Precisamos falar sobre a inflação
Um dos principais problemas atuais, no Brasil e no mundo, é a alta de preços — embora a espiral inflacionária tenha crescido aqui antes de ganhar o globo
Da Redação
Publicado em 27 de julho de 2022 às 08h09.
Por Aluizio Falcão Filho
O TikTok, ultimamente, anda me pregando peças. Primeiro, porque essa ferramenta deixou de ser um ambiente exclusivo de crianças e adolescentes – hoje, há vários adultos que trafegam galhardamente nessa rede. Outro motivo: muitos políticos passaram a usar o TikTok (Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva entre eles) para divulgar suas ideias. Mas, ontem, veio uma grande surpresa. Um grande amigo me passou pelo WhatsApp um vídeo do economista Milton Friedman que havia sido postado justamente nesta rede, que ficou conhecida mundialmente pelos posts curtos que privilegiavam passinhos de dança ou esquetes de humor.
Neste curto vídeo, Friedman diz: “Inflação é como alcoolismo. Nos dois casos, quando você começa a beber ou quando você começa a imprimir muito dinheiro, os bons efeitos surgem primeiro – e os maus efeitos só aparecem depois. É por isso que, em ambos os casos, há uma grande tentação de fazer isso exageradamente: beber demais e imprimir muito dinheiro. Quando falamos da cura, porém, é o contrário. Quando você para de beber ou para de imprimir dinheiro, o lado ruim aparece primeiro e os bons resultados apenas surgem depois”.
Um dos principais problemas da atualidade, no Brasil e no mundo, é justamente a alta de preços (embora a espiral inflacionária tenha crescido em terras brasileiras antes de ganhar o globo). E o remédio proposto por Friedman – amargo – dificilmente seria adotado em um ano de eleições presidenciais. Por conta deste pleito, inclusive, fizemos o contrário: abrimos os cofres públicos para alimentar programas sociais, com objetivos eleitoreiros.
O vencedor na corrida presidencial de 2022 terá de enfrentar um cenário econômico difícil, pois haverá uma bomba fiscal superior a R$ 40 bilhões a ser desarmada. Ou seja, estaremos ainda sofrendo os efeitos inflacionários e precisaremos combatê-los com armas tradicionais, que acabam provocando algum tipo de retração econômica.
O vídeo de Friedman foi gravado originalmente durante o governo de Jimmy Carter, nos Estados Unidos (1977-1980), que se notabilizou pela estagflação. Neste mesmo período, o economista lançou um livro, chamado "Livre para Escolher” (“Free to Choose”, publicado em 1979). Nesta obra, o vencedor do Prêmio Nobel fala sobre o caminho para resolver o difícil quadro econômico americano. No YouTube, há um vídeo interessante, que registra uma entrevista de Friedman ao jornalista Phil Donahue a respeito do lançamento do livro.
Perguntado sobre como resolver o nó que travava a economia americana, ele foi direto: “Não vamos resolver três décadas de economia mal administrada de um dia para o outro”, cutucou. “Mas há três medidas importantes que podemos tomar: cortar gastos do governo; adotar uma política monetária restritiva, com implementação gradual das novas taxas de juros; por fim, eliminar o máximo de entraves regulatórios à economia e deixar a livre iniciativa trabalhar”.
Tirando o corte de gastos públicos, que foi turbinado pelo orçamento militar, o governo de Ronald Reagan adotou a receita de Friedman e acabou colhendo bons resultados. Paul Volcker, presidente do Banco Central americano (indicado ainda por Carter), puxou as taxas para o alto em 1981, batendo a marca de 20 %. O aperto monetário resolveu a inflação americana (e quebrando quem devia em dólares – caso de países como o Brasil) e abriu caminho para um período de prosperidade.
Como uma solução dessas pode ser imaginada no próximo governo? Tanto Lula como Bolsonaro têm demostrado (o petista em suas falas; o presidente em suas medidas) uma queda perigosa para o populismo.
Desrespeitar as regras básicas da economia e tentar irrigar o mercado com dinheiro público, sem as devidas contrapartidas, é uma aposta arriscada. Hoje, as perspectivas inflacionárias para o ano que vem são preocupantes – qualquer que seja o presidente do Brasil. Se o nosso país insistir em adotar uma trilha heterodoxa, como fez a Argentina, teremos sérios problemas.
A inflação acumulada, de janeiro até junho, bateu os 64% na Terra do Tango, onde a taxa básica de juros está em 52%.
No Brasil, com o Banco Central independente, essa tragédia pode ser mitigada – mas não totalmente resolvida se o Tesouro estiver em situação de descontrole. Não se iluda: a inflação é um tema importantíssimo e precisa ser debatido junto aos candidatos. Um descontrole inflacionário trará resultados catastróficos para o Brasil, especialmente quando lembramos os sacrifícios que fizemos na década de 1990 para estabilizar nossa moeda. Não vamos jogar tudo isso fora. Precisamos falar sobre a inflação e pressionar os candidatos com maior chance de vitória para estabelecer um compromisso com a responsabilidade fiscal.
