Por que temos diferenças entre as pesquisas eleitorais?
Dependendo do sistema utilizado, os resultados podem variar; entenda
Da Redação
Publicado em 22 de junho de 2022 às 14h01.
Os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro costumam repetir, muitas vezes à exaustão, que as pesquisas eleitorais – nas quais há uma liderança folgada de Luiz Inácio Lula da Silva – são fajutas e divulgadas com o único propósito de ajudar o candidato do PT. Trata-se de um tema que, entre este mesmo grupo de eleitores, tem tanta importância quanto discutir se as urnas eletrônicas são confiáveis ou não.
Ontem, conversando com a cientista política Cila Schulman, do Instituto IDEIA Big Data, pude aprofundar um pouco mais a metodologia destes estudos e explorar um pouco as razões pelas quais há diferenças no resultado de uma sondagem e outra.
A primeira característica que pode interferir no resultado das enquetes é a forma pela qual o questionário é aplicado. Assim, uma pesquisa presencial pode apontar números diferentes de outra, feita pelo telefone. Além disso, há duas formas de se entrevistar eleitores pelo método telefônico: através de um programa (“disque um para votar em fulano, dois para sicrano” e por aí vai) ou de um entrevistador remoto. Dessa forma, dependendo do sistema utilizado, os resultados podem variar – sempre no que diz respeito às escolhas estimuladas.Nas entrevistas presenciais, um cartão é apresentado ao eleitor, que então escolhe uma candidatura. No caso do telefone, os nomes podem ser listados pela voz de um robô ou através de uma pessoa – e isso também pode interferir na obtenção de dados.
As entrevistas presenciais podem padecer de um mal: a dificuldade de se encontrar eleitores da classe A, que não circulam tanto a pé pelas cidades. Essa seria a razão, portanto, que as pesquisas do Datafolha apresentam Lula alguns pontos acima dos resultados obtidos pelas enquetes de outros institutos.Por outro lado, as sondagens telefônicas podem apresentar escassez de entrevistados de classe D e E. Com isso, os eleitores de classe mais alta podem aparecer em maior número e eventualmente inflar os números de Bolsonaro.
Ainda existem metodologias diferentes na ponderação demográfica dos eleitores, uma vez que o último censo foi realizado em 2010. De acordo com este censo, por exemplo, há 25 % de evangélicos no Brasil. Já a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), também do IBGE e realizada em 2015, aponta que 30 % dos brasileiros são cristãos que não seguem a Igreja Católica. Esses cinco pontos percentuais podem gerar diferenças na hora de analisar os dados gerados pelas pesquisas.
Para Cila, a pesquisa espontânea pode refletir melhor as intenções de voto, pois as respostas independem da posição que um determinado nome está no cartão apresentado aos entrevistados ou que é dito ao telefone. Não há margem para nenhum tipo de manipulação. O pesquisador pergunta apenas o nome do candidato no qual o eleitor vai votar.
Nos últimos meses, pudemos também assistir um fenômeno instigante – o pêndulo eleitoral. Uma pesquisa, por exemplo, mostra o crescimento de Lula. Isso provoca a reação dos anti-petistas, que resolvem aderir à candidatura de Bolsonaro, mudando de voto ou deixando a indecisão para trás. No mês seguinte, assim, os números do presidente melhoram. Isso, porém, provoca um efeito semelhante no outro lado do campo eleitoral – e estimula, entre aqueles que não suportam Bolsonaro, uma nova onda de eleitores de Lula.
Nas últimas enquetes, houve justamente o crescimento do ex-presidente. Daqui para frente, segundo essa tese, seria o momento de Bolsonaro voltar a crescer. Essas oscilações refletem que o voto útil deverá ser praticado ainda no primeiro turno, como reflexo da polarização.
E polarização deverá ficar entre nós por muito tempo. As projeções dos institutos mostram que as bancadas do PT e de seguidores do presidente Bolsonaro devem crescer no próximo pleito. Dessa forma, não importa quem seja o próximo inquilino do Palácio do Planalto – haverá uma oposição barulhenta pronta para criar obstáculos ao próximo governo desde o primeiro dia da nova legislatura. Assim, o jogo político, a partir de 2023, será bastante apimentado. Quem vai botar panos quentes e liderar o processo? Para variar, o Centrão, que continuará a mandar no Brasil. Não importa quem seja o presidente.
