ 20 bilhões em dinheiro atual, o suficiente para deixar a família Carnegie entre as 100 mais ricas dos Estados Unidos caso o seu testamento fosse lido em 2022.
O exemplo de Cooperman reflete o que motiva a entidade “Giving Pledge”, na qual os bilionários que a ela se associam se comprometem a doar pelo menos 50% de suas fortunas (no Brasil, o único a fazer parte deste clube é Elie Horn, fundador da Cyrela). É o mesmo espírito da filosofia de vida adotada por Carnegie. Ele tinha certeza de que não iria desfrutar de seus bilhões sete palmos abaixo da terra – e provavelmente imaginou que tanto dinheiro assim não iria fazer bem para seus herdeiros.
O constante enriquecimento daqueles que já são podres de ricos nos faz pensar: quanto dinheiro parece ser suficiente? Aparentemente, não há um limite para isso. Mas, entre os bilionários, percebe-se que o tamanho da conta bancária, depois de um certo tempo, deixa de ser algo importante. Para Cooperman, que enriqueceu administrando carteiras de ativos mobiliários, sua vida passou a fazer mais sentido quando ele abraçou a filantropia e se programou para deixar apenas um décimo de seu patrimônio para filhos e netos.
Bill Gates (imagem) resolveu se dedicar ao Terceiro Setor e tentar resolver problemas vilipendiados pelos governos, como a falta de água potável na África. Elon Musk e Jeff Bezos resolveram explorar o espaço sideral. Larry Page está investindo em infraestrutura. Parece existir um padrão aqui: muitos bilionários começam a perseguir objetivos que nada têm a ver com suas empresas de origem. E, neste caso, se voltam para a filantropia ou projetos que podem beneficiar a humanidade.
Evidentemente, há endinheirados que só se preocupam em acumular riqueza e não têm interesse em melhorar o planeta. Mas é reconfortante saber que existem bilionários que deixaram apenas de contar o vil metal e passaram a buscar um futuro melhor. Provavelmente esses homens e mulheres estejam procurando a melhor forma de imortalidade, o legado perene. Fazer aquilo que pregava Benjamin Franklin – não à toa, alguém que é lembrado até os dias de hoje, quase 232 anos após sua morte. Ele dizia: “Se você não quer ser esquecido, escreva algo que valha a pena ser lido ou faça alguma coisa que mereça ser escrita”.