Por Aluizio Falcão Filho
O TikTok, ultimamente, anda me pregando peças. Primeiro, porque essa ferramenta deixou de ser um ambiente exclusivo de crianças e adolescentes – hoje, há vários adultos que trafegam galhardamente nessa rede. Outro motivo: muitos políticos passaram a usar o TikTok (Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva entre eles) para divulgar suas ideias. Mas, ontem, veio uma grande surpresa. Um grande amigo me passou pelo WhatsApp um vídeo do economista Milton Friedman que havia sido postado justamente nesta rede, que ficou conhecida mundialmente pelos posts curtos que privilegiavam passinhos de dança ou esquetes de humor.
Neste curto vídeo, Friedman diz: “Inflação é como alcoolismo. Nos dois casos, quando você começa a beber ou quando você começa a imprimir muito dinheiro, os bons efeitos surgem primeiro – e os maus efeitos só aparecem depois. É por isso que, em ambos os casos, há uma grande tentação de fazer isso exageradamente: beber demais e imprimir muito dinheiro. Quando falamos da cura, porém, é o contrário. Quando você para de beber ou para de imprimir dinheiro, o lado ruim aparece primeiro e os bons resultados apenas surgem depois”.
Um dos principais problemas da atualidade, no Brasil e no mundo, é justamente a alta de preços (embora a espiral inflacionária tenha crescido em terras brasileiras antes de ganhar o globo). E o remédio proposto por Friedman – amargo – dificilmente seria adotado em um ano de eleições presidenciais. Por conta deste pleito, inclusive, fizemos o contrário: abrimos os cofres públicos para alimentar programas sociais, com objetivos eleitoreiros.
O vencedor na corrida presidencial de 2022 terá de enfrentar um cenário econômico difícil, pois haverá uma bomba fiscal superior a R$ 40 bilhões a ser desarmada. Ou seja, estaremos ainda sofrendo os efeitos inflacionários e precisaremos combatê-los com armas tradicionais, que acabam provocando algum tipo de retração econômica.
O vídeo de Friedman foi gravado originalmente durante o governo de Jimmy Carter, nos Estados Unidos (1977-1980), que se notabilizou pela estagflação. Neste mesmo período, o economista lançou um livro, chamado "Livre para Escolher” (“Free to Choose”, publicado em 1979). Nesta obra, o vencedor do Prêmio Nobel fala sobre o caminho para resolver o difícil quadro econômico americano. No YouTube, há um vídeo interessante, que registra uma entrevista de Friedman ao jornalista Phil Donahue a respeito do lançamento do livro.
Perguntado sobre como resolver o nó que travava a economia americana, ele foi direto: “Não vamos resolver três décadas de economia mal administrada de um dia para o outro”, cutucou. “Mas há três medidas importantes que podemos tomar: cortar gastos do governo; adotar uma política monetária restritiva, com implementação gradual das novas taxas de juros; por fim, eliminar o máximo de entraves regulatórios à economia e deixar a livre iniciativa trabalhar”.
Tirando o corte de gastos públicos, que foi turbinado pelo orçamento militar, o governo de Ronald Reagan adotou a receita de Friedman e acabou colhendo bons resultados. Paul Volcker, presidente do Banco Central americano (indicado ainda por Carter), puxou as taxas para o alto em 1981, batendo a marca de 20 %. O aperto monetário resolveu a inflação americana (e quebrando quem devia em dólares – caso de países como o Brasil) e abriu caminho para um período de prosperidade.
Como uma solução dessas pode ser imaginada no próximo governo? Tanto Lula como Bolsonaro têm demostrado (o petista em suas falas; o presidente em suas medidas) uma queda perigosa para o populismo.
Desrespeitar as regras básicas da economia e tentar irrigar o mercado com dinheiro público, sem as devidas contrapartidas, é uma aposta arriscada. Hoje, as perspectivas inflacionárias para o ano que vem são preocupantes – qualquer que seja o presidente do Brasil. Se o nosso país insistir em adotar uma trilha heterodoxa, como fez a Argentina, teremos sérios problemas.
A inflação acumulada, de janeiro até junho, bateu os 64% na Terra do Tango, onde a taxa básica de juros está em 52%.
No Brasil, com o Banco Central independente, essa tragédia pode ser mitigada – mas não totalmente resolvida se o Tesouro estiver em situação de descontrole. Não se iluda: a inflação é um tema importantíssimo e precisa ser debatido junto aos candidatos. Um descontrole inflacionário trará resultados catastróficos para o Brasil, especialmente quando lembramos os sacrifícios que fizemos na década de 1990 para estabilizar nossa moeda. Não vamos jogar tudo isso fora. Precisamos falar sobre a inflação e pressionar os candidatos com maior chance de vitória para estabelecer um compromisso com a responsabilidade fiscal.