Os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro costumam repetir, muitas vezes à exaustão, que as pesquisas eleitorais – nas quais há uma liderança folgada de Luiz Inácio Lula da Silva – são fajutas e divulgadas com o único propósito de ajudar o candidato do PT. Trata-se de um tema que, entre este mesmo grupo de eleitores, tem tanta importância quanto discutir se as urnas eletrônicas são confiáveis ou não.
Ontem, conversando com a cientista política Cila Schulman, do Instituto IDEIA Big Data, pude aprofundar um pouco mais a metodologia destes estudos e explorar um pouco as razões pelas quais há diferenças no resultado de uma sondagem e outra.
A primeira característica que pode interferir no resultado das enquetes é a forma pela qual o questionário é aplicado. Assim, uma pesquisa presencial pode apontar números diferentes de outra, feita pelo telefone. Além disso, há duas formas de se entrevistar eleitores pelo método telefônico: através de um programa (“disque um para votar em fulano, dois para sicrano” e por aí vai) ou de um entrevistador remoto. Dessa forma, dependendo do sistema utilizado, os resultados podem variar – sempre no que diz respeito às escolhas estimuladas.Nas entrevistas presenciais, um cartão é apresentado ao eleitor, que então escolhe uma candidatura. No caso do telefone, os nomes podem ser listados pela voz de um robô ou através de uma pessoa – e isso também pode interferir na obtenção de dados.
As entrevistas presenciais podem padecer de um mal: a dificuldade de se encontrar eleitores da classe A, que não circulam tanto a pé pelas cidades. Essa seria a razão, portanto, que as pesquisas do Datafolha apresentam Lula alguns pontos acima dos resultados obtidos pelas enquetes de outros institutos.Por outro lado, as sondagens telefônicas podem apresentar escassez de entrevistados de classe D e E. Com isso, os eleitores de classe mais alta podem aparecer em maior número e eventualmente inflar os números de Bolsonaro.
Ainda existem metodologias diferentes na ponderação demográfica dos eleitores, uma vez que o último censo foi realizado em 2010. De acordo com este censo, por exemplo, há 25 % de evangélicos no Brasil. Já a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), também do IBGE e realizada em 2015, aponta que 30 % dos brasileiros são cristãos que não seguem a Igreja Católica. Esses cinco pontos percentuais podem gerar diferenças na hora de analisar os dados gerados pelas pesquisas.
Para Cila, a pesquisa espontânea pode refletir melhor as intenções de voto, pois as respostas independem da posição que um determinado nome está no cartão apresentado aos entrevistados ou que é dito ao telefone. Não há margem para nenhum tipo de manipulação. O pesquisador pergunta apenas o nome do candidato no qual o eleitor vai votar.
Nos últimos meses, pudemos também assistir um fenômeno instigante – o pêndulo eleitoral. Uma pesquisa, por exemplo, mostra o crescimento de Lula. Isso provoca a reação dos anti-petistas, que resolvem aderir à candidatura de Bolsonaro, mudando de voto ou deixando a indecisão para trás. No mês seguinte, assim, os números do presidente melhoram. Isso, porém, provoca um efeito semelhante no outro lado do campo eleitoral – e estimula, entre aqueles que não suportam Bolsonaro, uma nova onda de eleitores de Lula.
Nas últimas enquetes, houve justamente o crescimento do ex-presidente. Daqui para frente, segundo essa tese, seria o momento de Bolsonaro voltar a crescer. Essas oscilações refletem que o voto útil deverá ser praticado ainda no primeiro turno, como reflexo da polarização.
E polarização deverá ficar entre nós por muito tempo. As projeções dos institutos mostram que as bancadas do PT e de seguidores do presidente Bolsonaro devem crescer no próximo pleito. Dessa forma, não importa quem seja o próximo inquilino do Palácio do Planalto – haverá uma oposição barulhenta pronta para criar obstáculos ao próximo governo desde o primeiro dia da nova legislatura. Assim, o jogo político, a partir de 2023, será bastante apimentado. Quem vai botar panos quentes e liderar o processo? Para variar, o Centrão, que continuará a mandar no Brasil. Não importa quem seja o presidente.