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Precisamos falar sobre os 38% que não querem Lula nem Bolsonaro

Ao menos uma característica une eleitores mais radicais de Lula e de Bolsonaro: intolerância e incapacidade de enxergar algo de bom no campo inimigo

Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. (Miguel Schincariol/Evaristo Sá/Getty Images)
Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. (Miguel Schincariol/Evaristo Sá/Getty Images)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 6 de abril de 2021 às, 08h11.

Pesquisa da revista EXAME no mês passado mostrou que 38 % dos brasileiros não querem votar em Luiz Inácio Lula da Silva ou em Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. Para esses eleitores, essa parece ser uma viagem sem volta. Eles não querem Lula por pelo menos dois motivos: acham que o modelo econômico do Partido dos Trabalhos, expresso na era Dilma Rousseff, está ultrapassado ou se decepcionaram com os escândalos de corrupção envolvendo o PT na história recente. Já Bolsonaro provoca um tipo diferente de rejeição – e muito tem a ver com seu estilo pessoal e suas ideias sobre a pandemia.

Lula perdeu credibilidade durante o Mensalão, mas conseguiu se reeleger. É por isso que acredita ser possível superar a crise de imagem que enfrenta desde o início da Operação Lava-Jato. A recente decisão do Supremo Tribunal Federal, de julgar o ex-juiz Sergio Moro suspeito no caso do Triplex do Guarujá, jogou o processo de volta à estaca zero – e, assim, o ex-presidente voltou a ser um político ficha limpa e apto a disputar eleições. Isso diminuirá o seu índice de rejeição? Até agora, não se observou isso. O desempenho do petista, no quesito da popularidade, vai depender muito de seu discurso daqui para frente. Mas o número de eleitores que afirmam não votar nele nem pitado de ouro é alto.

Quanto a Bolsonaro, a aposta para reduzir a rejeição passa por dois pontos: a vacinação e a volta do auxílio emergencial, embora menor do que o de antes. A partir de maio, o ministério da Saúde espera elevar em muito o fluxo de vacinação e deixar para trás a imagem negacionista do governo nos primeiros meses do ano. Ao lado disso, espera-se que a volta dos pagamentos públicos aos mais carentes possa refazer a imagem do presidente, especialmente nas regiões mais pobres do país.

O principal inimigo de Bolsonaro, no entanto, é sua própria língua. O presidente vive dando tiros no pé com declarações desnecessárias e alinhadas apenas com sua base mais próxima de aliados. Ele já ouviu isso de várias pessoas e, no início de seu acordo com o Centrão, ficou mais calado. Coincidência ou não, a popularidade do governo aumentou. Dentro deste processo no qual se avalia a popularidade de uma administração, há vários fatores que podem ser julgados. Mas há uma certeza: ninguém aguenta o estilo de brigar até com a própria sombra.

Há pelo menos uma característica que une os eleitores mais radicais de Lula e de Bolsonaro: a intolerância e a incapacidade de enxergar algo de bom realizado no campo inimigo. Para bolsonaristas, Lula é corrupto e ignorante. Para os lulistas, Bolsonaro é negacionista e antidemocrata.

Essa dicotomia gera índices altos de rejeição para ambos os lados. Mas os 38 % que não querem nenhum dos dois acabam turbinando os grandes percentuais de impopularidade. Se Lula e Bolsonaro, assim, estiverem no segundo turno em 2022, é esperada a maior abstenção de votos da história eleitoral brasileira. Neste caso, o resultado será totalmente imprevisível.

O fato de existir um grupo de quase 40 % de eleitores que rejeitam os dois principais candidatos não significa necessariamente que esses brasileiros vão votar maciçamente em um só nome. Eles podem se dispersar em várias candidaturas, diluindo o resultado final, e garantindo a presença de Lula e Bolsonaro na etapa final das eleições.

Os empresários já se articulam para encontrar um nome que possa aglutinar propostas de centro e ser um alternativa viável aos extremos. Mas, para conseguir emplacar um nome centrista, este candidato não pode ter um discurso morno.

Em 2018, todos viram o que pode acontecer com um político sem carisma e com um discurso equilibrado demais: Geraldo Alckmin, do PSDB, foi triturado pelos adversários. Outro exemplo com esse perfil foi o atual secretário da Fazenda do governo paulista, Henrique Meirelles. Teve menos votos que o folclórico Cabo Daciolo. O candidato certo para polarizar com Lula e Bolsonaro precisa ter carisma e discurso contundente. Caso contrário, terá um resultado pífio como foi o dos centristas no último pleito. Por enquanto, nenhum dos nomes que estão no tabuleiro político entusiasma e arrebata multidões. Mas ainda há tempo de sobra para se buscar um candidato novo. Será que esses 38 % de eleitores vão ter opções fortes para enfrentar Lula e Bolsonaro?

A resposta a essa pergunta, por enquanto, permanece indefinida. Qualquer outra reação não será fruto de uma análise imparcial – e sim de uma torcida descarada por um dos lados envolvidos na disputa.